São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Principal casa de shows alternativos de SP completa seis anos vendendo lanche de soja e boicotando os EUA

Hangar 110, 6

Divulgação
Ray Cappo, vocalista do politicamente correto Shelter, em show de 2000


ANA PAULA DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O "parabéns para você" bem que poderia ser tocado em ritmo de hardcore, punk ou ska na festa de aniversário do Hangar 110, que é parada obrigatória de músicos independentes -ou nem tanto-, sejam eles nacionais ou "importados": já foram quase 800 bandas que estrelaram o palco e, muitas delas, mais de uma vez.
Na festança comemorativa à principal casa de shows de São Paulo que dá abertura ao rock alternativo, os convivas apagarão meia dúzia de velas ao som do Kiss Cover, na próxima quinta -casa alternativa é isso: tem espaço até para bandas que imitam outras.
Com capacidade para 600 pessoas, o lugar sempre fica pequeno diante de shows como Stiff Little Fingers, Brujeria, Shelter, Voodoo Glow Skulls, Down by Law e Lag Wagon, entre tantas as bandas internacionais que fazem do Hangar rota obrigatória na agenda de shows da turnê. Mas não são só os gringos que lotam a casa. Bandas como Dead Fish, CPM 22, Nitrominds, Garage Fuzz, Street Bulldogs e Hateen, por exemplo, não deixam nada a dever.
E ser brasileiro conta a favor para quem vai ao Hangar em dia de casa lotada. Coitados dos rapazes do No Fun at All, que, em 2001, recém-saídos do inverno sueco, embarcaram em uma turnê brasileira em pleno verão. De tão quente -e tão lotado- que estava, eles encurtaram o show, mas, antes, pediram até para abrir as janelas, pois não suportaram o calor infernal que fazia lá dentro. Tadinhos, lá não há janelas e, fora o sistema de refrigeração, alguns ventiladores tentam amenizar o sufoco. Mas punk que é punk agüenta tudo, certo?
Nem sempre. Marco Badin, 41, dono e idealizador do Hangar 110, guarda mentalmente as efemérides dos shows e também suas curiosidades. Já pegou Mark Ramone (ex-baterista dos Ramones) tirando uma soneca, na cara dura, no camarim.
Após um ano escolhendo um local para realizar seu sonho (viver de rock), Badin encontrou um galpão, que, à primeira vista, não foi lá muito de seu agrado. "Mas já estava cansado de procurar. Como era próximo ao metrô [Armênia], encarei." Isso porque sua preocupação é fazer com que a galera consiga voltar para casa a tempo de ainda pegar metrô e ônibus.
Já para quem achou que o boicote a produtos americanos após a invasão do Iraque já estava morto de velho, o Hangar 110 mostra que punk tem palavra: até hoje, só refrigerantes nacionais. Aliás, quem é vegetariano se dá bem no bar, cujo protagonista -ao lado da cerveja, é claro- é o lanche de carne de soja, por R$ 1. Um arraso. Casa de show alternativo é isso aí.


HANGAR 110. - http://www.hangar110.com.br/ Onde: r. Rodolfo Miranda, 110, Bom Retiro, SP; tel. 0/xx/11/3229-7442.

Texto Anterior: Vida na cidade: Um mundo à parte?
Próximo Texto: Tudo de bom - Tarde da noite nas Ilhas: Later... Cool Britannia
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.