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MÚSICA
Numismata injeta indie-rock na tradição do samba
Nem todo Carnaval tem seu fim
GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL
Numismata é a pessoa que coleciona e estuda moedas, medalhas, tesouros. E não poderia haver
nome melhor para uma banda que
revira as preciosidades da música
brasileira e lhes dá polimento de luxo com uma sonoridade moderna.
"Brazilians on the Moon", primeiro álbum do Numismata, lançado
pelo selo independente Outros Discos, é todo marcado pelo encontro
da arqueologia do samba com o
cosmopolitismo do rock.
Mas, mais do que a vontade de
conciliar elementos musicais aparentemente distantes -e, em certa
medida, antagônicos-, a formação
do Numismata foi a maneira encontrada pelo guitarrista e principal
compositor do grupo, Adalberto
Rabelo Filho, 28, para unificar projetos diferentes, como as bandas O
Azeite e Mal Secreto, de música brasileira, e aardvark, de indie-rock.
Das bandas anteriores, foram incorporados o baixista Carlos H.
(Mal Secreto) e o baterista Rodrigo
Falcão (aardvark). Piero Damiani
(voz e percussão) e André Vilela
(guitarra) completam a formação.
"Achei que estava na hora de parar de ficar me dividindo em várias
bandas e juntar todas as coisas de
que gosto numa banda só", diz o
guitarrista, que cita como influências o samba de Cartola, Monsueto,
Geraldo Filme e Alcione "dos anos
70" e o rock de Flaming Lips, Radiohead e Elbow.
Essas influências se acomodam
organicamente em "Brazilians on
the Moon", a despeito do equilíbrio
frágil entre saudosismo e vanguarda presente no som do Numismata.
Do samba, vêm a cadência e a temática das letras. O indie-rock contribuiu com as tramas de guitarras e
os efeitos espaciais, criados só com
o uso de pedais, quase sem retoques
feitos no computador.
Nas letras, contudo, não há equilíbrio. Elas remetem ao cancioneiro
brasileiro anterior aos anos 70, como provam "Indulgente" ("Quando chora o meu pandeiro/ ah! ninguém cala o meu sofrer/ seu sofrer é
passageiro/ ah! em matéria de dor
eu sou mais eu") e "Leva Meu Samba" (Não posso mais, amor/ queira
me perdoar/ leva meu samba/ e toma cuidado para não voltar").
Ao lado das letras, os três covers
presentes no disco também revelam
o lado colecionador de preciosidades da banda. "Mal Secreto" é uma
parceira de Jards Macalé com Wally
Salomão, "Morfeu", um sambão de
Monsueto, e "Atômico Platônico",
de Jean Garfunkel e Ernandes, uma
balada proto-psicodélica que ganha
arranjo à la Mutantes. "Paulista fazendo psicodelia sempre parece
Mutantes", justifica-se Adalberto.
O segredo da banda é justamente
tirar o mofo da tradição e criar uma
nova sonoridade. Nisso, lembra Los
Hermanos. "Há semelhanças. Embora, para nós, a referência seja
mais o samba e, para os Hermanos,
a MPB. É sincronicidade", diz.
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