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Ações e pensamentos (quase) proibidos
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
O mundo estava pegando fogo, havia pânico
em cada esquina, mas nada pôde abalar o
desejo sexual de uma texana, que aproveitou
a confusão causada pelos ataques de 11/9/2001
para passar a tarde no motel com o amante. O
marido da moça, jornalista, estava ocupadíssimo trabalhando na cobertura do estrago
nacional. A mulher, sossegada, tomava gim-tônica com o namorado e curtia uma tranquila tarde de amor.
O depoimento está em um texto, muito original e ousado, que
saiu na revista on-line "Salon" (www.salon.com). Chama-se "Pensamentos Proibidos sobre
11 de Setembro" e
traz depoimentos de
leitores que aproveitaram a ação terrorista para fazer/pensar coisas, digamos, politicamente incorretas.
"Graças a Deus derrubaram os prédios. Eles
eram tão feios, sempre os odiei!", comentou
uma nova-iorquina que estava em Londres
no dia fatídico.
"Os melhores efeitos especiais que eu já vi!",
exclamou um adolescente que conversava
com um amigo numa esquina de Nova York,
poucas horas depois dos atentados.
E tem mais: um produtor de cinema achou
que era "a great fucking action scene", um jornalista chamou o trabalho naquele dia de
"great fucking fun" e uma editora de Nova
York achou tudo muito conveniente, porque
pôde faltar ao trabalho e usou o tempo livre
para fazer sua mudança.
Por razões óbvias, a maioria das declarações
é anônima. Tem até gente reclamando dessa
história de ficar agitando a bandeirinha americana a toda hora, coisa que, dado o clima
atual nos EUA, não dá mesmo para dizer em
público.
Em música, esses pensamentos proibidos
também acontecem, não? Aquela música que
os amigos acham brega, mas você, lá no fundo, adora... Ou aquele CD que todos os jornais
e revistas elogiam, mas você, quando foi escutar em casa, achou chato para caramba.
O show do Nirvana em São Paulo (1993) deve ter gerado um festival de pensamentos
proibidos. É que a apresentação foi horrível, a
banda não conseguia tocar nenhuma música
direito, e os caras ficaram fazendo uns covers
malucos (todos horrivelmente tocados), que
incluíram até "Rio", do Duran Duran...
Na platéia, no entanto, pegava bem achar
aquele fiasco uma coisa genial, "transgressiva", obra da mente torturada de um gênio à
beira do suicídio, Kurt Cobain. O fato é que
até a banda considerou aquele seu pior show,
mas deve ter brasileiro até hoje tentando interpretar o espetáculo "profundo".
Que tal, então, "Escuta Aqui" fazer como a
"Salon"? Se você, leitor, tem algum pensamento proibido, alguma opinião sobre a qual
você está 100% seguro, mas que não pega bem
escancarar em público, chegou a hora!
Mande um e-mail para esta coluna, que, na
semana que vem, a
gente faz uma coletânea dos mais inteligentes/engraçados.
Até lá!
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