São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 2002

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FOLHATEEN EXPLICA

Encontrado no Chade, o hominídeo Toumai reescreve a evolução

Fóssil de 7 milhões de anos pode ser tataravô da humanidade

REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Pode até não ser o elo perdido, mas nunca passamos tão perto: o Sahelanthropus tchadensis (para quem não sabe latim, o "Homem do Sahel chadiano") é o mais antigo membro dos hominídeos, a família de grandes primatas que inclui o homem e todos os seus ancestrais mais próximos. Com 7 milhões de anos nas costas, a criatura nos leva para muito perto do enigmático momento em que os tataravôs da humanidade se separaram dos bichos que deram origem aos atuais chimpanzés.
Do animal só restam, por enquanto, um crânio incompleto, alguns dentes e pedaços da mandíbula, achados pelo paleoantropólogo francês Michel Brunet num deserto do Chade, África Central. Batizado de Toumai ("esperança de vida" na língua goran), o homem-macaco (pelo jeito, um macho) é um quebra-cabeças difícil de resolver, de acordo com alguns especialistas.
"Ele não é o que nós esperaríamos", diz Bernard Wood, da Universidade George Washington (EUA). "Um hominídeo dessa idade teria uma ou duas coisinhas que lembrariam um ser humano. Mas esse crânio, visto de trás, parece o de um chimpanzé, enquanto a face é muito moderna, quase a de um australopiteco com uns 2 milhões de anos", explica o pesquisador inglês.
Para Wood, isso bagunça totalmente a velha idéia de uma linha reta ligando progressivamente os hominídeos ao Homo sapiens. Se um bicho tão antigo parece tão novo, só existem duas opções: ou ele desenvolveu o rosto "moderno" independentemente e portanto não é um ancestral do homem, ou Toumai é a verdadeira raiz da nossa árvore genealógica.
Acontece que, nesse caso, a longa linhagem dos australopitecos, que tinham um rosto mais parecido com o dos macacos, teria de ser excluída da família em favor dos supostos descendentes do homem-macaco chadiano, todos ainda desconhecidos.
Há quem diga, como Tim White, da Universidade da Califórnia em Berkeley, que tudo isso é uma bobagem: "Essa face dificilmente é moderna, a mandíbula se projeta muito para a frente". Dessa forma, a criatura se encaixaria como uma luva na passagem de formas primitivas para formas mais modernas. Seja como for, ainda há muito a se saber sobre Toumai -inclusive se ele andava com duas pernas, como acha Brunet.


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