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Pesquisa mostra contraste entre as modalidades praticadas pelos jovens
Esportes extremos
ALESSANDRA KORMANN
DA REPORTAGEM LOCAL
Há cerca de 30 km entre dois universos
separados por anos-luz de distância:
de um lado, o Jardim Paulista, uma das
áreas mais nobres de São Paulo, com
seus condomínios de luxo, seus parques
e suas academias de ginástica; de outro, o
Jardim Noronha, dentro do distrito do
Grajaú, no extremo sul da capital, com
suas casinhas sem reboco, suas ruas sem
asfalto e seus campos de futebol de terra.
Um dos muitos aspectos da diferença
entre os dois mundos foi constatado em
uma pesquisa Datafolha, em que foram
entrevistados 1.206 jovens de 16 a 25 anos
entre novembro e dezembro de 2003. O
levantamento mostrou o contraste entre
as modalidades esportivas praticadas pelos jovens das duas "áreas agregadas"
(agrupamento de bairros para a realização da pesquisa). A margem de erro é de
dois pontos percentuais, para mais ou
para menos.
Na área da qual faz parte o Grajaú, o futebol é o esporte mais praticado: é o preferido de 36% dos entrevistados. Apenas
5% dos jovens fazem musculação, e 40%
não fazem nenhuma atividade física.
Já na área do Jardim Paulista, o futebol
é o esporte de apenas 8% dos jovens, e a
musculação é a modalidade mais praticada, preferida por 21% dos entrevistados. É a área que tem menor índice de jovens que não fazem esporte: apenas 26%.
O futebol, que não precisa de nada
além de uma bola e de um pouco de espaço para ser jogado, é o campeão em todas as áreas da cidade -menos na região do Jardim Paulista (veja mais detalhes na pág. 8).
"É a nossa única opção de esporte, não
tem academia por aqui, e quadra só existe nas escolas", diz Josenilton Teixeira do
Nascimento, 23, que joga futebol há dez
anos todo domingo nos três campos do
Jardim Noronha, que foram abertos pelos próprios moradores. Além de única
opção de esporte, o futebol é a única alternativa de lazer no bairro. À noite, as
pessoas costumam ficar em casa.
"Por incrível que pareça, aqui é bem
tranqüilo, bem familiar. De vez em
quando, tem um assassinato, mas o último aconteceu há mais de quatro meses.
E isso só acontece com o pessoal que se
envolve com drogas", diz Josenilton. Segundo ele, quando ocorrem esses assassinatos, os corpos são "desovados" no
matagal atrás dos campos.
O estudante André Grunglasse, 17, mora no Jardim Paulista e faz musculação
há um ano em uma academia 24 horas.
"Gosto de malhar à noite. Depois do
exercício, eu me sinto pronto para tudo,
inclusive para ir para a balada", diz.
Para o coordenador da Juventude da
Prefeitura de São Paulo, Alexandre
Youssef, há três motivos para explicar o
predomínio do futebol na cidade em detrimento da diversidade esportiva. "É
uma mistura da falta de acesso a outros
esportes com um vínculo forte com a
cultura do futebol,
principalmente nos
bairros periféricos,
onde se concentram as torcidas organizadas. Além
disso, o futebol é o
esporte mais barato
de todos."
Youssef diz que o
resultado da pesquisa servirá de
subsídio para a Secretaria de Esportes. "Talvez com o
tempo, com os
equipamentos que
estão sendo construídos pela prefeitura, a preferência
por outros esportes comece a se diversificar, pois os jovens terão mais opções."
Ele cita como exemplo os 17 CEUs e os 57
centros de bairro (praças com quadras
poliesportivas) já construídos.
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