São Paulo, segunda-feira, 15 de março de 2004

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Pesquisa mostra contraste entre as modalidades praticadas pelos jovens

Esportes extremos

ALESSANDRA KORMANN
DA REPORTAGEM LOCAL
Há cerca de 30 km entre dois universos separados por anos-luz de distância: de um lado, o Jardim Paulista, uma das áreas mais nobres de São Paulo, com seus condomínios de luxo, seus parques e suas academias de ginástica; de outro, o Jardim Noronha, dentro do distrito do Grajaú, no extremo sul da capital, com suas casinhas sem reboco, suas ruas sem asfalto e seus campos de futebol de terra.
Um dos muitos aspectos da diferença entre os dois mundos foi constatado em uma pesquisa Datafolha, em que foram entrevistados 1.206 jovens de 16 a 25 anos entre novembro e dezembro de 2003. O levantamento mostrou o contraste entre as modalidades esportivas praticadas pelos jovens das duas "áreas agregadas" (agrupamento de bairros para a realização da pesquisa). A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Na área da qual faz parte o Grajaú, o futebol é o esporte mais praticado: é o preferido de 36% dos entrevistados. Apenas 5% dos jovens fazem musculação, e 40% não fazem nenhuma atividade física.
Já na área do Jardim Paulista, o futebol é o esporte de apenas 8% dos jovens, e a musculação é a modalidade mais praticada, preferida por 21% dos entrevistados. É a área que tem menor índice de jovens que não fazem esporte: apenas 26%.
O futebol, que não precisa de nada além de uma bola e de um pouco de espaço para ser jogado, é o campeão em todas as áreas da cidade -menos na região do Jardim Paulista (veja mais detalhes na pág. 8).
"É a nossa única opção de esporte, não tem academia por aqui, e quadra só existe nas escolas", diz Josenilton Teixeira do Nascimento, 23, que joga futebol há dez anos todo domingo nos três campos do Jardim Noronha, que foram abertos pelos próprios moradores. Além de única opção de esporte, o futebol é a única alternativa de lazer no bairro. À noite, as pessoas costumam ficar em casa.
"Por incrível que pareça, aqui é bem tranqüilo, bem familiar. De vez em quando, tem um assassinato, mas o último aconteceu há mais de quatro meses. E isso só acontece com o pessoal que se envolve com drogas", diz Josenilton. Segundo ele, quando ocorrem esses assassinatos, os corpos são "desovados" no matagal atrás dos campos.
O estudante André Grunglasse, 17, mora no Jardim Paulista e faz musculação há um ano em uma academia 24 horas. "Gosto de malhar à noite. Depois do exercício, eu me sinto pronto para tudo, inclusive para ir para a balada", diz.
Para o coordenador da Juventude da Prefeitura de São Paulo, Alexandre Youssef, há três motivos para explicar o predomínio do futebol na cidade em detrimento da diversidade esportiva. "É uma mistura da falta de acesso a outros esportes com um vínculo forte com a cultura do futebol, principalmente nos bairros periféricos, onde se concentram as torcidas organizadas. Além disso, o futebol é o esporte mais barato de todos."
Youssef diz que o resultado da pesquisa servirá de subsídio para a Secretaria de Esportes. "Talvez com o tempo, com os equipamentos que estão sendo construídos pela prefeitura, a preferência por outros esportes comece a se diversificar, pois os jovens terão mais opções." Ele cita como exemplo os 17 CEUs e os 57 centros de bairro (praças com quadras poliesportivas) já construídos.



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