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Pancadaria no rock
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
Chumbo nos Beastie Boys
e no Velvet Revolver.
"Embora o álbum
[dos Beastie Boys] "To
the 5 Boroughs" seja
sonoramente convidativo e tenha
um estilo de rap de gente grande,
novo e mais áspero, o disco, em última análise, parece previsível."
"O guitarrista Slash [do Velvet Revolver] é dono da maior desproporção entre sucesso e talento da música popular (...). É uma pena que [o
vocalista] Scott Weiland não tenha
encontrado um veículo mais inspirado para o seu talento, que é muito
real."
Quem escreveu os dois parágrafos
acima?
a) Um crítico rancoroso, músico
frustrado?
b) Um crítico que tem problemas
particulares com as bandas e quis se
vingar?
c) Um músico de sucesso?
Resposta "c". Os textos são de
John Flansburgh, do grupo They
Might Be Giants, e saíram no "New
York Times" do último dia 4 de julho.
Tente imaginar o mesmo no Brasil. Nem em sonho. Aqui, impera o
medo de se indispor com alguém,
em qualquer área. Lembro, por
exemplo, dos Raimundos, no auge,
bajulando Rita Lee. Ou mesmo dos
Los Hermanos (maldosamente chamados por alguns de Loser Manos), quase se
desculpando, numa premiação em que, em início de carreira, tinham vencido o
Chico Buarque.
A recente confusão entre Charlie Brown Jr. e Los Hermanos faz parte desse
mesmo cenário. Primeiro, um dos Hermanos faz uma crítica, bem levinha, a bandas que comercializam "atitude". Prevendo possível encrenca, dispara-se uma
operação diplomática para, preventivamente, amansar Chorão.
Não dá certo, Chorão não aceita críticas -mesmo as brandas- e parte pra cima do Hermano. Ninguém registra queixa na polícia.
Provando que somos campeões planetários de corporativismo, outras bandas
anunciam um boicote ao Charlie Brown Jr. Como grande epílogo, o Hermano
agredido envia uma carta ao jornal "O Globo", tentando explicar sua posição.
A carta é ininteligível. Talvez o Hermano, tratado sempre como poeta genial,
só saiba se expressar em versos.
Nada se salva nesse episódio, em nenhum dos lados. Cada país tem a polêmica
que merece. E viva o John Flansburgh.
Álvaro Pereira Júnior, 41, é editor-chefe da "Fantástico" em São Paulo.
@ - cby2k@uol.com.br
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