FIM DE ANO é época de banzo. Nos brasileiros que moram fora, bate aquela saudade da vida mansa daqui. E, nos brazucas que já viveram nos EUA ou na Europa, vem aquela lembrança de como as cidades gringas ficam lindas no Natal. Mas banzo é saudade, e saudade é idealização. A vida no Brasil não é tão mansa, e a beleza do Natal não apaga os trocentos aspectos chatos de um país desenvolvido. Pensei nisso depois de ler uma reportagem da revista "New Yorker", edição especial de comida (tem uma por ano, e por ela espero ansiosamente -cada um com seus prazeres).
O texto, de Calvin Trillin, é sobre"the best barbecue joint in Texas", algo como o melhor boteco com grelha do Texas.
O nome do boteco é Snow's, numa cidade sem graça, Lexington. A porcaria que eles chamam de churrasco vem na forma de uma porção de lingüiças, um teco de frango e um corte bovino, especialidade local, o "brisket". A porção chega numa cestinha, sobre uma folha de papel.
Como desgraça pouca é bobagem, atenção para o esquema do restaurante. Só funciona no fim de semana, abre sábado de manhã cedinho e fecha assim que acaba a carne (e acaba rápido).
Assim, o pobre Calvin Trillin, enviado para provar as "iguarias", se deu conta de que, num sábado às 9h, ele já tinha almoçado! Pior: tinha levantado às 7h, porque às 7h20 o pessoal passaria para pegá-lo no hotel.
Recapitulando o que americano entende por diversão. Acordar às 7h. Pegar carona com os amigos às 7h20. Antes da 8h, estar na fila do "churrasco". Antes das 9h, já estar de pança cheia. Fim.
Votando ao banzo: não há belo Natal que conserte um país daqueles. Talvez seja melhor nossa vida mansa. Mesmo que de mansa não tenha nada.