|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O som que fugiu do quintal
Depois de um tempo sumido, pagode volta a cair no gosto dos jovens e cria tribo de fãs do estilo
DA REPORTAGEM LOCAL
O pagode, estilo musical que estourou
no Brasil há pelo menos uma década,
está de volta, só pra contrariar. Longe de
ocupar um fundo de quintal, o gênero
atrai milhares de jovens de alto poder
aquisitivo, cheios de molejo, para casas
noturnas do bairro da Vila Olímpia, em
São Paulo, dividindo espaço com clubes
de música eletrônica estrangeira.
A arte do samba romântico voltou a ser
popular, juntando morenos e loiros no
mesmo passo, vestidos com roupas de
marcas caras e dispostos a enfrentar filas
e a gastar até R$ 80 em baladas que começam com música eletrônica e black e
terminam em pagode ao vivo, tocado
por grupos formados por universitários.
É terça-feira na casa noturna Armazém
da Vila, com capacidade para 3.000 pessoas. A noite é fraca, mas junta 1.300 neopagodeiros, que encararam o frio para
suar a camiseta ao som do grupo Inimigos da HP, octeto formado por cinco engenheiros, um desenhista industrial, um
administrador e um publicitário.
"Gosto do Inimigos da HP porque eles
tocam o que a gente quer ouvir", conta a
estudante de publicidade Luana Bittencourt, 20, que trabalha como vendedora
de uma loja de grife. "Acho que o perfil
do público é bem eclético, que curte um
pouco de tudo. É legal porque resgata
um estilo que estava esquecido."
Nem todo mundo que freqüenta as
noites de pagode gosta do estilo musical.
"Essas bandas não estão com nada. Curto mesmo Bezerra da Silva e Zeca Pagodinho. Vim aqui atrás das patricinhas.
Pagode não é a minha praia", diz Eduardo Morandini, 22, formado em direito.
Quem também estava lá por causa da
"mulherada" era o estudante de direito
Robson Pitta, 21. "Não é pagode de raiz, é
mais voltado para a balada", diz Robson,
que acha o gênero modismo. "A tendência é rolar outra onda. As pessoas vêm
mais pelo ambiente e pela azaração."
Gabriela Cysneiros, 19, estudante de
marketing, curte pagode desde que tinha
13 anos. "Eu adoro o estilo, mas acho que
as pessoas vêm para fazer uma social. Só
fica cheio pela balada e porque há muita
mulher e homem bonitos."
Como cerveja, caipirinha e vodca com
energético (a R$ 12, em média) rolam a
noite inteira, a entrada de menores de 18
anos é proibida, o que não impede que a
galera curta o pagode em casa.
José Guilherme Salatino Trivellato, 17,
diz que voltou a gostar de pagode no ano
passado, por causa da moda. "Quando
fui ao Rio, vi que há muito boteco que toca sambas mais antigos. Não gostei muito. O pagode atual é mais animado. Esses
sambas de raiz são mais para relaxar."
Para a namorada dele, Leticia Mont
Serrat Barbosa de Almeida, 17, o pagode
de hoje não é brega. "É muito legal, é um
show com banda. Acham que são dez caras de óculos tocando pandeiro."
Ela acha que o gênero mudou muito de
uns tempos para cá. "Antes o pagode era
diferente, uma coisa de os grupos irem
tocar no programa do Faustão, do Gugu.
Hoje virou balada, todo mundo cantando junto. Acho que isso aconteceu porque abriram espaços para o pagode."
Por causa do pagode, Leticia começou
a tocar cavaquinho. "A batida do pagode
é um pouco diferente, tiro de ouvido."
Se o modismo vai passar ou não, tanto
faz. Pelo menos para Maria Carolina Casadevall Gonzaga, 16. "A moda existe,
mas gostar ou não é uma opção de cada
um. Eu vou continuar gostando mesmo
quando não estiver mais na moda."
(ALESSANDRA KORMANN E LEANDRO FORTINO)
Texto Anterior: Música: Fora de sincronia Próximo Texto: Modismo favorece a divulgação do samba Índice
|