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FOLHATEEN EXPLICA
Crise econômica faz dobrar número de suicídios de jovens
Como mais da metade da população argentina virou pobre?
JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES
A população argentina está cada vez mais
pobre devido a uma série de políticas implementadas pelo governo durante os últimos anos e que levaram o país à maior crise
econômica de sua história.
Para acabar com a
hiperinflação, o ex-presidente Carlos
Menem (1989-1999)
estabeleceu, em
1991, o regime de
conversibilidade,
em que, por lei, cada
peso (a moeda local)
valeria US$ 1. Ao
mesmo tempo, Menem reduziu as tarifas de importação de
produtos estrangeiros e evitou que os empresários locais continuas sem reajustando preços.
Inicialmente, essas medidas de caráter neoliberal estabilizaram a economia, atraíram
empresários estrangeiros e promoveram o
crescimento sem gerar inflação.
Ao longo da década, no entanto, o regime de
conversibilidade começou a ruir. O governo
gastava mais do que arrecadava e tinha dificuldades em arcar com os custos da dívida
pública.
Para saldar esse déficit, Menem resolveu
promover a privatização das principais empresas estatais. O dinheiro arrecadado foi suficiente para cobrir o rombo, mas, mais uma
vez, apenas temporariamente.
Na segunda metade dos anos 90, o país, já
sem ter o que privatizar, começou a ficar cada
vez mais dependente de financiamento de organismos internacionais, como o FMI, para
honrar a sua dívida.
No entanto, os acordos assinados com o
FMI não eram cumpridos pelo país. A indústria local tinha custos em dólar devido ao regime de conversibilidade e não conseguia competir com produtos importados. Assim, em
dezembro de 2001, o FMI resolveu suspender
o financiamento à Argentina. No mesmo
mês, o país, que já não vinha bem, entrou em
colapso.
Desacreditado, o então presidente Fernando de la Rúa (1999-2001) foi obrigado a renunciar, o país decretou a moratória (suspensão de pagamentos) da dívida externa, e o governo do novo presidente, Eduardo Duhalde,
desvalorizou o peso.
O resultado foi catastrófico. Sem a confiança do mercado externo, a economia argentina
encolheu 15% no primeiro trimestre deste
ano. Em apenas seis meses, a taxa de desemprego saltou de 18% para 25% da população.
E, com o retorno da inflação e os salários congelados, até os argentinos com emprego perderam poder de consumo. Resultado: 51,4%
da população foi empurrada por debaixo da
linha da pobreza.
Acostumadas ao mais alto padrão de vida
dentro da América Latina, as famílias argentinas mostraram-se desestruturadas para enfrentar a crise econômica. Sem emprego e
sem a atenção dos pais -muito preocupados
com a crise- o número de suicídios entre jovens argentinos praticamente dobrou nos últimos dez anos.
Os jovens também começaram a procurar
oportunidades no exterior. Segundo o governo, 140 mil argentinos imigraram nos últimos
dois anos. Outra alternativa para a escassez de
emprego foi o serviço militar, cuja procura
cresceu 25% em 2001.
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