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>>Álvaro Pereira Júnior - cby2k@uol.com.br
Baterista escritor faz a crônica brasileira do rock
INAUGURADO UM novo gênero literário: o da
crônica brasileira rock and roll. O responsável é um baterista baiano, de Salvador,
que lançou, por conta própria, um livro com
deliciosas histórias roqueiras. O autor é Ricardo Cury, e o nome do livro é "Para Colorir".
Li com imenso prazer, apesar de ter recebido o volume sem entusiasmo. É que não gosto
de crônicas. Acho que
quase sempre ficam entre
entre o moralista/indignado, o saudosista e o piegas. Isso quando não são
tudo isso junto. Desses
"grandes" cronistas brasileiros, aqueles que todo
mundo admira, não posso
nem ouvir falar.
Mas "Para Colorir" é
outra coisa. É crônica do
século 21. Nos textos de
Ricardo Cury, as situações mais banais servem
como partida para narrativas envolventes, com
gosto pelos detalhes e
muita autoparódia.
Impossível não morrer
de rir com as desventuras
de Cury por São Paulo, visitando jornais, editoras,
estúdios e rádios para entregar o CD de sua então
banda, ZecaCuryDamm.
Numa cidade cuja geografia ele descreve como
o próprio inferno, Cury é
esnobado em diversos lugares onde aparece sem avisar
(inclusive a Folha).
Há encontros formidáveis, como um com Caetano
Veloso no aeroporto ("um cara de calça branca, camisa branca, casaco branco, cabelo branco") e outro com
Chico Buarque em Ipanema (aproximou-se e disse
que os "Saltimbancos" tinham mudado a vida dele).
Para não ficar só nos elogios, diga-se que "Para Colorir" ganharia muito passando pelo crivo de um editor.
Alguns textos poderiam ser enxugados, e histórias triviais (passeio pela Europa, acampamento na Chapada
Diamantina etc.) não fariam falta. Também ajudaria
se a capa trouxesse os nomes do autor e do livro, já
que, à moda da lendária gravadora Factory, a capa não
informa nada. Mas isso não apaga o brilho desse livro
atento, fluente, jovem e, é claro, visceralmente roqueiro. Cury tem um blog: www.ricardocury.blogspot.com. Fale com ele.
CD PLAYER
PLAY - "Adrenalin", Bauhaus
Faz tempo que estou para elogiar a
ressurreição do Bauhaus, mais góticos
que nunca.
EJECT - "Alice", Moby
É chato dizer, porque gosto do cara,
mas, criativamente, Moby está esgotado.
EJECT - Whitesnake e Megadeth
no Brasil
Continuamos como cemitério do rock
mundial, recebendo tranqueiras que
ninguém mais quer.
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