São Paulo, segunda-feira, 16 de setembro de 2002

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Ações e pensamentos (quase) proibidos

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA

O mundo estava pegando fogo, havia pânico em cada esquina, mas nada pôde abalar o desejo sexual de uma texana, que aproveitou a confusão causada pelos ataques de 11/9/2001 para passar a tarde no motel com o amante. O marido da moça, jornalista, estava ocupadíssimo trabalhando na cobertura do estrago nacional. A mulher, sossegada, tomava gim-tônica com o namorado e curtia uma tranquila tarde de amor.
O depoimento está em um texto, muito original e ousado, que saiu na revista on-line "Salon" (www.salon.com). Chama-se "Pensamentos Proibidos sobre 11 de Setembro" e traz depoimentos de leitores que aproveitaram a ação terrorista para fazer/pensar coisas, digamos, politicamente incorretas.
"Graças a Deus derrubaram os prédios. Eles eram tão feios, sempre os odiei!", comentou uma nova-iorquina que estava em Londres no dia fatídico.
"Os melhores efeitos especiais que eu já vi!", exclamou um adolescente que conversava com um amigo numa esquina de Nova York, poucas horas depois dos atentados.
E tem mais: um produtor de cinema achou que era "a great fucking action scene", um jornalista chamou o trabalho naquele dia de "great fucking fun" e uma editora de Nova York achou tudo muito conveniente, porque pôde faltar ao trabalho e usou o tempo livre para fazer sua mudança.
Por razões óbvias, a maioria das declarações é anônima. Tem até gente reclamando dessa história de ficar agitando a bandeirinha americana a toda hora, coisa que, dado o clima atual nos EUA, não dá mesmo para dizer em público.
Em música, esses pensamentos proibidos também acontecem, não? Aquela música que os amigos acham brega, mas você, lá no fundo, adora... Ou aquele CD que todos os jornais e revistas elogiam, mas você, quando foi escutar em casa, achou chato para caramba.
O show do Nirvana em São Paulo (1993) deve ter gerado um festival de pensamentos proibidos. É que a apresentação foi horrível, a banda não conseguia tocar nenhuma música direito, e os caras ficaram fazendo uns covers malucos (todos horrivelmente tocados), que incluíram até "Rio", do Duran Duran...
Na platéia, no entanto, pegava bem achar aquele fiasco uma coisa genial, "transgressiva", obra da mente torturada de um gênio à beira do suicídio, Kurt Cobain. O fato é que até a banda considerou aquele seu pior show, mas deve ter brasileiro até hoje tentando interpretar o espetáculo "profundo".
Que tal, então, "Escuta Aqui" fazer como a "Salon"? Se você, leitor, tem algum pensamento proibido, alguma opinião sobre a qual você está 100% seguro, mas que não pega bem escancarar em público, chegou a hora!
Mande um e-mail para esta coluna, que, na semana que vem, a gente faz uma coletânea dos mais inteligentes/engraçados. Até lá!



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