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São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 2003

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MÚSICA

Terceiro CD do pernambucano fecha trilogia com Apollo 9

Otto lança desafio à gravidade

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com o lançamento de "Sem Gravidade", seu terceiro disco, o cantor pernambucano Otto, 35, conclui uma trilogia -feita em parceria com o produtor Apollo 9. Nela, Otto consegue acomodar o mangue beat e os mais diversos ritmos tradicionais brasileiros em uma única metrópole, um tanto confusa e caótica, como as grandes cidades brasileiras, mas ainda moderna e viva.
"Sem Gravidade", assim como os anteriores "Samba pra Burro" (1999) e "Condom Black" (2001), é música popular brasileira contemporânea e cosmopolita, casada com a eletrônica sem exageros nem modismos, leve e repleta de camadas, de harmonia sobre percussão. "Foi Apollo 9 quem surgiu para mim com seus computadores e com a eletrônica. Mas, logo no meu primeiro show, percebi que não era um cara eletrônico. Amo a eletrônica, mas sou cantor, poeta, amo shows, amo banda, amo músicos. Podem vir 300 DJs que, apesar de saber da importância deles, escolhi o outro caminho. Até mesmo porque, se acabar o cantor e o músico, de onde os DJs vão tirar melodias?", justifica ele.
E, assim, Otto segue defendendo as raízes musicais do país sem saudosismo, armado de brasilidade até os dentes. "Sou um cara privilegiado. Faço uma arte brasileira, com uma poesia brasileira, com ritmos daqui e com coisas contemporâneas. Não me apego aos apelos. Mas esse caminho é duro e traz uma certa melancolia para a minha música", afirma, ressentido com o que julga ser falta de reconhecimento. "Não posso me achar culpado porque minha música não toca por aí. Dói no bolso. Dói na alma. Mas tudo o que faço é ainda muito novo. Na minha vida, escolhi tocar pandeiro e jogar futebol. Tudo coisa de crioulo, e eu sou branco. Sempre levei na cabeça. Sempre fui minoria, estrangeiro", reclama, rechaçando a mania do brasileiro de achar que tudo o que é bom está fora daqui. "Sou um cara que abraça o Brasil em ritmos. Não estou nem aí para qualquer música gringa. Claro que gosto de muita coisa, mas não ligo para essa coisa de que a gente tem de ter referência gringa. Eu odeio essa gente que sabe todos os integrantes de mil bandas gringas, não sabe nada daqui e ainda esculhamba a música brasileira. Não alimento essa cultura colonizada."

Oblíquo
Inspirada em três viagens feitas pelo compositor (para a Amazônia, para a Chapada Diamantina e para o Vale da Morte, nos EUA), a poesia oblíqua de Otto, antes mais direta em suas críticas -como em "TV a Cabo"- surge, como o título do CD anuncia, sublimada e vaporosa. Cheia de alusões àquilo que é imaterial (a alma, a luz, o amor, a mente), mesmo ao tratar de um tema concreto como a Guerra do Iraque: "Cintilando no caminho/ Sai do arco uma flecha/ Em seu contorno fogo/ Corpo que pode explodir", canta ele sobre mísseis e homens-bomba.
O disco tem participações de Pupilo (Nação Zumbi) e Dadi (Os Novos Baianos) no comando da bateria e do baixo, respectivamente, em todas as faixas. B Negão surge em "Amarelo Manga", que integra a trilha sonora do filme de Cláudio Assis. E Rita Lee e Beto Lee entram nos vocais e na guitarra de "Tento Entender". Mas a presença mais marcante é a da namorada de Otto, a atriz Alessandra Negrini, que, além de cantar em três faixas, é co-autora de "História de Fogo".
Sem ser baba nem muito complexo, Otto faz planos de mudanças para o próximo trabalho. "Tenho 35 anos. Não faço música para uma tribo adolescente. Faço música para pessoas da minha idade. Quando vejo uma molecada que gosta do disco, logo digo: "isso aí vai dar trabalho..."."


Para ouvir trechos das músicas que estão no CD "Sem Gravidade", de Otto, ligue para 0/ xx/11/3471-4000 e digite 4 - Música. Custo: só o da ligação.


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