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Futebol, esporte em que o pior ganha e o melhor perde
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
Qual é o melhor elenco da Copa do Mundo?
O da Argentina, sem dúvida, que está fora,
desclassificada na primeira fase. Quem atuou
melhor na partida Argentina e Suécia? Argentina, disparado. Só que deu empate, 1 a 1. Brasil 5 a 2 sobre a Costa Rica. Show de bola brasileiro, certo? Não, o Brasil foi péssimo.
Quem tem a paciência de acompanhar "Escuta Aqui" deve lembrar do grande esforço
deste colunista para interpretar certos aspectos da cultura dos EUA, durante o tempo em
que viveu lá (1999-2001). Um desses
pontos era entender
por que o futebol
não pega de jeito nenhum no país.
O primeiro parágrafo do texto de hoje resume bem a história. Os americanos, inventores e mestres supremos do rock e
do milk shake, jamais gostarão de um esporte
que, muitas vezes, não faz sentido nenhum. O
melhor perde, o pior ganha... Nada disso
aconteceria nas modalidades dominantes nos
EUA: beisebol, futebol americano e basquete.
Já imaginou um time de futebol americano
dominar o jogo todo e acabar perdendo? Impossível. E, no basquete, será que uma equipe
conseguiria ter a posse de bola durante mais
de 60% do tempo e ainda assim fazer menos
cestas? Sem chance. Do beisebol, nem digo
nada. Aquilo não é esporte, mas uma coletânea de estatísticas sobre cada milímetro da
carreira de um bando de gorduchos que praticam um jogo em que o doping é liberado.
Americanos ficavam com cara de bobos
quando eu tentava explicar que, para os brasileiros, a seleção de 1982, despachada pela Itália, merece muito mais respeito do que o time
de 94, campeão mundial. Já que, na cabeça de
um americano, o sucesso, como tudo na vida,
deve ser medido objetivamente: ou seja, pelo
número de títulos conquistados.
Nos EUA, nunca se ouve falar de um atleta
ótimo, ídolo, espetacular, mas que jamais ganhou alguma coisa.
Simplesmente porque os americanos aplicam no dia-a-dia, nas situações mais rotineiras, os mesmos critérios do método científico.
Para eles, só os números falam.
Já no Brasil, ah!, como é fácil entender o futebol! Como o futebol reproduz fielmente
nosso estilo de vida! Sabe o nome daquele disco do Pato Fu, "Tem, mas Acabou"? Pois então, é essa nossa mentalidade. Estamos de tal
maneira acostumados ao caos das relativizações que, se o balconista da venda nos disser
que alface lisa "tem, mas acabou", a gente
aceita numa boa.
Assim como encaramos normalmente um
esporte em que um timaço perde, em que um
craque passa 90 minutos sem fazer nada, em
que um zé-mané encaçapa vários golaços.
Ou talvez o time não seja tão bom assim, o
craque não jogue essa bola toda, o perna-de-pau não seja tão zé-mané. Talvez o problema
esteja só na falta de critérios objetivos para dizer o que é bom ou ruim no futebol. Será?
Acho que só os americanos explicam.
Mas eles não entendem de futebol...
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