MARCELO GRIMBERG
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Imagine um esportista que se alimenta tão bem quanto a Solange Frazão, malha todo dia e vive pelo lema "sem dor, sem ganho". Se encontra um site em que alguém diz que se exercitar é coisa de desocupado e que bom mesmo é comer carne de porco e fumar, o que ele pode fazer? Ficar irritado, xingar e pouco mais, ao que parece.
Eis que representantes do Vaticano -tão rigorosos como nosso esportista- conseguiram, além de reclamar, pôr abaixo cinco sites que "cometiam blasfêmias contra Deus e a Virgem Maria". A queda dos endereços, hospedados na Itália, aconteceu após uma queixa do diário do papado, o "L'Osservatore Romano".
Nada contra o Vaticano nem a favor dos blasfemadores, mas a questão parece ferir a liberdade de exprimir valores e ideais, independentemente do teor, um dos fatores que consagraram a internet. Pode-se dizer que o direito de um acaba onde começa o respeito ao outro, o que é justo no dia-a-dia, mas, no mundo virtual, soa no mínimo irreal.
Pois imagine se a moda pega. Vai ser um tal de gente tentando derrubar o site do Corinthians só porque é palmeirense ou o da Britney só porque curte Iron Maiden. Hackers sem causa agindo em nome da fé. Mas, se a fé é tanta, melhor mesmo é pregar a paz e a boa vizinhança.

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