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GAME
Jogadores envolvem-se a ponto de confundir o que está na rede com o que rola na vida real
Realidade ou ficção
DA REPORTAGEM LOCAL
Para tornar a experiência mais real aos
participantes, os jogos assimilam em
suas narrativas muitos elementos da
vida real. Com isso, a frase: "Isto não é um
jogo" tornou-se uma espécie de mantra entre os jogadores e criadores de ARGs.
Assim, é muito comum as pistas "invadirem" a vida dos jogadores, por meio de folhas de fax, e-mails, telefonemas, anúncios
na TV e correio. Outra possibilidade é a de
os participantes terem de se deslocar para
procurar pistas em algum lugar da cidade.
A gincana "24 horas Alerta", promovida
no ano passado pelo canal de TV paga Fox
para lançar a quarta temporada da série "24
Horas", teve todas as pistas escondidas em
diferentes pontos de São Paulo, obrigando
os participantes a saírem a campo para resolver os enigmas.
Em "Last Call Poker", concluído no final
do ano passado nos Estados Unidos, algumas provas eram partidas de poker realizadas em cemitérios.
Já no "Vivo em Ação", os participantes
podiam ser surpreendidos no meio do dia,
recebendo uma mensagem de algum personagem do jogo. "A idéia é deixar as pessoas na dúvida se o que estão vivendo é realidade ou jogo", conta Roger Tavares, professor da pós-graduação em games do Senac São Paulo.
Mistério
Por isso, muitos ARGs realizados fora do
Brasil não se assumem como jogo de início.
Com suas histórias misteriosas, eles atraem
a atenção dos curiosos, que só depois percebem que estão participando de uma gincana. Nas páginas da web de gincanas como "The Beast", "Who Is Benjamin Stove"
e "I Love Bees" não há referências aos autores nem ao fato de que aquilo é um jogo.
O arquiteto Ramon Vasconcellos, 24,
participa de "Who is Benjamin Stove"
(www.whoisbenjaminstove.com), e garante que algumas vezes confunde o que é
real e o que é fictício.
Ele mora em Natal, Rio Grande do Norte,
a muitos quilômetros de distância de onde
se passa a maior parte da ação, e mesmo assim consegue acompanhar a aventura, pelos fóruns de discussão. Diariamente, ele
entra, lê as mensagens e dá sua contribuição para solucionar os enigmas.
Iniciado em janeiro, o jogo conta a história de Benjamin Stove e seu quadro enigmático. O objetivo é descobrir quem é o
personagem e o significado da pintura que
ele vendeu ao criador do site em que a gincana se desenrola.
Ambientado principalmente nos Estados
Unidos, o jogo tem também uma espécie
de "filial" no Brasil. Uma das personagens
que traz pistas sobre Stove, Anita, é brasileira e mora em Ribeirão Preto (interior de
São Paulo).
"A história é tão bem estruturada que não
fica muito definido o que é ficção e o que é
realidade. As vezes eu tenho dúvidas se estou participando de um jogo ou vivendo
uma história real. Fico pensando se aqueles
personagens realmente existem ou se são
fruto da criatividade de alguém", diz.
Da vida real para o jogo
No dia 11 de setembro de 2001, quando as
torres do World Trade Center foram destruídas em Nova York, alguns jogadores de
ARG viram o caminho inverso acontecer: a
realidade invadir o jogo.
Integrantes do fórum Cloudmakers.org,
criado para discutir o jogo "The Beast", começaram a interpretar o episódio de acordo com a lógica dos games, alegando que
seria possível descobrir quem eram os responsáveis pelo ataque usando as técnicas
de investigação dos ARGs. Para aquelas
pessoas, o jogo havia invadido a vida real.
Foi necessário, dois dias depois de iniciada a discussão, que os criadores do fórum
se manifestassem, lembrando que o atentado ao WTC não fazia parte de um jogo. Pelo
contrário, era um fato real, e, portanto, não
haveria pistas espalhadas pela internet ou
pela cidade para ajudá-los na solução do
mistério.
(LETICIA DE CASTRO)
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