São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 2006

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10 música

Escravos do Zeppelin

Em "Revelations", seu 3º disco, o Audioslave descobre que seguir Page e Plant não é imitar e atinge ponto alto da carreira

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

No terceiro disco do Audioslave, "Revelations", não será encontrada nenhuma influência de Gang of Four ou eletro. Talvez esse seja o seu refúgio.
Assim como no primeiro disco, "Audioslave", e no segundo, "Out of Exile", as influências continuam as mesmas, sem nenhuma concessão. Ao contrário, tudo parece ainda mais radicalizado. Mas agora brilha.
Em 2001, a banda foi a égide sob a qual Chris Cornell, ex-vocalista do Soundgarden, e três quartos do Rage against the Machine resolveram que, a partir daquele momento, seriam a continuação do Led Zeppelin.
Até aí, nada de mais. Chris Cornell já era o vocalista mais agudo do mainstream americano, à maneira do inglês Robert Plant. Enquanto isso, o RATM construiu sua plataforma para o rap de Zack de La Rocha em cima dos riffs do guitarrista Tom Morello, que nunca escondeu a inspiração extraída dos temas de Jimmy Page.
Nos dois primeiros álbuns, a banda conquistou atenção, mas ainda não tinha feito algo que realmente valesse comprar um CD. Em "Revelations", o milagre se concretiza. Mais do que uma imitação, o Audioslave se tornou um peso-pesado, algo não atingido pelo Velvet Revolver -que reuniu o guitarrista Slash e meio Guns'n'Roses com Scott Weiland, ex-voz do Stone Temple Pilots.
A qualidade das composições aqui, a começar pela faixa-título, mostra uma integração maior entre Cornell e o trio de instrumentistas. Morello está mais "pageano" do que nunca, e isso ajuda. Há mais alma agora, e não mais uma demonstração vulgar de força. As pedradas "Sound of a Gun" e "Somedays" concordam com isso.
O som setentista fica negróide, quase Motown, em "Original Fire", talvez a melhor faixa do disco, com bateria binária e um Cornell inspirado. Afinal, o Led Zeppelin era uma banda de hard rock pré-metal, mas também era uma máquina de grooves -pegue "The Ocean" e entenda o que John Bonham quer que você faça enquanto ele toca a bateria.
Sem nada tão meloso quanto "Like a Stone", do álbum de estréia, a banda se encarrega de levantar a bandeira de um rock mais conservador sem contar com um hype do tamanho dos Raconteurs de Jack White. E, com honestidade, faz um excelente trabalho.
Nada aqui tem cara do que está correndo pelas pistas de rock mais badaladas do momento -interessadas em emular em uníssono um sentimento entre a disco e o infantil-, mas deixar o Audioslave de fora da festa já virou crime.

REVELATIONS
Audioslave
www.audioslave.com
Ouça: "Original Fire"


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