São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2010

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Guerra e Terror

SÉRIE MISTURA FOTO E QUADRINHOS E AJUDA A ENTENDER O AFEGANISTÃO DE ONTEM E DE HOJE

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA


Chegou ao Brasil o terceiro e último volume de "O Fotógrafo", um biscoito finíssimo que integra HQ e foto para contar a história da cobertura que o francês Didier Lefèvre fez de uma missão humanitária em 1986.
Lefèvre (1957-2007), o fotógrafo, tem sua aventura recontada a partir de uma bem sacada fusão narrativa entre os quadrinhos e os negativos revelados -naquela época, não havia fotografia digital.
Como as fotos não são exatamente primorosas, o atrativo principal do livro é entender melhor o Afeganistão.
Se você acompanha o noticiário, sabe que não se passa um dia sem que o nome desse distante país do sul asiático encabece reportagens sobre guerra e terror.
Como o leitor de "O Fotógrafo" verá, há mais de 20 anos já era assim (na verdade, há bem mais que isso). Ele enfoca o período em que os soviéticos ocupavam o Afeganistão, e os EUA forneciam armas e dinheiro para a resistência aos comunistas.
A missão que o fotógrafo documenta é da ONG Médicos Sem Fronteiras, que, com muita dificuldade, leva remédios e profissionais a recantos de uma grande área sem lei: a fronteira entre Paquistão e Afeganistão. Sabiamente, ONGs picaretas que serviam de fachada para tráfico de armas, drogas e espionagem também são retratadas -e elas existem, bem atuantes, até hoje.
Os afegãos são mostrados por lentes desassombradas.
Suas qualidades e defeitos estão lá, assim como o estranhamento do estrangeiro.
Não há o exagero ideológico de Joe Sacco, principal nome do jornalismo em quadrinhos. O retrato é bem fiel.
Num dado momento, Lefèvre esbarra num sujeito obcecado por saber sua religião. Gente que, depois que a União Soviética bateu em retirada e que os EUA desencanaram de mandar dinheiro, se viraram contra o Ocidente e hoje atendem pelo nome de Taleban, Al Qaeda e afins.
Aí está o problema dessa pequena lição de história e jornalismo. Não há no livro a intenção de fazer o "link" com o presente. É preciso estar em dia com a história do lugar ou ao menos fazer um bom Google antes de começar a ler. Faça. Vale a pena.

IGOR GIELOW fez coberturas de guerra no Afeganistão e no Paquistão (2001, 2008 e 2009), sempre pela Folha.


O FOTÓGRAFO - VOLUME 3

Didier Lefèvre (fotos), Emmanuel Guibert (quadrinhos), Frédéric Lemercier (cores)
Editora Conrad
Quanto R$ 46



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