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Álvaro Pereira Júnior
Não leve o rock tão a sério
Essa história começou na
virada dos anos 70/80,
com a sempre exagerada imprensa musical inglesa, e não demorou a
se refletir no Brasil.
É o vício de levar o rock a sério. De
apresentar gente como Ian Curtis
(do Joy Division), ou Morrissey (dos
Smiths) como salvadores e porta-vozes de uma geração. De chamar a
vocalista Elizabeth Fraser (dos Cocteau Twins) de "a voz de Deus". De
passar uma vida inteira discutindo
mensagens subliminares em letras
do Led Zeppelin. De venerar guitarristas, escarafunchar versos de meras canções populares em busca de
um significado maior.
Minha geração de jornalistas musicais tem responsabilidade sobre isso. Com avidez pelo novo, mas muito menos bagagem intelectual e musical do que nossos equivalentes
gringos, adotamos uma versão rasa
do estilo da imprensa londrina.
A crítica ficou reduzida a um jogo
de palavras. À busca de algo que soe
bem e falseie erudição -retórica
vazia. Desculpe a pieguice, mas sinto culpa ao ver algum jornalista
mais jovem formular teorias sobre
uma nova banda de moleques ingleses que nunca devem ter lido mais
do que cinco livros e cuja coleção de
discos resume-se aos três dos Strokes e algo dos Ramones.
Agora, por exemplo, há o deslumbramento com os Arctic Monkeys, da Inglaterra. "As letras citam Shakespeare", comenta-se no mundo todo. Ora, na Inglaterra, aprende-se Shakespeare desde o ensino fundamental... Inegável que as letras dos Arctic Monkeys ficam muito acima da médica roqueira, mas daí a elevá-las ao status de grande poesia...
Letra de música -rock, samba ou o que for- não é literatura. É claro que
existe Morrissey, culto, com suas letras recheadas de citações literárias. É claro
que existe Chico Buarque, com a sofisticação de suas métricas incomuns e aliterações. Mas são só compositores populares. Não vieram salvar ninguém.
Na semana passada, recomendei o www.blogdoputo.blogspot.com -blog de
música alternativa feito por três amigos portugueses (o Puto, mais os comparsas
Tipo e Totó)- e disse que o nome era "esquisito". Dezenas de leitores explicam
que "puto", em Portugal, significa "moleque". O próprio Puto escreveu à coluna,
agradecendo a menção. O número de visitas disparou. Parabéns!
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