São Paulo, segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GAME

Jogadores envolvem-se a ponto de confundir o que está na rede com o que rola na vida real

Realidade ou ficção

DA REPORTAGEM LOCAL

Para tornar a experiência mais real aos participantes, os jogos assimilam em suas narrativas muitos elementos da vida real. Com isso, a frase: "Isto não é um jogo" tornou-se uma espécie de mantra entre os jogadores e criadores de ARGs.
Assim, é muito comum as pistas "invadirem" a vida dos jogadores, por meio de folhas de fax, e-mails, telefonemas, anúncios na TV e correio. Outra possibilidade é a de os participantes terem de se deslocar para procurar pistas em algum lugar da cidade.
A gincana "24 horas Alerta", promovida no ano passado pelo canal de TV paga Fox para lançar a quarta temporada da série "24 Horas", teve todas as pistas escondidas em diferentes pontos de São Paulo, obrigando os participantes a saírem a campo para resolver os enigmas.
Em "Last Call Poker", concluído no final do ano passado nos Estados Unidos, algumas provas eram partidas de poker realizadas em cemitérios.
Já no "Vivo em Ação", os participantes podiam ser surpreendidos no meio do dia, recebendo uma mensagem de algum personagem do jogo. "A idéia é deixar as pessoas na dúvida se o que estão vivendo é realidade ou jogo", conta Roger Tavares, professor da pós-graduação em games do Senac São Paulo.
Mistério
Por isso, muitos ARGs realizados fora do Brasil não se assumem como jogo de início. Com suas histórias misteriosas, eles atraem a atenção dos curiosos, que só depois percebem que estão participando de uma gincana. Nas páginas da web de gincanas como "The Beast", "Who Is Benjamin Stove" e "I Love Bees" não há referências aos autores nem ao fato de que aquilo é um jogo.
O arquiteto Ramon Vasconcellos, 24, participa de "Who is Benjamin Stove" (www.whoisbenjaminstove.com), e garante que algumas vezes confunde o que é real e o que é fictício.
Ele mora em Natal, Rio Grande do Norte, a muitos quilômetros de distância de onde se passa a maior parte da ação, e mesmo assim consegue acompanhar a aventura, pelos fóruns de discussão. Diariamente, ele entra, lê as mensagens e dá sua contribuição para solucionar os enigmas.
Iniciado em janeiro, o jogo conta a história de Benjamin Stove e seu quadro enigmático. O objetivo é descobrir quem é o personagem e o significado da pintura que ele vendeu ao criador do site em que a gincana se desenrola.
Ambientado principalmente nos Estados Unidos, o jogo tem também uma espécie de "filial" no Brasil. Uma das personagens que traz pistas sobre Stove, Anita, é brasileira e mora em Ribeirão Preto (interior de São Paulo).
"A história é tão bem estruturada que não fica muito definido o que é ficção e o que é realidade. As vezes eu tenho dúvidas se estou participando de um jogo ou vivendo uma história real. Fico pensando se aqueles personagens realmente existem ou se são fruto da criatividade de alguém", diz.
Da vida real para o jogo
No dia 11 de setembro de 2001, quando as torres do World Trade Center foram destruídas em Nova York, alguns jogadores de ARG viram o caminho inverso acontecer: a realidade invadir o jogo.
Integrantes do fórum Cloudmakers.org, criado para discutir o jogo "The Beast", começaram a interpretar o episódio de acordo com a lógica dos games, alegando que seria possível descobrir quem eram os responsáveis pelo ataque usando as técnicas de investigação dos ARGs. Para aquelas pessoas, o jogo havia invadido a vida real.
Foi necessário, dois dias depois de iniciada a discussão, que os criadores do fórum se manifestassem, lembrando que o atentado ao WTC não fazia parte de um jogo. Pelo contrário, era um fato real, e, portanto, não haveria pistas espalhadas pela internet ou pela cidade para ajudá-los na solução do mistério. (LETICIA DE CASTRO)


Texto Anterior: Gincana virtual
Próximo Texto: Cartas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.