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CARNAVAL
Saiba o que o álcool provoca no seu corpo e na sua mente
Tire o pé da jaca
ALESSANDRA KORMANN
DA REPORTAGEM LOCAL
A expressão "letra morta" significa uma
lei que existe no papel, mas que ninguém cumpre. Parece o caso da proibição de venda de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos: uma pesquisa da Unesco mostrou que no Brasil os jovens começam a beber aos 13 anos em média.
No Carnaval, então, nem se fala: a festa
tem tudo a ver com a sensação de euforia
que o álcool provoca em um primeiro
momento. Seja na avenida, no bloco de
rua, atrás do trio elétrico ou mesmo viajando com a turma para fugir de tudo isso, é difícil quem deixe de tomar muitas
nessa época.
O problema é que a balada pode trazer
conseqüências piores do que a ressaca no
dia seguinte. "Uma taça de vinho por dia
pode até fazer bem a um adulto saudável,
mas não há evidências de que o consumo
de pequenas doses faça bem aos jovens.
Normalmente, encontramos muitos
problemas associados ao consumo de álcool na adolescência", afirma o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador da
Unidade de Álcool e Drogas da Universidade Federal de São Paulo.
O primeiro deles é o efeito tóxico do álcool. "Se você derramar álcool no sofá de
couro durante a noite inteira, vai poder
observar o estrago. É a mesma coisa que
acontece no tubo gastrointestinal", diz.
Esse efeito tóxico vai percorrer todo o
corpo, "da ponta do dedo do pé ao último fio de cabelo", segundo o médico. No
estômago e no intestino, causa irritação,
azia, diarréia e náusea.
Por causa da desidratação e da queda
na taxa de glicose que o álcool provoca, é
comum ter dor de cabeça no dia seguinte. "A glicose é a principal fonte de energia do corpo humano. É ela que mantém
as funções vitais do organismo, além de
ser indispensável para o cérebro e para
os músculos", explica o médico Gustavo
Campos, especializado em medicina esportiva do Espaço Stella Torreão, no Rio.
Além dos efeitos físicos imediatos, o
consumo excessivo de álcool pode desencadear várias doenças a longo prazo. Mas não é só. O álcool tem
um efeito bifásico, ou seja, primeiro vem
a euforia, momento em que predispõe a
pessoa a ficar mais agressiva e a arrumar
alguma encrenca. Depois, vem o efeito
sedativo, que dá sonolência e diminui os
reflexos. Nessa fase, o risco de se machucar aumenta, principalmente se a pessoa
tiver idéias erradas, como entrar no mar
ou sair dirigindo.
Foi o que aconteceu com o estudante
de administração Luciano Marthus Rodrigues, 26, quando ele tinha 22 anos e
destruiu um Gol que tinha comprado zero-quilômetro um ano antes. O carro
não tinha seguro. "O fato de eu ter bebido atrapalhou muito, você fica sem reflexo, sem noção da velocidade."
Depois de uma noitada em Itanhaém,
quando voltava para casa com dois amigos e três meninas, um policial pediu a
ele que parasse. Como os documentos
do carro não estavam em dia e ele estava
perto de casa, acelerou e tentou fugir. Ao
fazer uma manobra, entrou de frente em
um poste. Por sorte, ninguém se feriu
gravemente. "De manhã, quando voltei
da delegacia e vi meu carro em cima do
guincho, quase chorei." Agora ele diz
que não bebe mais antes de dirigir.
De acordo com Vilma Leyton, chefe do
Departamento de Álcool e Drogas da
Abramet (Associação Brasileira de Medicina do Tráfego), 47% das 2.360 pessoas que morreram em acidentes de
trânsito haviam ingerido bebida alcoólica. Em média, elas estavam com 2,1 gramas de álcool por litro de sangue. A taxa
permitida pela legislação brasileira é de
0,6 g/l. Quem for detido dirigindo alcoolizado pode ter o carro apreendido, perder a habilitação e pegar de seis meses a
três anos de prisão, além de pagar multa.
Em uma pesquisa feita por Leyton com
estudantes universitários, eles ultrapassaram esse limite com apenas três latinhas de cerveja. "Alguns suportam menos. Mesmo assim, vale a regra: se vai dirigir, não beba. Se beber, entregue o carro a alguém ou volte de táxi", diz.
A estudante de biologia Denise Ferreira de Moura Leite, 19, faz isso. "Tem gente que fala para beber só no começo da
balada, mas eu não gosto. Quando estou
dirigindo, não bebo, fico "noiada". Já
aconteceu de eu beber dois copos de cerveja e dirigir depois, mas não gostei. A
atenção não é a mesma." É verdade.
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