São Paulo, segunda-feira, 12 de julho de 2004

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Pancadaria no rock

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA

Chumbo nos Beastie Boys e no Velvet Revolver.
"Embora o álbum [dos Beastie Boys] "To the 5 Boroughs" seja sonoramente convidativo e tenha um estilo de rap de gente grande, novo e mais áspero, o disco, em última análise, parece previsível."
"O guitarrista Slash [do Velvet Revolver] é dono da maior desproporção entre sucesso e talento da música popular (...). É uma pena que [o vocalista] Scott Weiland não tenha encontrado um veículo mais inspirado para o seu talento, que é muito real."
Quem escreveu os dois parágrafos acima?
a) Um crítico rancoroso, músico frustrado?
b) Um crítico que tem problemas particulares com as bandas e quis se vingar?
c) Um músico de sucesso?
Resposta "c". Os textos são de John Flansburgh, do grupo They Might Be Giants, e saíram no "New York Times" do último dia 4 de julho.
Tente imaginar o mesmo no Brasil. Nem em sonho. Aqui, impera o medo de se indispor com alguém, em qualquer área. Lembro, por exemplo, dos Raimundos, no auge, bajulando Rita Lee. Ou mesmo dos Los Hermanos (maldosamente chamados por alguns de Loser Manos), quase se desculpando, numa premiação em que, em início de carreira, tinham vencido o Chico Buarque.
A recente confusão entre Charlie Brown Jr. e Los Hermanos faz parte desse mesmo cenário. Primeiro, um dos Hermanos faz uma crítica, bem levinha, a bandas que comercializam "atitude". Prevendo possível encrenca, dispara-se uma operação diplomática para, preventivamente, amansar Chorão.
Não dá certo, Chorão não aceita críticas -mesmo as brandas- e parte pra cima do Hermano. Ninguém registra queixa na polícia.
Provando que somos campeões planetários de corporativismo, outras bandas anunciam um boicote ao Charlie Brown Jr. Como grande epílogo, o Hermano agredido envia uma carta ao jornal "O Globo", tentando explicar sua posição.
A carta é ininteligível. Talvez o Hermano, tratado sempre como poeta genial, só saiba se expressar em versos.
Nada se salva nesse episódio, em nenhum dos lados. Cada país tem a polêmica que merece. E viva o John Flansburgh.


Álvaro Pereira Júnior, 41, é editor-chefe da "Fantástico" em São Paulo.
@ - cby2k@uol.com.br



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