|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Diretor de Columbine lembra
o massacre provocado por dois
alunos, cinco anos após a tragédia
Pesadelo revisitado
RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK
"Minha secretária entrou em meu escritório e disse: "Estão atirando lá
embaixo". Respondi: "como assim, tiros?" Desci para o hall e me dei conta de
que, de fato, havia uma pessoa caminhando pelo corredor com uma arma,
atirando, balas passaram por mim, vidros quebraram e achei que fosse morrer", disse Frank DeAngelis à Folha.
Há quase cinco anos, no dia 20 de abril
de 1999, dois alunos de DeAngelis, diretor da escola secundária Columbine,
nos Estados Unidos, mataram doze colegas e um professor, numa tragédia
que aterrorizou o mundo e para a qual
até hoje não se encontrou explicação.
"Continuei descendo pelo corredor, e
o atirador vinha na minha direção. Fiquei congelado, com medo de morrer.
Ouvi vozes vindo do vestiário. Eram
meninas que estavam se preparando
para a aula de ginástica, e elas iam entrar no corredor, no meio do tiroteio."
Naquele momento, DeAngelis ainda
não havia percebido que quem atirava
era um de seus alunos. "Só ouvia os tiros e via os vidros quebrando; via que
era um sujeito com jeans, camiseta
branca, casaco e um boné de beisebol".
Enquanto isso, o outro mantinha colegas presos na cafeteria.
"Fui até as meninas, levei-as para o ginásio e fechei as portas. Não entendi por
que o atirador não veio atrás de mim.
Há pouco tempo descobri que aquele
foi o mesmo momento em que um professor subia as escadas para o corredor.
O atirador parou e foi atrás dele. Vinha
para tentar tirar os alunos do prédio. Esse professor salvou a minha vida."
O diretor conseguiu então sair do ginásio por uma porta lateral e chegar à
rua, na cidade de Littleton, no Estado americano do Colorado. Viu a
polícia chegar e cercar Eric Harris,
18, e Dylan Klebold, 17, os adolescentes que se prepararam por meses para esse dia.
"Sabia que havia tiros sendo
disparados. Um
estudante com
celular falava
com o pai, de
dentro da escola. E deu para
ouvir os tiros."
Eric e Dylan se
mataram, e a
tragédia de Columbine acabou
tendo várias
conseqüências.
Em primeiro
lugar, fizeram os
EUA se questionarem sobre o
que, em sua própria sociedade,
tinha provocado
aquele comportamento dos
adolescentes.
"Não passa
um dia sem que eu pense por que fizeram aquilo. Não sei o que pode causar
tanto ódio numa pessoa. Havia tanto
ódio neles. Há poucos anos, falava com
um repórter alemão. Ele dizia que lá jamais havia acontecido algo parecido.
No dia seguinte, aconteceu algo semelhante na Alemanha. Ninguém pode dizer que isso jamais acontecerá na sua escola, no seu país."
Para o diretor, a tragédia deixou as
pessoas mais atentas. "Hoje, mais estudantes nos reportam comportamentos
estranhos em Columbine."
DeAngelis, porém, não foi convencido a adotar as medidas extremas de segurança que se espalharam por muitas
escolas públicas americanas.
"Sempre tivemos um policial na escola. Ele não carrega armas. Não colocamos detetores de metal. Detetores não
teriam parado os estudantes naquele
dia. Mesmo se você tivesse alguém lá,
armado, eles teriam matado essa pessoa. Diferente de muita gente, não acho
que essa seja a solução", conclui.
Texto Anterior: Fique atento Próximo Texto: Filmes ajudam a entender mistério Índice
|