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MÚSICA
Luz e sombra
O Folhateen convidou quatro garotas do grupo de apoio para entrevistar a roqueira Pitty, que está lançando seu novo CD
DA REPORTAGEM LOCAL
"Que pena que
acabou, vocês
são pessoas
ótimas, adorei. Um dia a gente se encontra
em uma mesa de bar!"
Foi assim, à vontade, que a
cantora Pitty despediu-se de
Gabriela Leme, 15, Lara Morais, 19, Mayara de Carvalho,
16, e Tainá Machado, 15.
A descontração marcou a
conversa entre a artista baiana
e o quarteto de integrantes do
grupo de apoio do Folhateen.
O encontro rolou em um bar
escolhido pela artista, na rua
Augusta, em São Paulo.
Além da carreira de Pitty e de
seu terceiro álbum de estúdio,
"Chiaroscuro", que chegou às
lojas neste mês, foram tema da
entrevista adolescência, medo
e traição. Confira trechos.
(DB)
MAYARA - Como você escolheu o
nome do disco?
PITTY - Durante a produção do
álbum alguém falou sobre
"chiaroscuro". Fui pesquisar e
descobri que existe uma tradução literal, que é o claro e o escuro, mas há outras nuances
também -é uma técnica de
pintura que tem a ver com o uso
de luz e de ausência de luz.
Achei que tinha a ver com o
som que a gente estava fazendo.
TAINÁ - As letras falam bastante
de sentimento. Dá a impressão de
que o CD é reflexo do seu momento.
PITTY - É o retrato de um momento, é bem pontual. O que eu
era alguns anos atrás não é o
que sou hoje, embora eu seja a
mesma pessoa. É a mesma, mas
é outra, sabe? É meio doido.
Acontece com todo mundo.
GABRIELA - Então suas letras são
todas autobiográficas?
PITTY - Eu não diria autobiográficas. São pessoais. Não contam uma história que aconteceu comigo de fato, às vezes é
minha visão de alguma coisa
que aconteceu com outra pessoa. Gosto de escrever para descobrir alguma coisa sobre mim.
GABRIELA - Antes de você descobrir
que ia ser cantora, já escrevia?
PITTY - Eu tinha diário, lá pelos
oito anos. Aquele de chavinha e
tudo. Um monte de coisa besta
escrita, mas que para mim era a
coisa mais importante do mundo. "Ai, o menino da escola olhou para mim hoje." Encontrei na banda a oportunidade
de escoar meus escritos.
LARA - Seus álbuns são totalmente
diferentes entre si.
PITTY - As pessoas que evoluíram com a gente entenderam o
processo. Senti que a gente começou a falar para uma galera
que tem mais bagagem musical. Você faz a sua parada, ela
vai para o mundo e as pessoas
gostam ou não gostam. Mas, se
eu pudesse escolher o público
que vou ter, seriam as pessoas
que gostam do que eu faço porque o compreendem.
GABRIELA - Tem uma música no
disco novo que fala sobre medo [não
por acaso, chamada "Medo"]. Queria que você falasse dos seus.
PITTY - Quando eu era mais nova, com a idade de vocês, eu saía
na rua às 4h da manhã, pedia
carona... não tinha medo de nada. Hoje, olho para trás e falo:
"Você era louca!" Talvez eu fosse inocente. Leio o jornal e vejo
gente morrendo por nada. A
nossa vida não vale nada...
LARA - Às vezes vale um tênis.
PITTY - Exatamente! E tenho
medo da velhice. Não de ficar
velha, mas de isso ser um elemento limitador, fisicamente.
Não ter mais a mesma energia.
LARA - Você acha que a mulher de
30 é mais legal que a de 18?
PITTY - Nesse caso eu falo por
mim mesma. Estou numa fase
massa fisicamente e, ao mesmo
tempo, numa fase massa de cabeça. Não há toda aquela insegurança da adolescência. Estou
no auge. Tenho que aproveitar.
GABRIELA - Na adolescência você se
sentia meio diferente?
PITTY - Sim. Eu não gostava da
mesma coisa que os outros. Eu
morava em um lugar em que todo mundo gostava de axé, mas
eu gostava de rock. Depois de
um tempo, me acostumei.
GABRIELA - Você costuma sair?
PITTY - Depende do lugar. Procuro não deixar de fazer nada.
Nos lugares a que vou a galera é
tranquila, ninguém me enche o
saco. Vou fazer o quê, ficar
trancada em casa?
GABRIELA - Vi uma entrevista sua
sobre traição e você deu um depoimento de que, se fosse traída, ia
querer saber e...
PITTY - Para mim, traição não é
seu parceiro ter vontades e desejos, porque todo mundo tem.
Traição é eu não saber das coisas que acontecem com ele. Se
tiver que acontecer alguma coisa -não é que eu queira-, eu
gostaria de ser cúmplice. Saber
o que está acontecendo, resolver juntos. Isso é cumplicidade.
GABRIELA - É um conceito legal,
mas, na prática, não funciona...
PITTY - Nem a fidelidade!
GABRIELA - Mas é meio difícil encontrar alguém que abra o jogo...
PITTY - É muito difícil para
quem fala e para quem ouve.
Quem está preparado? Alguma
de nós está? Não sei se eu estou.
Vou tentando me preparar.
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