São Paulo, segunda-feira, 12 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

INTERNET

Jovens de comunidades ribeirinhas do Pará ganham acesso à rede mundial em dois telecentros do Projeto Saúde & Alegria

@ Floresta

ALESSANDRA KORMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

Lá não tem rede elétrica, telefone e muito menos celular, mas os jovens de comunidades ribeirinhas da Floresta Nacional do Tapajós, no Pará, já podem se comunicar pela internet.
No dia 26 de junho, o Projeto Saúde & Alegria inaugurou um telecentro cultural na comunidade Maguari, vizinha às comunidades Jamaraquá e São Domingos. A eletricidade para os três computadores vem de um gerador de energia solar -dois dos computadores usam o sistema operacional gratuito Linux.
O acesso à internet é feito via satélite, por meio de uma antena parabólica do Ministério das Comunicações. O programa também tem o apoio da Rits (Rede de Informações para o Terceiro Setor) e de órgãos como Usaid (United States Agency for International Development), Ibama e da Prefeitura de Belterra (PA).
Para que a comunidade aprenda a usar os computadores, os próprios moradores escolheram três jovens que, depois de receber treinamento do Saúde & Alegria, estão atuando como monitores no telecentro.
Iderlei Alves Dias, 16, está aprendendo a usar o computador para se tornar monitor. "É mais fácil do que eu imaginava", disse ao Folhateen por meio de um sistema de mensagens instantâneas. "O mais legal é conhecer pessoas de outros lugares. Já conversei com gente de São Paulo, do Rio. Perguntei como eram as pessoas, as suas cidades. É tudo muito diferente, as indústrias, o comércio, os modos de viver", disse. Antes da internet, ele se comunicava com as pessoas por carta. "E-mail é mais fácil."
O telecentro da comunidade Maguari é o segundo na região. O primeiro foi instalado no final do ano passado, na comunidade Suruacá, na outra margem do rio Tapajós, na qual só se chega de barco -a viagem até a cidade mais próxima dura quatro horas. Lá há um telefone público, que funciona só de vez em quando. As TVs, abastecidas por energia solar, só são ligadas à noite.
"Nós gostamos de assistir ao "Jornal Nacional". Não gostamos muito de novelas, elas mostram coisas que não são verdade, como a violência", disseram os monitores Carla Maiara Alves de Melo, 18, e Jardson Melo de Araújo, 22, também por meio da internet. "Aqui vivemos na maior tranqüilidade", disse Jardson.
Segundo eles, além de ajudá-los nos estudos, a internet pode até mudar os hábitos da comunidade. "Desde que chegou a internet, o comportamento dos jovens mudou, eles estão com mais interesse em participar dos grupos de jovens", disse Maiara.
O andar térreo dos telecentros também é usado para apresentações e exposições. "A internet dá à população ribeirinha o poder de contar ao mundo como é a sua realidade, de aprender e de ensinar", diz Kiki Mori, coordenadora do Saúde & Alegria. A idéia é levar o projeto a outras cerca de 140 comunidades da região.


Texto Anterior: Sexo & saúde - Jairo Bouer: Meninos têm dúvida sobre camisinha
Próximo Texto: Escuta aqui - Álvaro Pereira Júnior: Pancadaria no rock
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.