São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 2002

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SAÚDE

60% dos novos doentes têm menos de 24 anos

Aids faz 6.000 vítimas jovens todos os dias

JAIRO BOUER
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE BARCELONA

Preste bem atenção: seis em cada dez novas infecções pelo vírus HIV no mundo estão acontecendo em pessoas com menos de 24 anos. São mais de 6.000 jovens infectados todos os dias. Se, em 2002, há 13,5 milhões de garotos e garotas vivendo com o vírus causador da Aids, no final desta década, esse número poderá chegar a 21,5 milhões.
Esses dados alarmantes foram divulgados durante a 14ª Conferência Internacional de Aids, que aconteceu em Barcelona na última semana.
Em países africanos como Botsuana, África do Sul e Zimbábue, de 30% a 45% dos adolescentes estão infectados pelo HIV. O número de garotas infectadas é o dobro do de garotos.
No Brasil, a porcentagem de jovens entre 15 e 24 anos que estão com o vírus é de 0,5% e a porcentagem de garotos e garotas é praticamente a mesma.
Mas, mesmo em países em que a taxa de infecção é baixa se comparada aos africanos, como nos EUA, metade das novas infecções acontece entre jovens e ainda há muitos problemas a enfrentar.
Populações carentes tanto em países pobres como as que vivem em condições marginalizadas em países ricos estão sob maior risco. Nos EUA, por exemplo, a Aids hoje é a principal causa de mortalidade entre os jovens negros.
No Brasil, segundo Paulo Teixeira, coordenador nacional do programa de DST/Aids, apesar da estabilização da epidemia entre os jovens, algumas populações específicas exigem mais cuidado.
Adolescentes infratores presos, jovens carentes das periferias das grandes cidades e rapazes homossexuais precisam de projetos que garantam maior atenção.
Os especialistas apontam que o único caminho para modificar essa situação no mundo é investir em educação (dentro e fora das escolas), fazendo trabalhos de prevenção e formando redes de trabalho com os próprios jovens.
Uma das iniciativas que mais chamaram a atenção em Barcelona foi a do programa Lovelife (Ame a Vida), implantado na África do Sul desde 1999.
A África é o continente que mais tem jovens infectados pelo HIV. O programa realizou-se por meio de uma parceria do governo sul-africano com ONGs locais e fundações americanas. Ele inclui um forte trabalho em todos os segmentos da mídia, a criação de 5.000 clínicas para adolescentes, a abertura de centros de juventude e a realização de jogos esportivos nacionais e de grandes shows.
Em 2001, um trabalho preliminar apontou que 62% dos jovens sul-africanos conheciam o Lovelife e que 65% desses relataram ter mudado seu comportamento após o início do programa.
Mayan-Peri Schweiss, 17, é uma das participantes. Ela está cursando o último ano do ensino médio e já trabalha na área de mídia do projeto, participando de um programa de TV que mostra a vida dos jovens sul-africanos. Extrovertida e comunicativa, ela garante que foi o Lovelife que mudou sua vida.
Essa é a chance que países como a África do Sul têm de mudar sua situação. Estimativas mostram que, se nada for feito, metade dos jovens do país vai morrer por causa da Aids nos próximos anos.
Outra iniciativa lançada em Barcelona foi uma associação da MTV com fundações americanas. O primeiro evento da parceria foi a gravação de um especial chamado "Staying Alive", em que jovens de 25 países fizeram perguntas sobre Aids para o ex-presidente americano Bill Clinton, para o ator inglês Rupert Everett, para o diretor da Unaids, Peter Piot, e para Paulo Teixeira, coordenador do programa de DST/Aids do Brasil.
"Staying Alive" será transmitido para 165 países e deve atingir um público potencial de 1 bilhão de jovens. Depois dele, virá uma campanha especial. No Brasil, você poderá assisti-lo no dia 20.


JAIRO BOUER viajou a Barcelona a convite do Laboratório Abbott

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