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ciência
Zoo das galáxias
Projeto on-line pede que internautas
ajudem cientistas a classificar galáxias
DIOGO BERCITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Imagine que um grupo
de cientistas tem, hoje,
acesso a 250 mil fotografias de galáxias espalhadas pelo universo. E
que eles precisam classificar todas elas, uma a uma, para dar
continuidade às suas pesquisas
sobre o cosmo.
É exatamente aí que você se
encaixa, com seu conhecimento quase nulo sobre astronomia. O pulo do gato, que faz
com que sua contribuição de
amador gere frutos científicos,
está no "Galaxy Zoo 2" (www.galaxyzoo.org), site que pede
ajuda a internautas do mundo
inteiro para classificar as galáxias fotografadas pelo telescópio do Sloan Digital Sky Survey
-projeto financiado por instituições de países como os Estados Unidos, o Japão e o Brasil.
Uma vez cadastrado no "Galaxy Zoo 2", o visitante tem de
observar imagens de galáxias e
responder a perguntas simples
sobre elas. Por exemplo, ela
tem braços em espiral ou não?
Se tem, quão soltos eles estão
em relação ao corpo? E o brilho
do centro, quão forte é em
comparação ao resto?
Não foi por acaso -nem por
preguiça ou falta de dinheiro-
que os cientistas pediram auxílio a pessoas que não conhecem o assunto. É que o trabalho exige uma habilidade que
computador nenhum tem, por
enquanto: a de fazer observações subjetivas sobre imagens.
"Test drive"
Antes de responder às questões do site, o internauta passa
por um curso on-line que não
dura mais de dez minutos, com
exemplos bem didáticos do que
fazer e o que não fazer.
Não é obrigatório, mas ajuda
um bocado a quem quer fazer o
trabalho a sério.
Mas, e se o visitante se distrair e errar na hora de responder às perguntas dos cientistas?
Não tem problema. Será levada
em conta a resposta apontada
pelo maior número de pessoas.
E gente é o que não falta.
Lançado em fevereiro deste
ano, o site é a continuação do
"Galaxy Zoo 1", que começou
em julho de 2007 e, no seu primeiro ano, recebeu 50 milhões
de classificações de 150 mil
usuários diferentes.
Agora, os telescópios estão
apontados para outro grupo de
galáxias -as mais próximas da
Via Láctea, onde moramos.
Graças ao site, o resultado final da cooperação entre cientistas e internautas será um
conjunto de artigos e, possivelmente, descobertas no campo
da astronomia.
Conclusões
A partir das observações simples da maioria dos internautas
é possível chegar a muitas conclusões importantes.
Durante o "Galaxy Zoo 1",
por exemplo, os cientistas descobriram que um terço das galáxias vermelhas são espirais e
que elas não têm preferência
por girar no sentido horário ou
anti-horário.
Houve também a sortuda
professora holandesa Hanny
van Arkel que, enquanto navegava pelo site, deparou-se com
um objeto azul estranho -que
hoje os astrônomos conhecem
por "Hanny's Voorwerp" (objeto da Hanny, em holandês).
Ele ainda não foi explicado,
mas a professora já ganhou até
verbete na Wikipedia.
As teses publicadas a partir
das classificações dos usuários
estão disponíveis para download no site do projeto, assim
como a relação das pesquisas
que ainda estão em andamento.
Boa parte das perguntas que
o "Galaxy Zoo 2" quer responder têm a ver com o formato
das galáxias -por exemplo, como são formadas as barras brilhantes que algumas delas, como a nossa Via Láctea, apresentam nos seus centros?
Raridades
No fórum de discussões do
projeto -que conta com mais
de 11 mil usuários e cerca de
280 mil mensagens postadas-,
os objetos estranhos causam
polêmica entre os usuários. Os
mais aplicados postam as imagens com que se depararam e
pedem ajuda para classificá-las.
O tutorial do site deixa claro
quais são as imagens às quais o
visitante precisa se ater. Um
exemplo são as lentes gravitacionais -grupos de galáxias
com tanta matéria que conseguem curvar o caminho da luz
e, assim, distorcer o formato
das galáxias ao seu redor.
É difícil para um computador
encontrar um caso desses, mas,
para um olho atento, a tarefa fica menos complicada.
Por ser bem fácil de operar
-e por deixar a impressão de
que algum bem está sendo feito
à humanidade- o site logo cativa o internauta e rouba dele um
bocado de tempo. E, quem sabe, ele não descobre também
seu próprio objeto cósmico?
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