São Paulo, segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Texto Anterior | Índice

MÚSICA

Luz e sombra

O Folhateen convidou quatro garotas do grupo de apoio para entrevistar a roqueira Pitty, que está lançando seu novo CD

DA REPORTAGEM LOCAL

"Que pena que acabou, vocês são pessoas ótimas, adorei. Um dia a gente se encontra em uma mesa de bar!" Foi assim, à vontade, que a cantora Pitty despediu-se de Gabriela Leme, 15, Lara Morais, 19, Mayara de Carvalho, 16, e Tainá Machado, 15.
A descontração marcou a conversa entre a artista baiana e o quarteto de integrantes do grupo de apoio do Folhateen.
O encontro rolou em um bar escolhido pela artista, na rua Augusta, em São Paulo.
Além da carreira de Pitty e de seu terceiro álbum de estúdio, "Chiaroscuro", que chegou às lojas neste mês, foram tema da entrevista adolescência, medo e traição. Confira trechos. (DB)

 

MAYARA - Como você escolheu o nome do disco?
PITTY -
Durante a produção do álbum alguém falou sobre "chiaroscuro". Fui pesquisar e descobri que existe uma tradução literal, que é o claro e o escuro, mas há outras nuances também -é uma técnica de pintura que tem a ver com o uso de luz e de ausência de luz. Achei que tinha a ver com o som que a gente estava fazendo.

TAINÁ - As letras falam bastante de sentimento. Dá a impressão de que o CD é reflexo do seu momento.
PITTY -
É o retrato de um momento, é bem pontual. O que eu era alguns anos atrás não é o que sou hoje, embora eu seja a mesma pessoa. É a mesma, mas é outra, sabe? É meio doido. Acontece com todo mundo.

GABRIELA - Então suas letras são todas autobiográficas?
PITTY -
Eu não diria autobiográficas. São pessoais. Não contam uma história que aconteceu comigo de fato, às vezes é minha visão de alguma coisa que aconteceu com outra pessoa. Gosto de escrever para descobrir alguma coisa sobre mim.

GABRIELA - Antes de você descobrir que ia ser cantora, já escrevia?
PITTY -
Eu tinha diário, lá pelos oito anos. Aquele de chavinha e tudo. Um monte de coisa besta escrita, mas que para mim era a coisa mais importante do mundo. "Ai, o menino da escola olhou para mim hoje." Encontrei na banda a oportunidade de escoar meus escritos.

LARA - Seus álbuns são totalmente diferentes entre si.
PITTY -
As pessoas que evoluíram com a gente entenderam o processo. Senti que a gente começou a falar para uma galera que tem mais bagagem musical. Você faz a sua parada, ela vai para o mundo e as pessoas gostam ou não gostam. Mas, se eu pudesse escolher o público que vou ter, seriam as pessoas que gostam do que eu faço porque o compreendem.

GABRIELA - Tem uma música no disco novo que fala sobre medo [não por acaso, chamada "Medo"]. Queria que você falasse dos seus.
PITTY -
Quando eu era mais nova, com a idade de vocês, eu saía na rua às 4h da manhã, pedia carona... não tinha medo de nada. Hoje, olho para trás e falo: "Você era louca!" Talvez eu fosse inocente. Leio o jornal e vejo gente morrendo por nada. A nossa vida não vale nada...

LARA - Às vezes vale um tênis.
PITTY -
Exatamente! E tenho medo da velhice. Não de ficar velha, mas de isso ser um elemento limitador, fisicamente. Não ter mais a mesma energia.

LARA - Você acha que a mulher de 30 é mais legal que a de 18?
PITTY -
Nesse caso eu falo por mim mesma. Estou numa fase massa fisicamente e, ao mesmo tempo, numa fase massa de cabeça. Não há toda aquela insegurança da adolescência. Estou no auge. Tenho que aproveitar.

GABRIELA - Na adolescência você se sentia meio diferente?
PITTY -
Sim. Eu não gostava da mesma coisa que os outros. Eu morava em um lugar em que todo mundo gostava de axé, mas eu gostava de rock. Depois de um tempo, me acostumei.

GABRIELA - Você costuma sair?
PITTY -
Depende do lugar. Procuro não deixar de fazer nada. Nos lugares a que vou a galera é tranquila, ninguém me enche o saco. Vou fazer o quê, ficar trancada em casa?

GABRIELA - Vi uma entrevista sua sobre traição e você deu um depoimento de que, se fosse traída, ia querer saber e...
PITTY -
Para mim, traição não é seu parceiro ter vontades e desejos, porque todo mundo tem. Traição é eu não saber das coisas que acontecem com ele. Se tiver que acontecer alguma coisa -não é que eu queira-, eu gostaria de ser cúmplice. Saber o que está acontecendo, resolver juntos. Isso é cumplicidade.

GABRIELA - É um conceito legal, mas, na prática, não funciona...
PITTY -
Nem a fidelidade!

GABRIELA - Mas é meio difícil encontrar alguém que abra o jogo...
PITTY -
É muito difícil para quem fala e para quem ouve. Quem está preparado? Alguma de nós está? Não sei se eu estou. Vou tentando me preparar.


Texto Anterior: Escuta aqui - Álvaro Pereira Júnior: Woodstock, a maior roubada de todos os tempos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.