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TEATRO
Ator teen se destaca como menino vaqueiro em "Tauromaquia", em cartaz em São Paulo
Passagem de cena
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Ave! De onde saiu esse espirro?",
pergunta o Velho.
"Me atrasei", diz o Menino.
"Tá com coragem?"
"Não."
O diálogo seco demarca a entrada do personagem Menino na peça "Tauromaquia",
em cartaz no teatro Sesc Anchieta (SP).
Ele é interpretado pelo ator e estudante
Thomaz Vinicius, 14, cujo personagem
atravessará um rito de passagem para o
mundo dos adultos, experiência ainda
mais difícil quando se está entre vaqueiros.
Em cena, o Menino surge com altivez,
apesar de mascote na comitiva de dez homens, cada um com chapéu e gibão. "Todos o tratam como café-com-leite", diz Vinicius. Ao final, se saberá que as regras do
jogo não foram tão brandas com o Menino
quanto se imaginava.
O espetáculo da cia. Teatro Balagan, dirigida por Maria Thaís, mostra como aquela
viagem será transformadora. Haverá duelos, mortes e também celebrações de amizade, tudo nos conformes da fronteira que
separa e mistura o humano e o animal.
São meses rumo ao pó da estrada, o miolo da mata ou a margem do rio. O elenco
desvia do óbvio sotaque sertanejo e anda
imitando o trote de cavalo.
Nessa comitiva de peões, o Velho (interpretado por Walter Breda) cumprirá sua
última viagem, enquanto o Menino será
uma espécie de herdeiro, após vivenciar
aprendizado dolorido. É como se a vida de
um fosse completada pela do outro.
Fora do palco, Vinicius pouco colabora
com a imagem daquele Menino. Corpo
franzino, 1,65m, mãos ao bolso e dono de
timidez que os óculos não escondem, ele
poderia passar por um rato de videogames,
coisa que não é.
O teatro surge como sina. Aos 9 anos,
conquistou o papel-mirim do camponês
Eh Feh em "Turandot" (1999), versão de
Bertolt Brecht para a ópera de Puccini, dirigida pelo veterano José Renato, um dos
fundares do grupo Teatro de Arena.
Na escola estadual Maria Ribeiro Guimarães Bueno, onde cursa a 8ª série, poucos
colegas sabem que ele é ator. "Quando descobrem, acham que sou metido, rico, que
trabalho na Globo", diz.
Ler é o passatempo preferido desse garoto que pouco ouve música ("das bandas
pop e rock aos clássicos da MPB"), adora
jogar vôlei e raramente vai ao shopping que
fica a quadras de sua casa, ali, sim, território que domina. "Sou muito caseiro".
Cadê o Menino que enveredou pelo
mundo vasto mundo do sertão?
Eis o teatro.
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