São Paulo, segunda-feira, 12 de abril de 2010

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INTERNETS

Ronaldo Lemos - ronaldolemos09@gmail.com

O guru tem razão

Sempre que vejo alguém ser chamado de "guru" me dá uma preguiça enorme de ler qualquer coisa da pessoa. É o caso de Clay Shirky, considerado por muitos um "guru" para assuntos de internet. Não que ele seja ruim, mas nunca achei os livros dele mais elaborados do que um bom blog genérico sobre tecnologia.
Essa impressão mudou para melhor por conta de um texto recente, chamado "O Colapso dos Modelos de Negócio Complexos" (bit.ly/dad3MZ ). Não é que o guru parece ter razão? Pelo menos em parte.
Ele fala sobre a dificuldade da mídia tradicional (TVs, jornais, revistas, rádios etc.) para transformar seus modelos de negócio. Ele cita a ameaçadora frase do magnata das comunicações Rupert Murdoch (dono da Fox e do "Wall Street Journal"): "Os internautas terão de pagar pelo que acessam na internet". Shirky nos lembra de que essa frase soa incompleta. Ela poderia ser lida da seguinte forma: os internautas terão de pagar pelo que acessam na internet... senão estamos ferrados.
Para o guru, o conteúdo das mídias tradicionais está perdendo espaço para produtos simples e amadores. Ele cita como exemplo o vídeo do bebê Charlie mordendo o dedo do irmãozinho (bit.ly/6C7a), que já foi visto 174 milhões de vezes (mais do que as audiências do "American Idol" e do Superbowl somadas). Na sua visão, as mídias tradicionais não conseguem assimilar e competir com esse tipo de "produção", porque já se acostumaram a trabalhar de um jeito mais caro.
É aí que o guru desliza. É fato que as produções caras hoje dividem espaço com as amadoras. Mas, por causa disso, o valor delas pode aumentar. Se menos conteúdos tradicionais "estouram", o valor dos que estouram será maior. É só pensar em "Avatar", a produção mais cara já feita e também a mais vista. Ou em "Bad Romance", da Lady Gaga, com 170 milhões de acessos.
A pergunta que o guru não responde é se as produções caras vão continuar a perder espaço ou se vão se estabilizar em algum momento. E mais, se poderão compensar a perda de espaço com um aumento de valor. Sei que o papo é cabeça, mas quem responder a essa pergunta vai ganhar bem mais do que US$ 1 milhão.


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