São Paulo, segunda-feira, 16 de fevereiro de 2004

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CARNAVAL

Saiba o que o álcool provoca no seu corpo e na sua mente

Tire o pé da jaca

ALESSANDRA KORMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

A expressão "letra morta" significa uma lei que existe no papel, mas que ninguém cumpre. Parece o caso da proibição de venda de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos: uma pesquisa da Unesco mostrou que no Brasil os jovens começam a beber aos 13 anos em média.
No Carnaval, então, nem se fala: a festa tem tudo a ver com a sensação de euforia que o álcool provoca em um primeiro momento. Seja na avenida, no bloco de rua, atrás do trio elétrico ou mesmo viajando com a turma para fugir de tudo isso, é difícil quem deixe de tomar muitas nessa época.
O problema é que a balada pode trazer conseqüências piores do que a ressaca no dia seguinte. "Uma taça de vinho por dia pode até fazer bem a um adulto saudável, mas não há evidências de que o consumo de pequenas doses faça bem aos jovens. Normalmente, encontramos muitos problemas associados ao consumo de álcool na adolescência", afirma o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador da Unidade de Álcool e Drogas da Universidade Federal de São Paulo.
O primeiro deles é o efeito tóxico do álcool. "Se você derramar álcool no sofá de couro durante a noite inteira, vai poder observar o estrago. É a mesma coisa que acontece no tubo gastrointestinal", diz.
Esse efeito tóxico vai percorrer todo o corpo, "da ponta do dedo do pé ao último fio de cabelo", segundo o médico. No estômago e no intestino, causa irritação, azia, diarréia e náusea.
Por causa da desidratação e da queda na taxa de glicose que o álcool provoca, é comum ter dor de cabeça no dia seguinte. "A glicose é a principal fonte de energia do corpo humano. É ela que mantém as funções vitais do organismo, além de ser indispensável para o cérebro e para os músculos", explica o médico Gustavo Campos, especializado em medicina esportiva do Espaço Stella Torreão, no Rio.
Além dos efeitos físicos imediatos, o consumo excessivo de álcool pode desencadear várias doenças a longo prazo. Mas não é só. O álcool tem um efeito bifásico, ou seja, primeiro vem a euforia, momento em que predispõe a pessoa a ficar mais agressiva e a arrumar alguma encrenca. Depois, vem o efeito sedativo, que dá sonolência e diminui os reflexos. Nessa fase, o risco de se machucar aumenta, principalmente se a pessoa tiver idéias erradas, como entrar no mar ou sair dirigindo.
Foi o que aconteceu com o estudante de administração Luciano Marthus Rodrigues, 26, quando ele tinha 22 anos e destruiu um Gol que tinha comprado zero-quilômetro um ano antes. O carro não tinha seguro. "O fato de eu ter bebido atrapalhou muito, você fica sem reflexo, sem noção da velocidade."
Depois de uma noitada em Itanhaém, quando voltava para casa com dois amigos e três meninas, um policial pediu a ele que parasse. Como os documentos do carro não estavam em dia e ele estava perto de casa, acelerou e tentou fugir. Ao fazer uma manobra, entrou de frente em um poste. Por sorte, ninguém se feriu gravemente. "De manhã, quando voltei da delegacia e vi meu carro em cima do guincho, quase chorei." Agora ele diz que não bebe mais antes de dirigir.
De acordo com Vilma Leyton, chefe do Departamento de Álcool e Drogas da Abramet (Associação Brasileira de Medicina do Tráfego), 47% das 2.360 pessoas que morreram em acidentes de trânsito haviam ingerido bebida alcoólica. Em média, elas estavam com 2,1 gramas de álcool por litro de sangue. A taxa permitida pela legislação brasileira é de 0,6 g/l. Quem for detido dirigindo alcoolizado pode ter o carro apreendido, perder a habilitação e pegar de seis meses a três anos de prisão, além de pagar multa.
Em uma pesquisa feita por Leyton com estudantes universitários, eles ultrapassaram esse limite com apenas três latinhas de cerveja. "Alguns suportam menos. Mesmo assim, vale a regra: se vai dirigir, não beba. Se beber, entregue o carro a alguém ou volte de táxi", diz.
A estudante de biologia Denise Ferreira de Moura Leite, 19, faz isso. "Tem gente que fala para beber só no começo da balada, mas eu não gosto. Quando estou dirigindo, não bebo, fico "noiada". Já aconteceu de eu beber dois copos de cerveja e dirigir depois, mas não gostei. A atenção não é a mesma." É verdade.



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