São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 2006

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6 comportamento

Guitar Heroes

A guitarra é a melhor amiga dos adolescentes, seja para seguir uma carreira musical ou para fazer sucesso com as garotas

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Caio Guimarães Fernandes, 17, arrepia na guitarra desde os 11


JOSÉ NORBERTO FLESCH
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Provavelmente uma das últimas coisas que um pai imaginaria ouvir do filho quando lhe perguntasse o que pretende fazer na vida é "quero ser um "guitar hero'". O termo, que designa um guitarrista de rock virtuoso e idolatrado, resume o desejo de inúmeros jovens que procuram escolas de música ou professores particulares para aprender as técnicas de dedilhar o instrumento com habilidade.
A agenda dessa turma tem círculos em volta dos dias 26 a 29 de outubro, quando Joe Satriani e John Petrucci, do Dream Theater, se apresentam no Brasil (leia na página 8).
Sasha Zaviftanovicz, 16, de Caxias do Sul (RS), é um dos que comprou ingresso para a apresentação em Porto Alegre, no dia 26, assim que os bilhetes começaram a ser vendidos. Ótima chance para tocar "air guitar" (guitarra imaginária).
"Quando o Dream Theater veio (2005), fiquei vidrado. De repente, alguém toca um solo que eu conheço e, inconscientemente, sai um "air guitar" e vou acompanhando", imagina.
Músico desde os quatro anos, Sasha chamou a atenção na Expo Music, em São Paulo. Muita gente parou para ver a versão adolescente de Petrucci.
O jovem gaúcho não se imagina atuando fora da música, no futuro. Os pais incentivam. "Nunca me disseram para fazer outra coisa da vida", garante.
"Música pode não dar dinheiro, mas o legal é fazer o que eu gosto" diz Sasha, que já dá aulas de guitarra em sua cidade.
Bruno Conrado Campos da Silva, 16, de São Paulo, é outro fã de Petrucci que já decidiu transformar o ato de solar em estilo de vida. "Quero ser bom para poder viver de música", avisa. Ele também começou cedo. Tocava flauta aos quatro. Aos oito, trompete. Há dois anos, investiu no instrumento que deu fama a Steve Vai, outro guitarrista que idolatra.
Filho de pais separados, ele mora com uma tia, tem duas guitarras -uma Washburn vermelha e uma laranja, feita por um fabricante paulistano- e acha que a vontade de ser músico veio por influência da mãe, que vive no interior de SP. "Ela ouvia metal. Escutava Led Zeppelin, Metallica e tocava flauta. Quando viu que eu queria tocar, gostou", conta.
A "fama" já bateu à porta de Bruno. Ele foi convidado para gravar com o grupo da igreja que freqüenta. "Precisavam de alguém para solar", conta, todo alegre. "Eu era o que tocava menos. Agora sou melhor do que muitos". Apesar disso, Bruno está sem namorada.
"Você é admirado por ser guitarrista, mas isso não facilita muito. Não ajuda tanto como ter um carro", lamenta, mesmo sem idade para dirigir.

Dois tipos
Mas o que leva um adolescente a querer ser um guitarrista admirado? "Ele quer mostrar sua habilidade para os amigos ou procura ser bom por alguma outra questão pessoal", analisa Denison Fernandes, 28, que dá aulas de guitarra. A maior parte de seus alunos tem entre 14 e 18 anos. "Chegam querendo tocar como Satriani, Vai e Petrucci", conta o mestre.
Outro professor, Leonardo de Freitas Jacob, 29, destaca o lado positivo do aspirante a "guitar hero". "Há dois tipos: o que quer tocar o que está na moda e o que quer ser virtuoso. O primeiro normalmente abandona a guitarra pouco tempo depois. O outro torna-se extremamente dedicado."
Ele diz que tenta mostrar aos alunos que o bom guitarrista cria uma identidade. "Se você ouve o Eddie van Halen, sabe que é ele tocando." É por esta razão que os adolescentes procuram a inspiração no passado. "Tem menino que ouve Black Sabbath [banda dos anos 70, pioneira do metal], fica fascinado e resolve tocar."

A arte da conquista
Caso assim é o de Caio Guimarães Fernandes, 17, que mora na zona sul de São Paulo. Todos os seus ídolos são guitarristas famosos dos anos 60 e 70. "Curto Jimi Hendrix, Eric Clapton, David Gilmour [do Pink Floyd], Jimmy Page [Led Zeppelin]", relaciona.
Ele tem uma Fender Stratocaster, modelo consagrado nas mãos de Hendrix, Clapton e Ritchie Blackmore [ex-Deep Purple] e é guitarrista desde os 11 anos. Tem uma banda de rock, a Sociedade Anônima, em que toca e também canta.
Cita o pai, Domingos, 49 -médico, mas que também sabe tocar-, como a principal influência e diz que quer ser tão bom como ele. O pai, por sua vez, procura justificar a aspiração do filho. "Tinha uma Giannini. Na minha época, você tinha que ir até a Pompéia para comprar um livrinho de cifras. Agora, é só acessar a internet."
Caio não está namorando, mas diz que a arte da guitarra ajuda muito na arte da conquista. "Músico se dá bem com a mulherada. Essa é uma das razões que me fazem continuar."
Se o cenário dos futuros "guitar heroes" nacionais e internacionais se mostra predominantemente masculino, pelo menos uma garota quer quebrar essa hegemonia. Mayara Silva Pinto, 16, de Paulínia (SP), não só toca guitarra (desde os 12) como também bateria.
"Acho que decidi ser guitarrista depois que ouvi "For the Love of God", de Steve Vai", lembra a adolescente.
"Muitas garotas não tocam porque imaginam que os rapazes serão preconceituosos. Penso que é inveja. Se aparecer uma menina tocando como esses caras, vão babar."


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