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Dave Grohl em dois momentos: magistral e ótimo
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
Há um CD magistral nas lojas: "Songs for the
Deaf", do Queens of the Stone Age.
Há um ótimo CD nas lojas: "One by One",
do Foo Fighters.
Nome comum a ambos: Dave Grohl, 33. No
Queens of the Stone Age, ele toca bateria. No
Foo Fighters, ele manda. E se sai perfeitamente nas duas funções.
Primeiro, "Songs for the Deaf", fenomenal
na sua síntese da paranóia americana, jogo de
opostos que tenta aproximar o desejo de liberdade que só se realiza no asfalto e o individualismo suicida
que acontece entre
as quatro paredes
de um apartamento frio.
O excepcional álbum do Queens of
the Stone Age rejeita de pronto semelhanças com o peso vazio do chamado nu metal, dominante nas rádios. Expressões antigas,
como hard rock e heavy metal, explicam melhor esse grupo, na verdade uma dupla
-Josh Homme e Nick Oliveri-, assessorada
por convidados ultraVIP, como, nesse disco,
Dave Grohl e o vocalista Mark Lanegan (ex-Screaming Trees).
"Songs for the Deaf" tem uma sequência de
três canções -"Hangin" Tree", "Go with the
Flow" e "Gonna Leave You"- que qualquer
outro grupo de rock mataria a família inteira
para conseguir em um único CD.
Seu som parece querer se expandir, como
pedem as paisagens abertas da Costa Oeste
dos EUA, mas ao mesmo tempo reverbera,
sem saída, em um pesadelo claustrofóbico de
neve, tédio e drogas muito pesadas.
Entre muitas das faixas de "Songs for the
Deaf", um truque: pequenas vinhetas ironizando transmissões de rádio, dardos que a
banda dispara contra as estações que tocam o
mesmo do mesmo (soa familiar?).
Se você ouviu, atualmente, qualquer coisa
que tenha parecido inovadora, escute, também, "Songs for the Deaf", do Queens of the
Stone Age. Sua vida pode mudar.
O que nos leva à segunda encarnação de Dave Grohl, o infinitamente menos inovador,
mas nem por isso menos agradável, "One by
One", do Foo Fighters, que ele lidera.
Aqui, Grohl compõe tudo, toca guitarra e
canta. Deixa de ser o maior baterista da face
da Terra, sua função no Nirvana (ex-banda) e
no QOTSA.
Grohl sempre se mostrou muito à vontade
lapidando gemas pop como "My Hero",
"Everlong" e "Learn to Fly", algumas de suas
canções mais famosas.
Agora, envereda por caminhos mais pesados, sombrios, obviamente influenciados pela
colaboração com o QOTSA. A vocação estradeira, no entanto, permanece no disco novo,
em faixas como "Times Like These" e "Halo".
Se "Songs for the Deaf" ("Canções para os
Surdos") retrata um mundo de impossibilidade diante da imensidão, "One by One"
("Um a Um") captura essa mesma vastidão,
sorri na "highway".
QOTSA está trancado
no quarto. Foo Fighters sente o vento nos
cabelos. Não perca nenhum dos dois.
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