São Paulo, segunda-feira, 18 de novembro de 2002

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Dave Grohl em dois momentos: magistral e ótimo

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA

Há um CD magistral nas lojas: "Songs for the Deaf", do Queens of the Stone Age.
Há um ótimo CD nas lojas: "One by One", do Foo Fighters.
Nome comum a ambos: Dave Grohl, 33. No Queens of the Stone Age, ele toca bateria. No Foo Fighters, ele manda. E se sai perfeitamente nas duas funções.
Primeiro, "Songs for the Deaf", fenomenal na sua síntese da paranóia americana, jogo de opostos que tenta aproximar o desejo de liberdade que só se realiza no asfalto e o individualismo suicida que acontece entre as quatro paredes de um apartamento frio.
O excepcional álbum do Queens of the Stone Age rejeita de pronto semelhanças com o peso vazio do chamado nu metal, dominante nas rádios. Expressões antigas, como hard rock e heavy metal, explicam melhor esse grupo, na verdade uma dupla -Josh Homme e Nick Oliveri-, assessorada por convidados ultraVIP, como, nesse disco, Dave Grohl e o vocalista Mark Lanegan (ex-Screaming Trees).
"Songs for the Deaf" tem uma sequência de três canções -"Hangin" Tree", "Go with the Flow" e "Gonna Leave You"- que qualquer outro grupo de rock mataria a família inteira para conseguir em um único CD.
Seu som parece querer se expandir, como pedem as paisagens abertas da Costa Oeste dos EUA, mas ao mesmo tempo reverbera, sem saída, em um pesadelo claustrofóbico de neve, tédio e drogas muito pesadas.
Entre muitas das faixas de "Songs for the Deaf", um truque: pequenas vinhetas ironizando transmissões de rádio, dardos que a banda dispara contra as estações que tocam o mesmo do mesmo (soa familiar?).
Se você ouviu, atualmente, qualquer coisa que tenha parecido inovadora, escute, também, "Songs for the Deaf", do Queens of the Stone Age. Sua vida pode mudar.
O que nos leva à segunda encarnação de Dave Grohl, o infinitamente menos inovador, mas nem por isso menos agradável, "One by One", do Foo Fighters, que ele lidera.
Aqui, Grohl compõe tudo, toca guitarra e canta. Deixa de ser o maior baterista da face da Terra, sua função no Nirvana (ex-banda) e no QOTSA.
Grohl sempre se mostrou muito à vontade lapidando gemas pop como "My Hero", "Everlong" e "Learn to Fly", algumas de suas canções mais famosas.
Agora, envereda por caminhos mais pesados, sombrios, obviamente influenciados pela colaboração com o QOTSA. A vocação estradeira, no entanto, permanece no disco novo, em faixas como "Times Like These" e "Halo".
Se "Songs for the Deaf" ("Canções para os Surdos") retrata um mundo de impossibilidade diante da imensidão, "One by One" ("Um a Um") captura essa mesma vastidão, sorri na "highway". QOTSA está trancado no quarto. Foo Fighters sente o vento nos cabelos. Não perca nenhum dos dois.



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