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São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 2003

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ESPECIAL

Livros, filmes e o teatro podem despertar a paixão pela literatura

Mergulhados na sopa de letrinhas

DA REPORTAGEM LOCAL
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Para leitores de fôlego, uma música, um filme ou uma peça de teatro podem ser a faísca para detonar o interesse por uma nova obra, levando-os a mais livros.
Foi em um programa de música na televisão que Marcelo Altenfelder Silva, 16, aluno do primeiro ano do Vera Cruz, ouviu pela primeira vez alguém declamar Maiakóvski (1894-1930). Como não achou o livro na estante de casa, pegou um exemplar com uma amiga.
A leitura de obras que não são cânones da literatura mundial pode levar esses devoradores de livros a novas buscas pelo universo da literatura.
Por exemplo, Matias Gurbanov, 16, do segundo ano do Colégio Miguel de Cervantes, depois de ler "O Senhor dos Anéis", de Tolkien (1892-1973), passou a vasculhar sebos no centro de São Paulo à procura de livros de poesia e mitologia nórdica. "O legal é que um livro sempre leva a gente a procurar outro."
Já Alexandre Watanabe, 15, da oitava série da Escola da Vila, aprendeu a estabelecer relações entre obras. Nas aulas de filosofia, estudava Platão. Ao mesmo tempo, lia "O Retrato de Dorian Gray", de Oscar Wilde (1854-1900). "No meio da leitura, pensei: nossa, isso tem tudo a ver com Platão. Daí voltei a estudar esse filósofo grego e fiz uma relação entre as duas leituras."
Frequentador de livrarias, Victor Arruda Pereira de Oliveira, 16, do primeiro ano do Porto Seguro, compra livros com os pais ou com os amigos. Foi assim que descobriu "A Ilha", de Fernando Morais. Em seguida, rumou para "Se me Deixam Falar", de Domitila Chungara, e chegou a "Os Dez Dias que Abalaram o Mundo", de John Reed (1887-1920).
A cada dois meses, Julio Mitre, 15, do primeiro ano do Dante Alighieri, acompanha seus pais a uma livraria. "Gosto de Agatha Christie (1890-1976), e meu livro predileto é "Morte no Nilo"."
A consequência dessa entrega à literatura é uma evidente modificação no modo de pensar e de agir. Ana Frate Bolliger, 15, oitava série do Gracinha, acaba de ler "Feliz Ano Velho", de Marcelo Rubens Paiva, articulista da Folha. Ela é enfática: "Quando a gente se identifica com um livro, a nossa essência se transforma. Comparamos nossa vida com a dos personagens e aprendemos como enfrentar o cotidiano".
Murilo do Amaral Pontes de Camargo, 15, do primeiro ano do São Domingos, descobriu seu lado crítico em "Não Verás País Nenhum", de Inácio de Loyola Brandão. "Ele faz uma análise contundente da sociedade."
Com os estímulos à leitura aflorados, chega uma hora em que o livro roubado da estante dos pais tem um gostinho todo especial. Pode figurar na lista dos títulos proibidos em casa, por falta de maturidade. Mas pode ser o mais instigante.
Aliás, é na biblioteca de casa que a maioria dos jovens que realmente são apaixonados por literatura vai descobrir obras que o levarão a saber se expressar.
No último assalto de Natalia Quadros, 14, aluna da oitava série do Gracinha, ela pegou quatro obras de Nelson Rodrigues (1918-1941). "Gosto muito de livros fortes, mas minha mãe fica muito brava quando faço um ataque inesperado à sua biblioteca." Na estante do pai, com cerca de 2.000 títulos, Pedro Costa, 16, aluno do primeiro ano do Vera Cruz, encontrou "Cem Anos de Solidão", de Gabriel García Márquez, e "A Sangue Frio", de Truman Capote (1924-1984), entre outros. "Meu pai lê muito e é comum conversarmos sobre literatura, como aconteceu nas férias."
Isadora Menezes, 13, da sétima série do Colégio Santo Inácio, não precisou atacar subitamente a biblioteca de casa. Não pensou duas vezes ao aceitar o exemplar de "Macbeth", de William Shakespeare (1564-1616), que o irmão lhe ofereceu. "Comecei a ler na escola, mas muitos dos livros não tinham a ver comigo. Adorei a sugestão dele, porque é um livro mais difícil." (MARIJÔ ZILVETI e ANTONIO ARRUDA)


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