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CINEMA
Câmera na mão
Jovens de comunidades carentes aprendem a fazer cinema produzindo documentários sobre histórias de superação
Divulgação
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Da esq. para a dir., Thiago (em pé), 18, Wagner, 16, Thayane, 14, Dayana, 16, Nelson Pereira dos Santos, 75, Aline, 19, Márcio, 18, Wilney (na frente), 16, Willian, 15, Lourenço, 17, e Ricardo, 17; no alto, Aline entrevista o colega Lourenço
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DA REPORTAGEM LOCAL
"Eu moro no bairro do Gogó e da
Ema, famoso porque aqui matavam muita gente pelo gogó, cortando o pescoço", conta, naturalmente,
Jordana Vicente Gonçalves, 18, descrevendo o local onde mora, em Belford Roxo, na
região metropolitana do Rio. Por causa do
bairro em que mora, ela tinha certeza de
que não ia ganhar um concurso de redação,
que dava como prêmio R$ 500. "Ninguém
olha para cá."
Como gosta de escrever, resolveu participar assim mesmo. O tema da redação era a
baía da Guanabara. Jordana inventou a história de uma plantinha aquática que vivia lá
e estava quase morrendo de tristeza, sem
respirar direito, por causa da poluição.
Mandou a redação pelo correio e esqueceu.
Quase um ano depois, recebeu a notícia
de que havia ficado em terceiro lugar. Além
do dinheiro, também ganhou um curso de
dramaturgia no teatro Ziembinski, na Tijuca, e aprendeu a escrever peças. Sua primeira peça, "Anjinhos e Capetinhas", ficou
dois meses em cartaz, com o teatro lotado.
"Eu não acreditava que isso estava acontecendo", Jordana conta no DVD "Gente É
para Brilhar - Histórias que Valem a Pena
Serem Contadas". A vida dela é o tema de
uma das seis histórias retratadas no projeto
da ONG Cima (Centro de Informação, Cultura e Meio Ambiente), em parceria com
diversas empresas, lançado no começo do
mês. Dez jovens de comunidades carentes,
selecionados entre 150 participantes de um
programa de combate à evasão escolar, ajudaram a fazer o DVD, que agora está sendo
distribuído para a rede municipal de ensino do Rio de Janeiro.
Por dois meses, eles fizeram um curso em
período integral de direção, produção, roteiro, som e fotografia na Academia Internacional de Cinema, no Rio. Além das histórias de outros jovens como eles, também
fizeram um documentário sobre Nelson
Pereira dos Santos, um dos cineastas mais
importantes do Cinema Novo, que fez
obras como "Rio 40 Graus" (1955) e "Vidas
Secas" (1963).
"Eu aprendi muita coisa, entende? Antes
do projeto, eu não tinha noção do que era o
cinema. Eu assistia ao filme e pronto. Agora
vejo tudo com outros olhos. Para fazer um
filme de minutos, é preciso um trabalho
imenso, não só de uma pessoa, mas de toda
uma equipe", diz Aline de Paiva Pereira, 19,
uma das meninas do projeto, que pensa em
trabalhar com filmes publicitários. Ela voltou a estudar e está no 1º ano do ensino médio. "Percebi que, se não estudar, não vou
conseguir fazer o que eu quero."
Lourenço Teixeira de Souza Júnior, 17,
também está no 1º ano do ensino médio
-perdeu um ano durante a separação dos
pais. Pensava em cursar direito, mas agora
quer fazer cinema. "Gostei mais de trabalhar com câmera e com produção. Eu me
amarro em correria."
Três dos meninos já estão trabalhando na
área. "Acho que o projeto deu a eles uma
perspectiva de futuro, de auto-estima. Muitos dizem: "Antes eu não acreditava em
mim, mas agora eu tenho um rumo'", afirmou Marcos Didonet, diretor do Cima.
"Os meninos queriam saber tudo sobre o
mundo do cinema. Eles já possuem a curiosidade de quem tem talento, mas o talento
só vem com a prática", disse o cineasta Nelson Pereira dos Santos. (AK)
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