Estaremos lhe enlouquecendo

QUEM JÁ ligou para um departamento de telemarketing -ou então já foi acordado no sábado de manhã pelos funcionários de um- já sabe. Eles têm resposta para tudo. Você está com uma dúvida cabeluda. Por exemplo: por que o Carnaval cada ano cai em uma data? Lá estão eles, em frente a uma tela do computador, com a resposta para tudo. Nem que seja: "Estaremos lhe encaminhando para o departamento responsável pelo Carnaval". E com a solução de deixar você pendurada ouvindo uma música por meia hora.
Como seria bom se na vida tivéssemos um desses rapazes e moças do telemarketing para nos auxiliar nos problemas de cotidiano. Principalmente nas discussões de relacionamento e nas desgraças do trabalho. Você vai ter uma DR com seu namorado. Antes, faz meditação, respira fundo, reflete sobre o aquecimento global, memoriza tudo o que vai falar, um discurso que você burilou depois de muito queimar a mufa (e, claro, com dicas incríveis do seu psicanalista e das suas amigas).
De repente, você está lá cara a cara com o sujeito. Mas cadê a tela miraculosa dos operadores de telemarketing? Aí você, que tinha bolado um texto incrível, superfina e analisada, começa a falar sandices que dão na telha. Fala o que não deve. Surta agressivamente. Chora. Fala mal da "ex". Se estivéssemos na nossa central de telemarketing emocional imaginária, nada disso aconteceria.
-Meu amor, nosso caso já era. - diria ele.
E a gente:
-Entendemos perfeitamente, estaremos lhe encaminhando para o setor de esquecimentos. Obrigada por participar.
O mesmo valeria para surtos totalmente desnecessários com ex-namorados. Ele te liga para desejar feliz Ano Novo. E você, num momento de regressão grave, começa a lembrar mágoas do passado e quase chora.
Se o serviço existisse, nosso homem do telemarketing responderia.
-Melhor você ligar direto para o setor de ex-namorados e dizer a mensagem, já que eles não atendem pessoalmente.Obrigado.
É claro que a vida seria menos emocionante. Coisas ditas fora da hora quase sempre são ditas na hora certa. O departamento imaginário do caos agradece.

Momento de histeria

Estaremos desejando que os nossos surtos não sejam gravados (nem na memória)


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