São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 2008

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>>Álvaro Pereira Júnior - cby2k@uol.com.br

Baterista escritor faz a crônica brasileira do rock

INAUGURADO UM novo gênero literário: o da crônica brasileira rock and roll. O responsável é um baterista baiano, de Salvador, que lançou, por conta própria, um livro com deliciosas histórias roqueiras. O autor é Ricardo Cury, e o nome do livro é "Para Colorir".
Li com imenso prazer, apesar de ter recebido o volume sem entusiasmo. É que não gosto de crônicas. Acho que quase sempre ficam entre entre o moralista/indignado, o saudosista e o piegas. Isso quando não são tudo isso junto. Desses "grandes" cronistas brasileiros, aqueles que todo mundo admira, não posso nem ouvir falar.
Mas "Para Colorir" é outra coisa. É crônica do século 21. Nos textos de Ricardo Cury, as situações mais banais servem como partida para narrativas envolventes, com gosto pelos detalhes e muita autoparódia.
Impossível não morrer de rir com as desventuras de Cury por São Paulo, visitando jornais, editoras, estúdios e rádios para entregar o CD de sua então banda, ZecaCuryDamm. Numa cidade cuja geografia ele descreve como o próprio inferno, Cury é esnobado em diversos lugares onde aparece sem avisar (inclusive a Folha).
Há encontros formidáveis, como um com Caetano Veloso no aeroporto ("um cara de calça branca, camisa branca, casaco branco, cabelo branco") e outro com Chico Buarque em Ipanema (aproximou-se e disse que os "Saltimbancos" tinham mudado a vida dele). Para não ficar só nos elogios, diga-se que "Para Colorir" ganharia muito passando pelo crivo de um editor. Alguns textos poderiam ser enxugados, e histórias triviais (passeio pela Europa, acampamento na Chapada Diamantina etc.) não fariam falta. Também ajudaria se a capa trouxesse os nomes do autor e do livro, já que, à moda da lendária gravadora Factory, a capa não informa nada. Mas isso não apaga o brilho desse livro atento, fluente, jovem e, é claro, visceralmente roqueiro. Cury tem um blog: www.ricardocury.blogspot.com. Fale com ele.

CD PLAYER

PLAY - "Adrenalin", Bauhaus
Faz tempo que estou para elogiar a ressurreição do Bauhaus, mais góticos que nunca.

EJECT - "Alice", Moby
É chato dizer, porque gosto do cara, mas, criativamente, Moby está esgotado.

EJECT - Whitesnake e Megadeth no Brasil
Continuamos como cemitério do rock mundial, recebendo tranqueiras que ninguém mais quer.


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