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São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 2003

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TEATRO

Jovens discutem "Carro de Paulista" com seus autores

Zonas leste e sul se encontam no palco

TIAGO DÉCIMO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Depois de descolar "uma barca" (carro) com o primo e uma grana com um amigo, o que poderia dar errado numa balada nos Jardins? Para quem não é da área, muita coisa. "As "minas" só ignoram, a gente é barrado na porta dos lugares, tem de voltar cedo para casa por causa da distância... Não vale a pena", diz o estudante Fábio Alencar, 18.
A convite da Folha, Alencar e alguns colegas da ONG Estação da Arte -que atende a jovens da zona leste- foram assistir à peça "Carro de Paulista", dirigida por Jairo Mattos, em cartaz até a próxima quinta-feira (20/11) no Teatro Faap (r. Alagoas, 903, tel. 0/xx/11/3662-7233, ingresso: R$ 20). Na comédia, quatro jovens da zona leste resolvem ir à caça nos Jardins. E quebram a cara.
Os autores, Mário Viana, 43, e Alessandro Marson, 34, tentam mostrar que, apesar de morarem na mesma cidade, os jovens vivem em "mundos diferentes, cada um com costumes e códigos próprios", segundo Viana. "No fim, todo mundo já passou por cenas como aquelas." Após a peça, Alencar e os estudantes Mariana Vilela Nascimento, 16, Cecília Vilela Nascimento, 15, Emerson Godoy Costa dos Santos, 15, Juliana Pereira Vieira, 18, Cintia Fernandes Giordano, 16, Leonardo Aurichio Silveira, 18, e Leandro Antonio da Silva, 16, bateram um papo com os autores, o diretor e os atores da peça. Alguns, como Alencar, 18, nunca haviam ido ao teatro. "Não saio muito da minha área", diz. Leia abaixo trechos da conversa.
 

Alencar - De onde surgiu a idéia de montar essa peça?

Viana - Fazia tempo que queria escrever uma peça assim, que mostrasse de forma divertida como são diferentes os universos de uma cidade grande. Você concorda?

Alencar - O lance é que cada um vive a própria realidade. A gente não tem dinheiro para ir para a zona sul. Aí se diverte com o que tem perto... Pegar ônibus lotado para atravessar a cidade e ter de voltar mais cedo por causa do transporte, "tô fora". Só de ficar trocando idéia na rua a gente já está feliz.

Santos - É... E quando conseguimos ir para a zona sul, não deixam a gente entrar nos lugares...

Alencar - Também não tem de perder a noite com isso. Não deixou entrar? Vai para outra.

Santos - Tem um monte de lugar "da hora" na "ZL". Prefiro ficar por lá, mesmo.

Alencar - O único lance é que, depois de um tempo, você só vê as mesmas pessoas... Tem de variar um pouco.

Vieira - Além disso, tem um monte de coisas que só tem na zona sul. Os shows de graça do Ibirapuera, por exemplo. Já fui a alguns, e eles são muito "da hora". Isso não tem na "ZL". É o maior trabalho chegar ao parque. Voltar, então... Mas vale a pena.

Santos - Ah... Mas aí, quando a gente vai, tem sempre essa coisa da "mina" metida, dos caras que ficam olhando torto... Isso rola direto.

Vieira - Pois é... Na peça, fica parecendo que as meninas da zona sul são melhores que as da zona leste...

Marson - A gente só quis mostrar o que os meninos falam quando estão sozinhos. Eles é que fantasiam que o que está mais longe é melhor.

Viana - Claro que a gente exagera um pouco nos palavrões, mas as conversas de quatro adolescentes em um carro não fogem muito disso...

Vieira - Eu gostei daquela cena da menina que revida a cantada dos caras...

Viana - Aquela passagem é meio uma vingança das mulheres. Toda menina passa por aquela coisa de passar um cara e mexer com ela, tentar puxar um papo estranho...

Silveira- E em quem vocês (os atores) se basearam para fazer os personagens?

Daniel Tavares (ator) - Em nós mesmos. Na verdade, o próprio texto não é só sobre as diferenças entre zona leste e zona sul de São Paulo. Qualquer cidade grande é assim: tem os grupos, as tribos. Nós mesmos (os atores) temos nossas diferenças culturais, por isso não tivemos problemas para criar os personagens...


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