São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 2002

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FOLHATEEN EXPLICA

Crise econômica faz dobrar número de suicídios de jovens

Como mais da metade da população argentina virou pobre?

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

A população argentina está cada vez mais pobre devido a uma série de políticas implementadas pelo governo durante os últimos anos e que levaram o país à maior crise econômica de sua história.
Para acabar com a hiperinflação, o ex-presidente Carlos Menem (1989-1999) estabeleceu, em 1991, o regime de conversibilidade, em que, por lei, cada peso (a moeda local) valeria US$ 1. Ao mesmo tempo, Menem reduziu as tarifas de importação de produtos estrangeiros e evitou que os empresários locais continuas sem reajustando preços.
Inicialmente, essas medidas de caráter neoliberal estabilizaram a economia, atraíram empresários estrangeiros e promoveram o crescimento sem gerar inflação.
Ao longo da década, no entanto, o regime de conversibilidade começou a ruir. O governo gastava mais do que arrecadava e tinha dificuldades em arcar com os custos da dívida pública.
Para saldar esse déficit, Menem resolveu promover a privatização das principais empresas estatais. O dinheiro arrecadado foi suficiente para cobrir o rombo, mas, mais uma vez, apenas temporariamente.
Na segunda metade dos anos 90, o país, já sem ter o que privatizar, começou a ficar cada vez mais dependente de financiamento de organismos internacionais, como o FMI, para honrar a sua dívida.
No entanto, os acordos assinados com o FMI não eram cumpridos pelo país. A indústria local tinha custos em dólar devido ao regime de conversibilidade e não conseguia competir com produtos importados. Assim, em dezembro de 2001, o FMI resolveu suspender o financiamento à Argentina. No mesmo mês, o país, que já não vinha bem, entrou em colapso.
Desacreditado, o então presidente Fernando de la Rúa (1999-2001) foi obrigado a renunciar, o país decretou a moratória (suspensão de pagamentos) da dívida externa, e o governo do novo presidente, Eduardo Duhalde, desvalorizou o peso.
O resultado foi catastrófico. Sem a confiança do mercado externo, a economia argentina encolheu 15% no primeiro trimestre deste ano. Em apenas seis meses, a taxa de desemprego saltou de 18% para 25% da população. E, com o retorno da inflação e os salários congelados, até os argentinos com emprego perderam poder de consumo. Resultado: 51,4% da população foi empurrada por debaixo da linha da pobreza.
Acostumadas ao mais alto padrão de vida dentro da América Latina, as famílias argentinas mostraram-se desestruturadas para enfrentar a crise econômica. Sem emprego e sem a atenção dos pais -muito preocupados com a crise- o número de suicídios entre jovens argentinos praticamente dobrou nos últimos dez anos.
Os jovens também começaram a procurar oportunidades no exterior. Segundo o governo, 140 mil argentinos imigraram nos últimos dois anos. Outra alternativa para a escassez de emprego foi o serviço militar, cuja procura cresceu 25% em 2001.



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