São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

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02 NEURÔNIO

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A menina pichadora

"IDEOLOGIA, EU quero uma para viver". A frase do Cazuza pode parecer idiota. Mas não é. A gente precisa, sim, acreditar em algo. Mesmo que seja em uma coisa que quase todo o resto do mundo ache boba, como, por exemplo, a pichação. Caroline Pivetta da Mota, 23, acredita nisso. Tanto que, ao ser presa, logo depois de pichar a Bienal de São Paulo com os seus amigos, gritou: "E viva o picho!".
Neste momento, já vemos os e-mails de leitores se avolumando em nossa caixa postal. "Mas pichar é crime." Sim, sabemos disso. "Mas pichação não é arte." Disso a gente não tem certeza, mas essa é uma discussão muito longa que não vai caber nesta coluna.
O que interessa: Carol está há quase 50 dias presa em São Paulo. Atenção. Ela era a única menina do grupo. E é a única que está presa. Os caras correram e conseguiram se safar. Um deles também foi preso, mas responde processo em liberdade. Achamos que ela ainda estar presa por fazer uma pichação em uma bienal de arte cujo tema era o vazio é um absurdo. Se é vazio, que se ocupe. E vamos discutir sobre pichação depois, com calma. O que achamos com certeza é que cada um se expressa como pode.
Escrevemos um pouco sobre isso no nosso blog. E tomamos um susto. Recebemos comentários de pessoas dizendo que a menina "merece levar um pau", "apodrecer na cadeia" e por aí vai. E tem até gente muito decepcionada com a gente só porque pensamos que uma menina não deve ficar presa por ser, no máximo, inconseqüente. E quem, às vezes, não é? Mas a turba quase nos engoliu.
Dizem que queremos que a menina seja solta porque nunca tivemos o muro da nossa casa pichado. Essa acusação é chocante. Desde quando a gente defende só aquilo que atinge o nosso umbigo? Não, nunca tivemos muros pichados. Mas nem por isso deixamos de nos interessar sobre o caso da menina que disse aqui nesta mesma Folha que queria protestar contra "o fato de muitas pessoas não terem acesso àquilo tudo que significa uma bienal".
Mas, bem, agora, nós que seremos pichadas. Mas faz parte do risco de quem acredita em liberdade de expressão. Podem vir. A gente encara.

Momento de histeria

Leva-se muito tempo para ser jovem


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