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EDUCAÇÃO
Músicos de rap passam suas mensagens em sala de aula
Ritmo com poesia dá boa química
André Sarmento/Folha Imagem
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O rapper e professor de química Pablo Damasceno |
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
Não tratar como diferentes as
combinações dos mesmos elementos. A fórmula adotada por Pablo Soares Damaceno, 27, em suas
duas profissões pode ter sua eficácia
testada através do CD "Estratégia",
seu disco de estréia sob o nome de
Professor Pablo.
Pablo é rapper, vive no Capão Redondo, uma região com altos índices de desemprego, violência e pobreza da periferia de São Paulo, e,
desde os 19 anos, é professor de química em colégios particulares de
classe média alta da capital.
"Trabalho com formação tanto na
sala de aula quanto no rap. O tipo de
música que proponho é positiva,
mostra um caminho, incentiva e
instiga quem me ouve. E essa também é a proposta do educador. Vejo
as duas coisas de forma muito próxima", explica.
Em seu bairro, a quantidade de jovens desempregados, que não estudam ou que estão envolvidos com o
crime e com as drogas é de perder a
conta. Mas, entre os 200 alunos com
os quais Pablo troca experiências
(não só de química), é muito fácil
contar o número de estudantes negros: apenas dois.
"O grau de oportunidades de um
jovem negro da periferia é muito
menor, mas isso não é algo a ser
simplesmente aceito", contesta. "Já
é esperado pela sociedade que um
jovem do Capão pare de estudar e
caia na criminalidade. E as pessoas
vestem essa carapuça e desistem de
tentar. Meu esforço foi grande. Saía
da escola de noite às 23h, chegava
em casa à 1h e tinha de acordar às 4h
para trabalhar. Assim, contrariei o
que era esperado de mim."
Pablo já trabalhava como professor quando começou a fazer música
e acredita que educar o mano da periferia através das letras do rap é tão
importante quanto trocar informações com os jovens bem-nascidos
dos colégios em que leciona.
Mas quem não tem um professor-rapper também pode tomar contato
com a crítica social desse gênero de
forma direta. A gravadora Trama,
em parceria com a Coordenadoria
Especial da Juventude e com as Secretarias Municipais de Cultura e de
Educação, criou o Escola de Rap. O
projeto leva DJs, rappers e grupos
de hip hop a escolas da rede pública
e privada para estimular a integração social de jovens da periferia.
Rappin Hood, que integra o projeto, acredita que o rap é, sim, um
instrumento de educação. "O rap
trata das questões políticas e sociais
do Brasil e ainda da violência, da
criminalidade e do preconceito. E,
em um sentido geral, o rap educa há
muito tempo", defende.
DJ Marcelinho, ex-integrante do
Câmbio Negro, participa da iniciativa e acredita que o rap possa ser
usado como um instrumento de
educação social e de respeito ao
próximo, coisas que nem sempre
são abordadas com facilidade por
professores. Isso sem falar no rap
como profissão. "Dou workshops
com o básico da atividade de DJ,
que cresceu muito e tem um bom
mercado de trabalho hoje em dia",
explica.
Hood, que já realizava esse tipo de
visita às escolas com apoio do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, concorda com
Pablo quando o assunto é falar para
o público de periferia ou de classe
média. "É importante atingir os caras com maior poder aquisitivo. Isso pode ajudar a formar alguém
mais respeitoso e consciente da pobreza e da discriminação."
"Muitos moleques não prestam
atenção ao que sua mãe, seu pai ou
seu professor dizem. No entanto,
ouvem as letras de rap e entendem
nossa mensagem. O cara acaba tomando uma dura sem nem mesmo
perceber", brinca.
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