São Paulo, segunda-feira, 16 de março de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ciência

Zoo das galáxias

Projeto on-line pede que internautas ajudem cientistas a classificar galáxias

DIOGO BERCITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Imagine que um grupo de cientistas tem, hoje, acesso a 250 mil fotografias de galáxias espalhadas pelo universo. E que eles precisam classificar todas elas, uma a uma, para dar continuidade às suas pesquisas sobre o cosmo.
É exatamente aí que você se encaixa, com seu conhecimento quase nulo sobre astronomia. O pulo do gato, que faz com que sua contribuição de amador gere frutos científicos, está no "Galaxy Zoo 2" (www.galaxyzoo.org), site que pede ajuda a internautas do mundo inteiro para classificar as galáxias fotografadas pelo telescópio do Sloan Digital Sky Survey -projeto financiado por instituições de países como os Estados Unidos, o Japão e o Brasil.
Uma vez cadastrado no "Galaxy Zoo 2", o visitante tem de observar imagens de galáxias e responder a perguntas simples sobre elas. Por exemplo, ela tem braços em espiral ou não? Se tem, quão soltos eles estão em relação ao corpo? E o brilho do centro, quão forte é em comparação ao resto?
Não foi por acaso -nem por preguiça ou falta de dinheiro- que os cientistas pediram auxílio a pessoas que não conhecem o assunto. É que o trabalho exige uma habilidade que computador nenhum tem, por enquanto: a de fazer observações subjetivas sobre imagens.

"Test drive"
Antes de responder às questões do site, o internauta passa por um curso on-line que não dura mais de dez minutos, com exemplos bem didáticos do que fazer e o que não fazer.
Não é obrigatório, mas ajuda um bocado a quem quer fazer o trabalho a sério.
Mas, e se o visitante se distrair e errar na hora de responder às perguntas dos cientistas? Não tem problema. Será levada em conta a resposta apontada pelo maior número de pessoas. E gente é o que não falta.
Lançado em fevereiro deste ano, o site é a continuação do "Galaxy Zoo 1", que começou em julho de 2007 e, no seu primeiro ano, recebeu 50 milhões de classificações de 150 mil usuários diferentes.
Agora, os telescópios estão apontados para outro grupo de galáxias -as mais próximas da Via Láctea, onde moramos.
Graças ao site, o resultado final da cooperação entre cientistas e internautas será um conjunto de artigos e, possivelmente, descobertas no campo da astronomia.

Conclusões
A partir das observações simples da maioria dos internautas é possível chegar a muitas conclusões importantes.
Durante o "Galaxy Zoo 1", por exemplo, os cientistas descobriram que um terço das galáxias vermelhas são espirais e que elas não têm preferência por girar no sentido horário ou anti-horário.
Houve também a sortuda professora holandesa Hanny van Arkel que, enquanto navegava pelo site, deparou-se com um objeto azul estranho -que hoje os astrônomos conhecem por "Hanny's Voorwerp" (objeto da Hanny, em holandês).
Ele ainda não foi explicado, mas a professora já ganhou até verbete na Wikipedia.
As teses publicadas a partir das classificações dos usuários estão disponíveis para download no site do projeto, assim como a relação das pesquisas que ainda estão em andamento.
Boa parte das perguntas que o "Galaxy Zoo 2" quer responder têm a ver com o formato das galáxias -por exemplo, como são formadas as barras brilhantes que algumas delas, como a nossa Via Láctea, apresentam nos seus centros?

Raridades
No fórum de discussões do projeto -que conta com mais de 11 mil usuários e cerca de 280 mil mensagens postadas-, os objetos estranhos causam polêmica entre os usuários. Os mais aplicados postam as imagens com que se depararam e pedem ajuda para classificá-las.
O tutorial do site deixa claro quais são as imagens às quais o visitante precisa se ater. Um exemplo são as lentes gravitacionais -grupos de galáxias com tanta matéria que conseguem curvar o caminho da luz e, assim, distorcer o formato das galáxias ao seu redor.
É difícil para um computador encontrar um caso desses, mas, para um olho atento, a tarefa fica menos complicada.
Por ser bem fácil de operar -e por deixar a impressão de que algum bem está sendo feito à humanidade- o site logo cativa o internauta e rouba dele um bocado de tempo. E, quem sabe, ele não descobre também seu próprio objeto cósmico?


Texto Anterior: Teatro: O espírito de Will
Próximo Texto: Pé na bunda on-line
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.