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música
Em Santa Cruz, hip hop convive com cigarro
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Com pouco mais de 115 mil
habitantes, o município de Santa Cruz do Sul (a 148 km de Porto Alegre) vive da indústria do
tabaco. É ao lado de fábricas de
gigantes do fumo que o hip hop
desponta na cidade de colonização alemã. Santa Cruz só perde para Porto Alegre no número de grupos de rap e hip hop
em atividade no Estado. Segundo o site Palco MP3, são sete
grupos na cidade. Um entre cada oito grupos de rap no Rio
Grande do Sul é de Santa Cruz.
Um deles é o Família D-Rua,
criado em 1998. Seu mentor,
Flávio Batista, 27, trabalha como técnico em informática. É
mais conhecido como rapper
MC Fejão. O rap ainda é um
hobby para ele e outros artistas
da cidade, mas a força do movimento já conseguiu atrair para
o município ícones do gênero,
como os Racionais MCs.
Uma das razões para o crescimento do hip hop em uma cidade como Santa Cruz vem de
dois programas de rádio transmitidos por duas emissoras locais. Um deles, que vai ao ar todas as sextas, das 23h à 0h, divulga as produções locais e é comandado pelo "dinossauro do
rap". Assim é chamado Mestre
Chola, 45, um dos precursores
do rap na cidade nos idos de
1986. Na época, uma antena de
rádio montada por ele e seus
colegas começou a captar os
primeiros ruídos de black music vindos de São Paulo.
Mas o crescimento não foi
gratuito, segundo especialistas.
As razões para que o hip hop
brotasse em uma cidade pequena como Santa Cruz estão relacionadas à indústria tabagista,
segundo o pesquisador Felipe
Gustsack, da Unisc (Universidade de Santa Cruz do Sul).
Segundo ele, nas origens, o
gênero questionava as oportunidades de trabalho na cidade.
"Eram muito escassas, principalmente fora do período de safra do tabaco. As pessoas, ainda
hoje, ficam desempregadas.
Mas essas empresas atraem
gente que acaba se instalando
nas periferias da cidade", diz.
MC Fejão tem análise semelhante. Segundo ele, o desemprego gerado pela sazonalidade
da produção de fumo na cidade
desencadeia uma série de conseqüências sociais, que levam à
violência e à criminalidade.
O poder público municipal
reconhece a força do hip hop,
mas os investimentos concretos são poucos. A prefeitura
oferece oficinas de hip-hop,
com objetivo tirar os jovens das
ruas."
(BRENO COSTA)
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