São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 2000


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Ritmos do Brasil misturam influências

AUGUSTO PINHEIRO
GABRIEL GAIARSA
da Reportagem Local

A grande diversidade de ritmos brasileiros nasceu da influência dos diferentes povos que formaram o país: índios, africanos e europeus. De norte a sul, há gêneros conhecidos no Brasil inteiro, como o forró, e outros nem tanto, como o carimbó, do Pará, e o vanerão, do Rio Grande do Sul.
O samba, o mais famoso de todos, surgiu no Rio de Janeiro no começo do século. Segundo a sambista Dona Ivone Lara, 79, tudo começou nos pagodes de Tia Ciata, uma doceira baiana que vivia na cidade. "Muitos nomes importantes do samba frequentavam o local, como Pixinguinha e Clementina de Jesus", conta.
A primeira música registrada como samba foi "Pelo Telefone", de Donga, que estourou no Carnaval de 1917. O atual sucesso do pagode não incomoda a sambista, representante da velha guarda: "Apesar de existirem coisas mal-elaboradas, gosto muito de Negritude Jr. e Exaltasamba".
Outros ritmos populares no país vêm do Nordeste, como forró, xote e baião, que, segundo o cantor pernambucano Dominguinhos, 59, têm influências portuguesa e africana.
Dominguinhos foi parceiro de Luiz Gonzaga, o "rei" do baião, por quase 40 anos. "Foi ele que inventou a maioria dos ritmos. Ele se inspirou nos cangaceiros para criar o xaxado, outro ritmo popular. Aprendi muito com ele."
Já no interior de São Paulo, o ritmo tradicional é o sertanejo, que surgiu nas fazendas e chegou às grandes cidades por meio de migrantes. No início, a única divulgação era por meio de rádios AM. "Sem TV, quase ninguém conhecia a fisionomia dos músicos. Então, mesmo as duplas mais famosas podiam mandar outras pessoas para fazer o show que ninguém notava", conta Rick, da dupla Rick e Renner.
"As duplas de hoje estão comendo prato feito. Aquelas de antigamente tinham todo tipo de dificuldade: iam aos shows a cavalo, passando frio", completa.
Na região Norte, o principal ritmo é o carimbó, do Pará. "É uma mistura de influências africana, indígena e portuguesa", explica Pinduca, 68, "rei" do gênero.
O som, dançante, é tirado de um tambor chamado curimbó. A dança das mulheres tem raízes portuguesas. As letras falam do cotidiano e enaltecem o Pará.
Ele explica ainda que cada região do Estado tem um ritmo diferente: "Existem muitos gêneros, como o siriá, o retumbão e o banguê". Pinduca se apresenta em agosto na Alemanha.
No outro extremo do país, no Rio Grande do Sul, o vanerão é o ritmo mais popular. O músico Renato Borghetti, 36, o Borghetinho, diz que o gênero surgiu da mistura de influências açoriana (dos imigrantes do arquipélago dos Açores) e africana. "É um ritmo de baile, tocado com acordeão." Além do vanerão, ele cita a milonga e a rancheira como gêneros do folclore local. "Há ainda o bugio, que imita no acordeão o som do macaco de mesmo nome. É o único totalmente gaúcho, sem influências externas."


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