São Paulo, segunda-feira, 13 de novembro de 2006

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música

O Folhateen foi ver de perto o festival indie CMJ Marathon, que reuniu mais de mil bandas em Nova York

Halloween do rock

PAULO FEHLAUER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM NOVA YORK

A noite era de Halloween, mas o público não era lá tão assustador. Cabelos bagunçados, roupas "de atitude" (leia-se rasgadas, pintadas e bem usadas) e tênis surrados deixavam claro que o negócio ali era rock. Indie rock para ser mais exato.
Era a primeira noite do CMJ Marathon, festival de música independente realizado em Nova York no mês passado.
Com 120 horas de música sem parar, mais de mil bandas se apresentando, a maioria tentando sair do anonimato, painéis de discussão e filmes, o festival é o maior evento do gênero e está na 26ª edição. Como dizem os murmúrios por aqui, "é o Sundance da música" (comparação feita com o festival de cinema independente). "É onde toda banda quer aparecer", diz o vocalista da banda Raise the Red Lantern, Drew Elliott.
Para as bandas, o festival é um bom negócio. Quase todos ali tentam seguir os passos de, por exemplo, The Killers e Jet, que, depois dos palcos do festival, seguiram para o mundo. Há quem critique o evento por ser muito mainstream para se dizer independente. Mas o que importa é fazer barulho.
O grande show da noite de Halloween era o da banda americana The Rapture. Os integrantes encarnaram o espírito e apareceram fantasiados de esqueletos. Filas imensas e muita gente do lado de fora. Isso era apenas uma prévia de como seriam os próximos dias.
A solução era procurar shows mais obscuros, de grupos com nomes, digamos, mais criativos, como o romântico Someone Still Loves You, Boris Yeltsin (alguém ainda te ama, Boris Yeltsin) ou o colorido Green Milk from Planet Orange (leite verde do planeta laranja).
E ainda era terça-feira. Com o fim de semana chegando, os próximos dias seriam ainda "piores": incluíram a banda sueca The Knife, The Decemberists e Albert Hammond Jr., guitarrista dos Strokes em show solo, entre muitos outros.
Um dos shows mais esperados era o da gravadora SubPop, que trouxe, entre outros, The Shins e os brasileiros do Cansei de Ser Sexy. Mas as esperanças do repórter e de mais umas 200 pessoas que esperavam do lado de fora seriam completamente ignoradas. A apresentação já estava com ingressos esgotados havia semanas.
"É frustrante, mas vamos esperar até cansar. Se não der pra entrar, procuramos outra coisa", reclama o fã Geoff Aung, na fila por mais de uma hora.
Em resumo, o CMJ foi uma verdadeira maratona. Mas com tanta gente tocando em tantos lugares diferentes, até um pequeno bar com um pequeno palco e alguns sofás pode oferecer uma boa surpresa.
Um exemplo foi a última noite, que levou a um bar japonês os britânicos velhos de guerra da banda The Fall, com uma formação bem rejuvenescida, exceto pelo fundador e vocalista Mark E. Smith, que parecia ter saído de uma sessão frustrada dos Alcoólicos Anônimos.
Depois do show, o público esperou por uns 20 minutos, chamando pela banda, que não voltou. Era o fim do sábado e do festival, em grande estilo, diga-se de passagem.


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