São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 2008

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música

Em Santa Cruz, hip hop convive com cigarro

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Com pouco mais de 115 mil habitantes, o município de Santa Cruz do Sul (a 148 km de Porto Alegre) vive da indústria do tabaco. É ao lado de fábricas de gigantes do fumo que o hip hop desponta na cidade de colonização alemã. Santa Cruz só perde para Porto Alegre no número de grupos de rap e hip hop em atividade no Estado. Segundo o site Palco MP3, são sete grupos na cidade. Um entre cada oito grupos de rap no Rio Grande do Sul é de Santa Cruz.
Um deles é o Família D-Rua, criado em 1998. Seu mentor, Flávio Batista, 27, trabalha como técnico em informática. É mais conhecido como rapper MC Fejão. O rap ainda é um hobby para ele e outros artistas da cidade, mas a força do movimento já conseguiu atrair para o município ícones do gênero, como os Racionais MCs.
Uma das razões para o crescimento do hip hop em uma cidade como Santa Cruz vem de dois programas de rádio transmitidos por duas emissoras locais. Um deles, que vai ao ar todas as sextas, das 23h à 0h, divulga as produções locais e é comandado pelo "dinossauro do rap". Assim é chamado Mestre Chola, 45, um dos precursores do rap na cidade nos idos de 1986. Na época, uma antena de rádio montada por ele e seus colegas começou a captar os primeiros ruídos de black music vindos de São Paulo.
Mas o crescimento não foi gratuito, segundo especialistas. As razões para que o hip hop brotasse em uma cidade pequena como Santa Cruz estão relacionadas à indústria tabagista, segundo o pesquisador Felipe Gustsack, da Unisc (Universidade de Santa Cruz do Sul).
Segundo ele, nas origens, o gênero questionava as oportunidades de trabalho na cidade. "Eram muito escassas, principalmente fora do período de safra do tabaco. As pessoas, ainda hoje, ficam desempregadas. Mas essas empresas atraem gente que acaba se instalando nas periferias da cidade", diz.
MC Fejão tem análise semelhante. Segundo ele, o desemprego gerado pela sazonalidade da produção de fumo na cidade desencadeia uma série de conseqüências sociais, que levam à violência e à criminalidade.
O poder público municipal reconhece a força do hip hop, mas os investimentos concretos são poucos. A prefeitura oferece oficinas de hip-hop, com objetivo tirar os jovens das ruas." (BRENO COSTA)


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