São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Uma câmera e uma nota de corte

CINEASTA DE 22 ANOS GANHA PRÊMIO COM CURTA SOBRE VESTIBULAR

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
DE SÃO PAULO

Você vai tentar o vestibular? Então, talvez esteja ralando numa jornada dupla de colégio e cursinho. Aproveite e dê uma olhada à sua volta.
Bruno Bralfperr, 22, fez isso. E encrencou com o que viu. Ele é diretor de "Nota de Corte", documentário de 17 minutos sobre os perrengues enfrentados por alunos de escolas públicas para passar na seleção.
Isso quando passam. Bruno, por exemplo, não conseguiu. Ele tentou entrar no curso de audiovisual da USP há alguns anos, mas não chegou à segunda fase. "Fiquei uns 12 pontos atrás, é muita coisa!" Não via muita chance para alguém como ele, uma vida inteira de colégio estadual na zona leste paulistana, com dois pais desempregados.
"Quando você é moleque, não considera conhecimento como importante para sua vida. Vai estudar porque é mandado", diz agora, já com diploma, mas por outro caminho.
Bruno ganhou uma bolsa integral na Academia Internacional de Cinema, que oferece um curso técnico de dois anos na área, em Higienópolis, a R$ 1.450 por mês.
Vencedor do prêmio Red Bull Criando Asas, seu curta-metragem dialoga com experts do assunto, como o colunista da Folha Gilberto Dimenstein. O documentário será exibido dentro do festival Visões Periféricas, no Rio, nesta semana.
As coisas até deram certo para Bruno Bralfperr (não é "nome chique", ele explica: é a abreviação de Bruno Alfredo Pereira, seu nome completo). Para outros tantos jovens, podem complicar.
O protagonista é o vestibulando Rafael, 25. Ele mora com mulher e filho no extremo da zona leste, em Cidade Tiradentes, pega no batente cedo e, de lá, vai para o cursinho. Chega em casa morto. Só que se afunda em livros, em vez do travesseiro, por mais duas horas.
A câmera o acompanha até o "Dia D": o nervosismo de ir lá fazer a prova para a qual estudou um ano inteiro -e, depois, esperar o resultado do gabarito na LAN house.
Mas o cineasta toma cuidado para não forçar o discurso de "coitadinho". "O filme é muito mais sobre o esforço para alcançar um objetivo", diz.
E Bruno alcançou o dele. Neste ano, formou-se. Por pouco. "Quase fui expulso, pois minha tese foi um curta-metragem pornográfico..." Bruno ri da polêmica. Para ele, sacanagem maior é aquele mito que se ouve tanto na periferia: "Ah, você não vai conseguir [o vestibular], você fez escola pública...".

Interessou-se por curtas? Então dá um pulinho nos sites do Festival do Minuto (bit.ly/e5B74z) e Porta Curtas (portacurtas.com.br)


Texto Anterior: Três gerações, três letras
Próximo Texto: Minha História - Alicia Soares, 13: Sorriso metálico
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.