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ESPECIAL
Livros, filmes e o teatro podem despertar a paixão pela literatura
Mergulhados na sopa de letrinhas
DA REPORTAGEM LOCAL
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Para leitores de fôlego, uma música, um
filme ou uma peça de teatro podem
ser a faísca para detonar o interesse por
uma nova obra, levando-os a mais livros.
Foi em um programa de música na televisão que Marcelo Altenfelder Silva, 16,
aluno do primeiro ano do Vera Cruz, ouviu pela primeira vez alguém declamar
Maiakóvski (1894-1930). Como não
achou o livro na estante de casa, pegou
um exemplar com uma amiga.
A leitura de obras que não são cânones
da literatura mundial pode levar esses
devoradores de livros a novas buscas pelo universo da literatura.
Por exemplo, Matias Gurbanov, 16, do
segundo ano do Colégio Miguel de Cervantes, depois de ler "O Senhor dos
Anéis", de Tolkien (1892-1973), passou a
vasculhar sebos no centro de São Paulo à
procura de livros de poesia e mitologia
nórdica. "O legal é que um livro sempre
leva a gente a procurar outro."
Já Alexandre Watanabe, 15, da oitava
série da Escola da Vila, aprendeu a estabelecer relações entre obras. Nas aulas de
filosofia, estudava Platão. Ao mesmo
tempo, lia "O Retrato de Dorian Gray",
de Oscar Wilde (1854-1900). "No meio
da leitura, pensei: nossa, isso tem tudo a
ver com Platão. Daí voltei a estudar esse
filósofo grego e fiz uma relação entre as
duas leituras."
Frequentador de livrarias, Victor Arruda Pereira de Oliveira, 16, do primeiro
ano do Porto Seguro, compra livros com
os pais ou com os amigos. Foi assim que
descobriu "A Ilha", de Fernando Morais.
Em seguida, rumou para "Se me Deixam
Falar", de Domitila Chungara, e chegou a
"Os Dez Dias que Abalaram o Mundo",
de John Reed (1887-1920).
A cada dois meses, Julio Mitre, 15, do
primeiro ano do Dante Alighieri, acompanha seus pais a uma livraria. "Gosto de
Agatha Christie (1890-1976), e meu livro
predileto é "Morte no Nilo"."
A consequência dessa entrega à literatura é uma evidente modificação no modo de pensar e de agir. Ana Frate Bolliger, 15, oitava série do Gracinha, acaba
de ler "Feliz Ano Velho", de Marcelo Rubens Paiva, articulista da Folha. Ela é enfática: "Quando a gente se identifica com
um livro, a nossa essência se transforma.
Comparamos nossa vida com a dos personagens e aprendemos como enfrentar
o cotidiano".
Murilo do Amaral Pontes de Camargo,
15, do primeiro ano do São Domingos,
descobriu seu lado crítico em "Não Verás País Nenhum", de Inácio de Loyola
Brandão. "Ele faz uma análise contundente da sociedade."
Com os estímulos à leitura aflorados,
chega uma hora em que o livro roubado
da estante dos pais tem um gostinho todo especial. Pode figurar na lista dos títulos proibidos em casa, por falta de maturidade. Mas pode ser o mais instigante.
Aliás, é na biblioteca de casa que a
maioria dos jovens que realmente são
apaixonados por literatura vai descobrir
obras que o levarão a saber se expressar.
No último assalto de Natalia Quadros,
14, aluna da oitava série do Gracinha, ela
pegou quatro obras de Nelson Rodrigues
(1918-1941). "Gosto muito de livros fortes, mas minha mãe fica muito brava
quando faço um ataque inesperado à sua
biblioteca." Na estante do pai, com cerca
de 2.000 títulos, Pedro Costa, 16, aluno
do primeiro ano do Vera Cruz, encontrou "Cem Anos de Solidão", de Gabriel
García Márquez, e "A Sangue Frio", de
Truman Capote (1924-1984), entre outros. "Meu pai lê muito e é comum conversarmos sobre literatura, como aconteceu nas férias."
Isadora Menezes, 13, da sétima série do
Colégio Santo Inácio, não precisou atacar subitamente a biblioteca de casa. Não
pensou duas vezes ao aceitar o exemplar
de "Macbeth", de William Shakespeare
(1564-1616), que o irmão lhe ofereceu.
"Comecei a ler na escola, mas muitos dos
livros não tinham a ver comigo. Adorei a
sugestão dele, porque é um livro mais difícil."
(MARIJÔ ZILVETI e ANTONIO ARRUDA)
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