São Paulo, segunda-feira, 16 de agosto de 2004

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O massacre das crianças

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR

Numa ilha deserta do arquipélago japonês, 42 adolescentes têm de cumprir uma ordem do governo: matarem-se uns aos outros. Eles estão lá contra a vontade. Foram drogados, dormiram e, ao acordar, viram-se dentro desse pesadelo sem escapatória: a Battle Royale, uma batalha sangrenta e real, que só acaba quando resta um único sobrevivente.
O cenário é um Japão neofascista, com desemprego alto e desprezo dos jovens por todo tipo de autoridade. Nas escolas, professores são maltratados, humilhados. Quando os alunos se dignam a aparecer.
Num ato extremo para moralizar o país, o governo edita o Ato Institucional da Batalha Real. Segundo essa lei -represália extrema ao afrontoso comportamento juvenil-, todo ano um grupo de estudantes é escolhido ao acaso para participar da Batalha Real. Não importa se entre eles há grandes amigos, namorados, companheiros. Na BR, só existe um vencedor.
Ao chegar à ilha, cada jovem ganha uma arma: pode ser uma pistola, um fuzil, uma metralhadora, uma foice. Mas também há quem receba um par de binóculos, uma tampa de panela, um localizador eletrônico tipo GPS.
A essas alturas, o leitor mais ligado em cinema e bizarrices asiáticas já percebeu que estamos falando do filme "Battle Royale" (2000), continuamente citado pelo diretor americano Quentin Tarantino como principal influência na criação dos dois "Kill Bill". A adoração é tanta que Tarantino dedicou "Kill Bill" ao diretor de "Battle Royale", Kinji Fukasako (1930-2003).
Fukasako, que tinha 70 anos ao filmar "BR", leva a violência a níveis inimagináveis. Há de tudo: suicídios, garotos fuzilando os melhores amigos, menininhas cuspindo sangue e uma cabeça decepada com um granada na boca. Mas são cenas de tal modo incorporadas à narrativa, e o roteiro é tão envolvente, que não há nada gratuito ou repugnante.
Nenhum tabu fica em pé nessa obra de arte genial e devastadora, que no Japão passou em grande circuito comercial e chegou a número um nas bilheterias (nos EUA, ninguém teve coragem de lançar).
Pesquise na internet, não deixe de ver.


Álvaro Pereira Júnior, 41, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
E-mail: cby2k@uol.com.br


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