São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 2002

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ESCUTA AQUI

Futebol, esporte em que o pior ganha e o melhor perde

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA

Qual é o melhor elenco da Copa do Mundo? O da Argentina, sem dúvida, que está fora, desclassificada na primeira fase. Quem atuou melhor na partida Argentina e Suécia? Argentina, disparado. Só que deu empate, 1 a 1. Brasil 5 a 2 sobre a Costa Rica. Show de bola brasileiro, certo? Não, o Brasil foi péssimo.
Quem tem a paciência de acompanhar "Escuta Aqui" deve lembrar do grande esforço deste colunista para interpretar certos aspectos da cultura dos EUA, durante o tempo em que viveu lá (1999-2001). Um desses pontos era entender por que o futebol não pega de jeito nenhum no país.
O primeiro parágrafo do texto de hoje resume bem a história. Os americanos, inventores e mestres supremos do rock e do milk shake, jamais gostarão de um esporte que, muitas vezes, não faz sentido nenhum. O melhor perde, o pior ganha... Nada disso aconteceria nas modalidades dominantes nos EUA: beisebol, futebol americano e basquete.
Já imaginou um time de futebol americano dominar o jogo todo e acabar perdendo? Impossível. E, no basquete, será que uma equipe conseguiria ter a posse de bola durante mais de 60% do tempo e ainda assim fazer menos cestas? Sem chance. Do beisebol, nem digo nada. Aquilo não é esporte, mas uma coletânea de estatísticas sobre cada milímetro da carreira de um bando de gorduchos que praticam um jogo em que o doping é liberado.
Americanos ficavam com cara de bobos quando eu tentava explicar que, para os brasileiros, a seleção de 1982, despachada pela Itália, merece muito mais respeito do que o time de 94, campeão mundial. Já que, na cabeça de um americano, o sucesso, como tudo na vida, deve ser medido objetivamente: ou seja, pelo número de títulos conquistados.
Nos EUA, nunca se ouve falar de um atleta ótimo, ídolo, espetacular, mas que jamais ganhou alguma coisa.
Simplesmente porque os americanos aplicam no dia-a-dia, nas situações mais rotineiras, os mesmos critérios do método científico. Para eles, só os números falam.
Já no Brasil, ah!, como é fácil entender o futebol! Como o futebol reproduz fielmente nosso estilo de vida! Sabe o nome daquele disco do Pato Fu, "Tem, mas Acabou"? Pois então, é essa nossa mentalidade. Estamos de tal maneira acostumados ao caos das relativizações que, se o balconista da venda nos disser que alface lisa "tem, mas acabou", a gente aceita numa boa.
Assim como encaramos normalmente um esporte em que um timaço perde, em que um craque passa 90 minutos sem fazer nada, em que um zé-mané encaçapa vários golaços.
Ou talvez o time não seja tão bom assim, o craque não jogue essa bola toda, o perna-de-pau não seja tão zé-mané. Talvez o problema esteja só na falta de critérios objetivos para dizer o que é bom ou ruim no futebol. Será? Acho que só os americanos explicam. Mas eles não entendem de futebol...



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