São Paulo, segunda-feira, 12 de abril de 2004

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Garotas caem na água e fazem o surfe feminino virar moda no país

Elas vão invadir sua praia

Rick Werneck/Divulgação
BRUNA SCHMITZ, 14
De unhas pintadas e cabelo rosa, Bruninha, de Matinhos (PR), conquistou o primeiro lugar na categoria open (de amadoras de qualquer idade) da primeira etapa do Circuito Petrobras de Surfe Feminino. Em outro campeonato, já ganhou uma passagem para a Austrália. "Sinto orgulho quando desço uma onda, é muito bom ver que você evoluiu." Ela já pegou onda de 2,5 m.

ALESSANDRA KORMANN
ENVIADA ESPECIAL A UBATUBA

Elas não têm silicone, mas têm muito peito e músculos para atravessar paredes de água no mar e dropar as ondas em pé, em cima de suas pranchas.
De três anos para cá, é cada vez maior o número de "sereias" que trocam o bodyboarding ou o banho de sol na areia pelo surfe. "Depois que uma menina desce uma onda em pé, não quer mais descer deitada", diz a carioca Andrea Lopes, 30, a primeira brasileira a vencer uma etapa do WCT (World Championship Tour), a divisão de elite mundial do surfe, em 1999.
"O melhor é já começar com prancha, pois o nível do surfe feminino está crescendo mais do que o do bodyboarding. Sem discriminação, mas o bodyboarding é mais fácil, você só deita e sai rodando", diz a cearense Tita Tavares, 28, campeã brasileira e uma das duas representantes do país no WCT.
Facilidade é tudo que muitas meninas de hoje não querem. Depois que suas mães ou avós queimaram os sutiãs em praça pública nos anos 60 e trocaram o fogão pelo escritório, que limites ainda precisam ser rompidos? O que os meninos fazem que as meninas (ainda) não puderam fazer também?
A vontade de responder a essas perguntas parece ser um dos impulsos que têm levado cada vez mais meninas a ficar em pé dentro do mar.
"Eu queria fazer o que os meninos faziam", diz Tita, que pegou as primeiras ondas com tábua de madeira e competiu com os garotos em campeonatos -não venceu, mas chegou às finais.
Também há outros motivos para o aumento do número de adeptas do surfe no Brasil, que se profissionalizou aqui apenas em 1988 (o circuito profissional mundial começou em 1976). O exemplo de sucesso das veteranas, como Tita, Andrea e Jacqueline Silva, 24, que venceu a primeira etapa do WCT em março, é um deles.
A criação de um circuito só para mulheres em 2002 é outra razão. O Circuito Petrobras de Surfe Feminino é o único campeonato no mundo exclusivo para meninas. "Eu sempre acompanhei os campeonatos mundiais e percebi que a hora em que as mulheres entravam no mar era sempre a pior, quando as ondas estavam ruins", diz Laila Werneck, 39, uma das organizadoras do evento, que dá acesso ao Super Surfe Brasil (o campeonato brasileiro). Neste ano, houve recorde de inscritas na competição: 154, contra 120 e 130 nas edições anteriores.
O circuito também foi importante para as longboarders, porque "forçou" a profissionalização do esporte no país, ao ser o primeiro campeonato a distribuir prêmios em dinheiro para a categoria. O campeonato também abriu espaço para as iniciantes, ao criar categorias por idade: groomets (até 12 anos) e mirim (até 16 anos).
"O circuito feminino incentiva as meninas das categorias de base a competir", diz Suelen Naraisa, 19, que ficou em terceiro lugar na primeira etapa do campeonato, disputado na praia de Itamambuca, em Ubatuba, entre os dias 2 e 4 de abril.

Elas estão em toda parte: em revistas, em filmes de surfe, na TV. Em 2002, foi lançada a revista "Fluir Girls", para atender a demanda. No filme "Surf Adventures", Andrea Lopes aparece dropando ondas sensacionais, ao lado dos melhores surfistas do país, e agora está gravando um novo filme.
Na novela "Da Cor do Pecado", a surfista Moa (Alinne Moraes) arrasa na tela -na verdade, quem arrasa mesmo é a longboarder Patricia Sodré, 24, a dublê. "Quando me procuraram, a idéia era que a personagem fosse uma bodyboarder, mas mudaram por minha causa", conta.
As "clínicas de surfe" têm cada vez mais procura, por "meninas" de oito a 50 anos. O interesse maior da mulherada pelo assunto também já provocou reflexos nas lojas de surfwear, que passaram a fazer biquínis mais larguinhos e confortáveis e pranchas com cores mais femininas.
"As meninas gostam de combinar a cor do biquíni com a prancha, de colocar uma florzinha", diz a longboarder Márcia Portes, 31, que competiu no circuito feminino mesmo estando grávida de três meses.
De fato, as meninas do surfe não dispensam a vaidade: pintam as unhas e os cabelos, usam trancinhas coloridas, cuidam do corpo e da alimentação. E são unidas. "A competição dentro da água é uma coisa, mas fora é outra, sabemos separar bem. Os meninos têm bem mais rivalidade", diz Andrea Lopes. Ponto pra elas.


A jornalista Alessandra Kormann viajou a convite do Circuito Petrobras de Surfe Feminino


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