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FOLHATEEN EXPLICA
Conflito teve invasão de prédios públicos e bloqueio de estradas
Índios e agricultores protestam contra demarcação de terras
ALESSANDRA KORMANN
DA AGÊNCIA FOLHA
O caos que se instalou em Roraima na semana passada, com invasão de prédios públicos e bloqueio das estradas que dão acesso a
Boa Vista, a capital do Estado, foi motivado
por uma polêmica sobre a homologação de
uma terra indígena. A área tem 1,75 milhão de
hectares, equivalente a quase 12 vezes o território da cidade de São Paulo.
Na área, vivem 19 mil pessoas, sendo 7.000
não-índios, segundo o Censo 2000. Os índios
são das etnias macuxi, taurepague, wapixana,
ingaricó e patamona.
A demarcação da reserva Raposa/Serra do
Sol começou a ser discutida pela Funai (Fundação Nacional do Índio) em 1977.
Em 1993, a reserva foi identificada como
área indígena pela Funai. Na época, já havia
cidades construídas no local. Em 1998, a área
foi demarcada pelo governo como contínua,
ou seja, incluindo as cidades que existiam ali.
A homologação da terra indígena ainda precisa ser assinada pelo presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. Se a terra for homologada como
contínua, os fazendeiros (na maioria, plantadores de arroz) terão de sair.
Os índios estão divididos: os que são contrários à homologação contínua temem que,
com a medida, as próprias comunidades indígenas que fazem parte da reserva sofram um
isolamento. Para outra parte dos índios, favorável à medida, o isolamento não ocorrerá e
será possível uma adaptação às mudanças.
Na terça-feira da semana passada, manifestantes interromperam o trânsito nas rodovias
que ligam Boa Vista às fronteiras com Guiana
e Venezuela e a Manaus. A capital ficou isolada, e começou a faltar combustível. Não faltaram alimentos porque, como Boa Vista fica
longe de tudo, os supermercados fazem compras grandes, com estoques para 15 dias.
No mesmo dia, um grupo de 200 índios invadiu o prédio da Funai e produtores de arroz
ocuparam o prédio do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Dois
padres e um missionário foram feitos reféns
por dois dias dentro da reserva.
Os protestos começaram porque, 15 dias
antes, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz
Bastos, havia afirmado que a homologação da
reserva indígena seria feita ainda neste mês.
O governador Flamarion Portela, que se
afastou do PT e está sendo acusado de envolvimento no "escândalo dos gafanhotos", que
desviou dinheiro da folha de pagamentos do
Estado, defende a homologação descontínua.
Grande parte da população de Roraima
também apóia essa proposta. Nas ruas de Boa
Vista, na semana passada, carros e táxis circulavam com as inscrições "Xô Funai", "Fora
ONGs" e "100% Roraima".
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