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COMPORTAMENTO
Hitler por um dia
Em reuniões simuladas, estudantes revivem em SP vilões e heróis da história
DIOGO BERCITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Hitler é negro e Stálin, uma mulher. Ah, e no final da Segunda Guerra Mundial a cidade de Veneza tornou-se socialista e separou-se da Itália.
Essas são informações que você não vai encontrar nos livros de história. Pudera -elas não aconteceram de verdade.
Confuso? É que há um mês um grupo de adolescentes se encontrou em São Paulo para reescrever o passado, participando da Siem (Simulação para o Ensino Médio), evento estudantil que simula reuniões, em versão de mentirinha, que aconteceram há décadas.
Por R$ 120 a inscrição, os participantes passaram quatro dias discutindo temas como o futuro da Europa e o ataque norte-americano à baía dos Porcos. Encarnavam figuras políticas que existiram de verdade -e agiam como tais.
"Quando você entra no personagem, tem que ver coisas horríveis", conta Joana Perrone, 16, que fez o papel do ditador soviético Stálin. "Li histórias de poloneses morrendo de fome e precisei decidir sacrificar 10 mil pessoas", relata.
Os mais animados entre os participantes vestem-se a caráter -como Rodrigo Ianhez, 19, segurança de Estado da União Soviética. "Comprei minha farda na Rússia!", gaba-se.
Em seguida, ao receber uma
carta com o posicionamento da
Finlândia na Segunda Guerra
Mundial, o garoto franze o cenho, encerra a entrevista e se
dirige para a sala em que o gabinete soviético está reunido.
Já Felipe Pereira, 18, entrou
no clima pintando um bigodinho no rosto e se transformando em um Hitler impiedoso.
"Mais um desmando e iremos
proceder de maneira diferente
neste gabinete!", grita.
No intervalo para o lanche,
porém, o garoto mostra-se gentil e razoável. "Essa simulação é
uma oportunidade de ver o que
não deve ser repetido", diz.
A Siem é uma entre diversas
simulações de reuniões históricas ou de comitês da ONU que
rolam durante todo o ano no
Brasil (veja calendário ao lado).
O primeiro evento do gênero
por aqui foi o Americas Model
United Nations, em 1998, na
Universidade de Brasília.
Além de brincar de tomar decisões por alguns dias, a garotada cuida também da organização das simulações -sem receber um tostão por isso.
Essa parte do evento fica por
conta dos universitários, muitas vezes antigos participantes
das simulações.
Um exemplo é Carolina Defino, 20, estudante de economia.
A garota foi uma entre os que
cuidaram da logística do evento. "Gosto do projeto porque tira o aprendizado do ortodoxo e
o traz para o lúdico", diz.
De tão envolvida nesse tipo
de evento, Carolina chegou a ir
a Genebra (Suíça) para o encontro de estudantes que participam de simulações ao redor
do mundo. A ONU pagou sua
acomodação e ela arcou com a
passagem aérea.
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