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MÚSICA
Terceiro CD do pernambucano fecha trilogia com Apollo 9
Otto lança desafio à gravidade
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
Com o lançamento de "Sem Gravidade", seu terceiro disco, o cantor pernambucano Otto, 35, conclui
uma trilogia -feita em parceria
com o produtor Apollo 9. Nela, Otto
consegue acomodar o mangue beat
e os mais diversos ritmos tradicionais brasileiros em uma única metrópole, um tanto confusa e caótica,
como as grandes cidades brasileiras, mas ainda moderna e viva.
"Sem Gravidade", assim como os
anteriores "Samba pra Burro"
(1999) e "Condom Black" (2001), é
música popular brasileira contemporânea e cosmopolita, casada com
a eletrônica sem exageros nem modismos, leve e repleta de camadas,
de harmonia sobre percussão. "Foi
Apollo 9 quem surgiu para mim
com seus computadores e com a
eletrônica. Mas, logo no meu primeiro show, percebi que não era
um cara eletrônico. Amo a eletrônica, mas sou cantor, poeta, amo
shows, amo banda, amo músicos.
Podem vir 300 DJs que, apesar de
saber da importância deles, escolhi
o outro caminho. Até mesmo porque, se acabar o cantor e o músico,
de onde os DJs vão tirar melodias?",
justifica ele.
E, assim, Otto segue defendendo
as raízes musicais do país sem saudosismo, armado de brasilidade até
os dentes. "Sou um cara privilegiado. Faço uma arte brasileira, com
uma poesia brasileira, com ritmos
daqui e com coisas contemporâneas. Não me apego aos apelos. Mas
esse caminho é duro e traz uma certa melancolia para a minha música", afirma, ressentido com o que
julga ser falta de reconhecimento.
"Não posso me achar culpado porque minha música não toca por aí.
Dói no bolso. Dói na alma. Mas tudo o que faço é ainda muito novo.
Na minha vida, escolhi tocar pandeiro e jogar futebol. Tudo coisa de
crioulo, e eu sou branco. Sempre levei na cabeça. Sempre fui minoria,
estrangeiro", reclama, rechaçando a
mania do brasileiro de achar que tudo o que é bom está fora daqui.
"Sou um cara que abraça o Brasil
em ritmos. Não estou nem aí para
qualquer música gringa. Claro que
gosto de muita coisa, mas não ligo
para essa coisa de que a gente tem
de ter referência gringa. Eu odeio
essa gente que sabe todos os integrantes de mil bandas gringas, não
sabe nada daqui e ainda esculhamba a música brasileira. Não alimento essa cultura colonizada."
Oblíquo
Inspirada em três viagens feitas
pelo compositor (para a Amazônia,
para a Chapada Diamantina e para o
Vale da Morte, nos EUA), a poesia
oblíqua de Otto, antes mais direta
em suas críticas -como em "TV a
Cabo"- surge, como o título do CD
anuncia, sublimada e vaporosa.
Cheia de alusões àquilo que é imaterial (a alma, a luz, o amor, a mente),
mesmo ao tratar de um tema concreto como a Guerra do Iraque:
"Cintilando no caminho/ Sai do arco uma flecha/ Em seu contorno fogo/ Corpo que pode explodir", canta
ele sobre mísseis e homens-bomba.
O disco tem participações de Pupilo (Nação Zumbi) e Dadi (Os Novos Baianos) no comando da bateria
e do baixo, respectivamente, em todas as faixas. B Negão surge em
"Amarelo Manga", que integra a trilha sonora do filme de Cláudio Assis. E Rita Lee e Beto Lee entram nos
vocais e na guitarra de "Tento Entender". Mas a presença mais marcante é a da namorada de Otto, a
atriz Alessandra Negrini, que, além
de cantar em três faixas, é co-autora
de "História de Fogo".
Sem ser baba nem muito complexo, Otto faz planos de mudanças para o próximo trabalho. "Tenho 35
anos. Não faço música para uma tribo adolescente. Faço música para
pessoas da minha idade. Quando
vejo uma molecada que gosta do
disco, logo digo: "isso aí vai dar trabalho..."."
Para ouvir trechos das músicas que estão no
CD "Sem Gravidade", de Otto, ligue para 0/
xx/11/3471-4000 e digite 4 - Música. Custo:
só o da ligação.
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