São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2004

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BALÃO

Morte nas HQs

DIEGO ASSIS

A semana passada começou barra-pesada. Primeira HQ folheada: "O Vampiro que Ri", nova graphic novel da Conrad escrita por um tal de Suehiro Maruo, que provavelmente nunca teve aula de educação moral e cívica na escola -como eu tive. Necrofilia, estupros, mutilações, enfim, material nada recomendável para leitores menores de 18 anos ou, como alerta a contracapa do álbum, para "todos os que acham intolerável a existência de obras de Sade, Lautreamont, Crumb" etc.
Sobrevivi. Abri outro envelope. Era "Noite de Caça", álbum de estréia do guitarrista da banda Velhas Virgens nas HQs, com ilustrações góticas do também brasileiro Anderson Almeida. A história, que levou quase 15 anos para ficar pronta, acompanha um serial killer à espreita de suas vítimas, todas belas e atraentes. "É daquelas que, se espremer, sai sangue", como diria minha avó.
Mas o clima de fantasma só se completou quando olhei o nome da editora do livro: Brainstore. Ué, não tinha sido essa que os leitores já davam como morta, após o repentino "cancelamento" de títulos como "Preacher", "Hitman" e cia.? "Não falimos. Não existe cancelamento", insistiu do outro lado da linha Eloyr Pacheco, proprietário da pequena editora brazuca, responsável pela publicação de títulos do selo Vertigo há cinco anos. "O que vamos fazer é deixar de publicar revistas e publicar só álbuns."
Um calafrio cortou minha espinha. Era isso que vocês queriam? Pois bem, diferentemente do que acontece lá fora, onde os leitores vendem a mãe se necessário para ajudar a tirar as editoras pequenas do buraco, por aqui, parece que o pessoal quer mesmo é ser o último a jogar a pá de cal em cima do cadáver. Aqui se faz, aqui se paga. E, o que é pior: bem mais caro.

Comercialmente inviável?
Uma revista com histórias de Jaime Hernandez, Peter Milligan, Lorenzo Matotti e outros, numa única edição. Com espaço para divulgação de fanzines, reportagens sobre o lado bizarro das pessoas e música underground. Essa revista existiu, pouco mais de dez anos atrás, atendia pelo nome de "Animal" e é o tema de um ótimo artigo no site www.universohq.com.
Mais uma que acabou por ser "comercialmente inviável"...


@ - balao@folha.com.br


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