São Paulo, segunda-feira, 15 de março de 2004

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MÚSICA

Numismata injeta indie-rock na tradição do samba

Nem todo Carnaval tem seu fim

GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL

Numismata é a pessoa que coleciona e estuda moedas, medalhas, tesouros. E não poderia haver nome melhor para uma banda que revira as preciosidades da música brasileira e lhes dá polimento de luxo com uma sonoridade moderna.
"Brazilians on the Moon", primeiro álbum do Numismata, lançado pelo selo independente Outros Discos, é todo marcado pelo encontro da arqueologia do samba com o cosmopolitismo do rock.
Mas, mais do que a vontade de conciliar elementos musicais aparentemente distantes -e, em certa medida, antagônicos-, a formação do Numismata foi a maneira encontrada pelo guitarrista e principal compositor do grupo, Adalberto Rabelo Filho, 28, para unificar projetos diferentes, como as bandas O Azeite e Mal Secreto, de música brasileira, e aardvark, de indie-rock.
Das bandas anteriores, foram incorporados o baixista Carlos H. (Mal Secreto) e o baterista Rodrigo Falcão (aardvark). Piero Damiani (voz e percussão) e André Vilela (guitarra) completam a formação.
"Achei que estava na hora de parar de ficar me dividindo em várias bandas e juntar todas as coisas de que gosto numa banda só", diz o guitarrista, que cita como influências o samba de Cartola, Monsueto, Geraldo Filme e Alcione "dos anos 70" e o rock de Flaming Lips, Radiohead e Elbow.
Essas influências se acomodam organicamente em "Brazilians on the Moon", a despeito do equilíbrio frágil entre saudosismo e vanguarda presente no som do Numismata.
Do samba, vêm a cadência e a temática das letras. O indie-rock contribuiu com as tramas de guitarras e os efeitos espaciais, criados só com o uso de pedais, quase sem retoques feitos no computador.
Nas letras, contudo, não há equilíbrio. Elas remetem ao cancioneiro brasileiro anterior aos anos 70, como provam "Indulgente" ("Quando chora o meu pandeiro/ ah! ninguém cala o meu sofrer/ seu sofrer é passageiro/ ah! em matéria de dor eu sou mais eu") e "Leva Meu Samba" (Não posso mais, amor/ queira me perdoar/ leva meu samba/ e toma cuidado para não voltar").
Ao lado das letras, os três covers presentes no disco também revelam o lado colecionador de preciosidades da banda. "Mal Secreto" é uma parceira de Jards Macalé com Wally Salomão, "Morfeu", um sambão de Monsueto, e "Atômico Platônico", de Jean Garfunkel e Ernandes, uma balada proto-psicodélica que ganha arranjo à la Mutantes. "Paulista fazendo psicodelia sempre parece Mutantes", justifica-se Adalberto.
O segredo da banda é justamente tirar o mofo da tradição e criar uma nova sonoridade. Nisso, lembra Los Hermanos. "Há semelhanças. Embora, para nós, a referência seja mais o samba e, para os Hermanos, a MPB. É sincronicidade", diz.



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