São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

tecnologia

Futurologia pop

Software israelense que prevê futuros sucessos das paradas quer revelar e lançar os novos Beatles

JULIANA CALDERARI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Na última semana, pesquisadores da universidade de Tel Aviv, em Israel, divulgaram a criação de um software que pode iluminar o decadente mercado fonográfico. Estudando o site de compartilhamento de arquivos Gnutella, durante um período de nove meses do ano passado, o professor Yuval Shavitt e dois ex-alunos do departamento de engenharia elétrica conseguiram prever alguns dos hits que estouraram poucos meses depois nos EUA.
"Até agora, os caça-talentos e as gravadoras usavam seus instintos para prever quem seriam as novas estrelas do rock. Nosso programa tem uma taxa de acerto que varia entre 30% e 50%", afirma o professor em entrevista por e-mail ao Folhateen. "Mesmo não sendo infalível, o software pode nos ajudar a achar os próximos Beatles."
Durante a pesquisa, Shavitt percebeu que, antes de se tornarem conhecidas nacionalmente, algumas bandas e cantores registraram um alto índice de procura de suas músicas em suas cidades, mesmo que, fora delas, esse índice fosse zero. Surpreendentemente, muitos dos novos artistas começaram sua "carreira" com apenas cinco buscas por semana no site de trocas. Esse número aumentou para dez, 20 e chegou até 150. No caso de certas metrópoles, a procura era limitada a um bairro apenas. "Atualmente, a maior parte dos sucessos é de hip hop ou r&b, gêneros tipicamente urbanos."
Os rappers Soulja Boy e Sean Kingston estiveram entre as previsões de Shavitt em abril de 2007. Ambos chegaram ao primeiro lugar da Billboard nos meses de junho e agosto, respectivamente. O grupo americano Shop Boyz também apareceu no software desenvolvido pela universidade antes de ficar conhecido nos EUA.
Para sair do gueto e ganhar a opinião pública o pesquisador aponta dois caminhos. "Depois de verificar o sucesso local, os caça-talentos oferecem um contrato aos artistas e usam a publicidade e a mídia de massa, como a MTV. Outros conseguem usar a internet e sites como Facebook e YouTube para tanto". O grupo Cansei de Ser Sexy e a cantora adolescente Mallu Magalhães são dois bons exemplos.
Caso a tecnologia passe a determinar as apostas das gravadoras, alguns músicos podem perder a oportunidade de serem descobertos pelos olheiros durante shows. "Alguns vão perder a chance, enquanto outros que não a teriam vão passar a ter", justifica Shavitt.
Gilmar Laurindo, diretor da revista "Sucesso!", que durante dez anos produziu o ranking semanal da venda de discos no Brasil publicado na Billboard, acredita que o software não trará muitas mudanças. "É uma ferramenta que pode ajudar na descoberta de novos talentos, mas que não vai substituir o "feeling" humano. Além disso, pode ser manipulada."
O programa pode ser usado ainda para obter previsões de futuros sucessos de outras mídias, como DVDs e ringtones. E, em tempos em que a internet cria fenômenos da noite para o dia, gravadoras estão cada vez mais com os dias contados.


Texto Anterior: Tem que correr atrás de auxílio
Próximo Texto: Como funciona o truque
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.