São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCUTA AQUI

Três "entrevistas" com três "supergênios" do Brasil

Entrevista do diretor de cinema David Fincher a uma revista inglesa.

Revista - A maioria de seus filmes traz uma espécie de mensagem subjacente, mas "Quarto do Pânico" é só um thriller. Você não quis arriscar?
David Fincher -
(...) Tudo bem, não é mesmo um filme sobre pessoas ou problemas reais. É sobre convenções de thrillers e de suspense. O espectador encontra uma mulher, ela visita uma casa, compra-a no mesmo dia e, na cena seguinte, três caras já a invadem. Sabe como é, isso não é vida real. Vamos ser honestos, não é Bergman [alusão a Ingmar Bergman, diretor de clássicos como "O Ovo da Serpente" e "Morangos Silvestres]".
Além de "Quarto do Pânico", Fincher dirigiu "apenas" "Clube da Luta", "Seven - Os Sete Pecados Capitais" e "Alien -3". Ainda assim, é capaz de uma resposta honesta como a que você leu acima.
Imagine, agora, a questão parecida a alguns "gênios" brasileiros. Veja como eles responderiam:

Pergunta - Carlinhos Brown, a maioria de seus discos trazia uma espécie de mensagem, mas este último parece mais comercial, feito para vender. Você não quis arriscar?
Carlinhos Brown -
A transcontemporaneidade do fator interétnico nos acordes globais é irreversível, só não enxerga quem não quer. Diante de uma retropotencialização de elementos afromultinacionais, arquitetei o batuque do balaco, o megatambor pulsante que nos projeta acima da velocidade da luz, rumo a um idílio sonoro-musical junto de Zeus, Ogum, Ganesh e outras divindades de uma era centrada no cyberCandial.

Pergunta - Caetano Veloso, a maioria de seus discos trazia uma espécie de mensagem, mas este último parece mais comercial, feito para vender. Você não quis arriscar?
Caetano Veloso -
Quem é você para me fazer essa pergunta? Sabe quem eu sou? Se não fosse por mim, não haveria indústria fonográfica no Brasil! Eu e Gilberto Gil afrontamos o monolítico establishment cultural brasileiro com a tropicália, criada por NÓS. Não há solução possível para uma estética genuinamente brasileira, além dos parâmetros fixados por MIM. Vá dizer ao imbecil de seu chefe que ele planejou essa pergunta para me destruir, mas que EU sou mais forte e eterno, e ele que se coloque no seu lugar. Canalha!

Pergunta - Arnaldo Antunes, a maioria de seus discos trazia uma espécie de mensagem, mas este último parece mais comercial, feito para vender. Você não quis arriscar?
Arnaldo Antunes -
Venda. Vivenda. (Vi)venda. Para re-vender. Vencer. Con-vencer. (Con-m)vencer. (Sem)vencer. Quem vence a convenção? Não convém vender. Vencer a convenção. Quem?


Texto Anterior: Clinton diz que HIV vai matar mais que guerra nuclear
Próximo Texto: Brasas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.