São Paulo, segunda-feira, 12 de janeiro de 2004

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FOLHATEEN EXPLICA

Conflito teve invasão de prédios públicos e bloqueio de estradas

Índios e agricultores protestam contra demarcação de terras

ALESSANDRA KORMANN
DA AGÊNCIA FOLHA

O caos que se instalou em Roraima na semana passada, com invasão de prédios públicos e bloqueio das estradas que dão acesso a Boa Vista, a capital do Estado, foi motivado por uma polêmica sobre a homologação de uma terra indígena. A área tem 1,75 milhão de hectares, equivalente a quase 12 vezes o território da cidade de São Paulo.
Na área, vivem 19 mil pessoas, sendo 7.000 não-índios, segundo o Censo 2000. Os índios são das etnias macuxi, taurepague, wapixana, ingaricó e patamona.
A demarcação da reserva Raposa/Serra do Sol começou a ser discutida pela Funai (Fundação Nacional do Índio) em 1977.
Em 1993, a reserva foi identificada como área indígena pela Funai. Na época, já havia cidades construídas no local. Em 1998, a área foi demarcada pelo governo como contínua, ou seja, incluindo as cidades que existiam ali.
A homologação da terra indígena ainda precisa ser assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Se a terra for homologada como contínua, os fazendeiros (na maioria, plantadores de arroz) terão de sair.
Os índios estão divididos: os que são contrários à homologação contínua temem que, com a medida, as próprias comunidades indígenas que fazem parte da reserva sofram um isolamento. Para outra parte dos índios, favorável à medida, o isolamento não ocorrerá e será possível uma adaptação às mudanças.
Na terça-feira da semana passada, manifestantes interromperam o trânsito nas rodovias que ligam Boa Vista às fronteiras com Guiana e Venezuela e a Manaus. A capital ficou isolada, e começou a faltar combustível. Não faltaram alimentos porque, como Boa Vista fica longe de tudo, os supermercados fazem compras grandes, com estoques para 15 dias.
No mesmo dia, um grupo de 200 índios invadiu o prédio da Funai e produtores de arroz ocuparam o prédio do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Dois padres e um missionário foram feitos reféns por dois dias dentro da reserva.
Os protestos começaram porque, 15 dias antes, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, havia afirmado que a homologação da reserva indígena seria feita ainda neste mês.
O governador Flamarion Portela, que se afastou do PT e está sendo acusado de envolvimento no "escândalo dos gafanhotos", que desviou dinheiro da folha de pagamentos do Estado, defende a homologação descontínua.
Grande parte da população de Roraima também apóia essa proposta. Nas ruas de Boa Vista, na semana passada, carros e táxis circulavam com as inscrições "Xô Funai", "Fora ONGs" e "100% Roraima".



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