RICARDO TIBIU
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Há exatamente um ano, passou pela "Demorou" um rapper de Niterói bem diferente dos demais. Na ocasião, ele dizia ser "o típico playboy branco morador da zona sul, classe média falida". A lenda voltou.
Ramon Moreno de Freitas e Silva, 22, acaba de lançar pela Tomba Records "O Estilo Foda-se", seu segundo rebento. Agindo sob a alcunha De Leve, uma das primeiras rimas que manda é: "Quem vos fala, o MC mais mala". O som em questão é "Pra Bombar no seu Estéreo", e o deboche, junto de belas batidas eletrônicas, já detona logo de cara.
Nela, ele tira onda com vários nomes da música pop nacional e ainda forja o típico diálogo entre um adolescente que quer ouvir música alta e a mãe, que, é claro, reclama.
Os mais pudicos se arrepiarão com alguns versos do carioca. Se em "Menstruação", que conta com a voz da amiga Adriana Góes, ele disserta sobre o período em que prefere transar com as mulheres, na mordaz "Sem Neurose" fala abertamente como quer suas "gatinhas".
A etílica "Caipirinha-Man" ele diz ter sido inspirada no DJ Castro, o responsável pelos scratches no disco. Ela parece ser uma extensão da cômica "Largado", do CD anterior. "Ambas relatam o estilo de quem vive do nosso jeito, bebendo e curtindo, mesmo sem grana", explica. "Não deixo de me divertir por falta de dinheiro."
Quando o comparam com outros rappers, entram duas figuras carimbadas. "Uns falam do Eminem, outros do Kool Keith. Em geral, quem cita o Eminem nunca ouviu Kool Keith. É engraçado porque gosto dos dois."
Questionado se, no rap, imagem é tudo, responde na lata: "Claro! O que seria de um rapper sem calça larga, boné e bota Timberland, sem esquecer a cueca aparecendo com o nome da marca?".
Em "Essa É pros Amigos", a voz mais subversiva do rap nacional questiona a contradição vivida por alguns. "Uns se queixam do sistema, mas usam roupas de marca, corrente de ouro, camisa Fubu e boné Nike, incorporando o rap norte-americano, que é totalmente materialista e capitalista."
Um verso marcante: "Proposital, do bumbo à caixa do chimbal, sem jazz pra não ser igual ao underground nacional". "No underground, no dito "novo" hip hop, os caras se acham inovadores porque roubam pianinho de jazz e se fecham para quem mistura eletrônico", explica a crítica.
A canção, além de virar clipe, entrará no seriado "Cidade dos Homens", da Globo.
Enquanto uns buscam a batida perfeita, outros seguem uma cartilha linear no rap nacional. Alguns preferem usar algo do jazz. De Leve tem a ironia como principal arma. Seu único alvo na realidade é a diversão.
O cara é mala? Sim, sem dúvida. Que fique claro: carrega quem quer.

Contatos:
De Leve: de-leve@bol.com.br
Tomba Records: tombarecords@hotmail.com