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saúde
É duro, mas desce!
Sem necessidade, jovens tomam
remédios para ereção; há riscos de
vício, desmaios e queda de pressão
Ilustração Galvão
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LEANDRO FORTINO
LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL
O jovem estudante de
comunicação
Evandro (nome fictício), 21, gosta de
viver perigosamente. Sempre que cai na balada,
mistura tudo o que vê pela frente: álcool, drogas pesadas -como GHB, crystal method e ecstasy- e leves -como a maconha. Há pouco tempo, depois
de uma dessas noitadas, saiu
acompanhado de duas pessoas.
Era uma manhã de domingo.
Ele parou numa farmácia, onde
comprou uma caixa de um dos
remédios para disfunção erétil
que existem no mercado.
Apesar de trazer em sua caixa
uma tarja em vermelho chamativo na qual está escrito "Venda
sob prescrição médica", nada
foi pedido a Evandro, cara de
moleque, que pagou cerca de
R$ 60 por dois comprimidos.
"Decidi tomar porque tinha
usado um monte de drogas e,
para fazer o pipi funcionar, resolvi experimentar. Minha ereção permaneceu por pelo menos quatro horas", conta.
Casos como o de Evandro,
por mais assustadores que pareçam ser, têm aumentado nos
últimos anos, conforme alertam psiquiatras e urologistas ao
Folhateen. "Um jovem que toma um remédio para disfunção
erétil que não foi estudado nessa população está correndo riscos de efeitos adversos. A minha orientação é sempre de
que os jovens não utilizem,
porque não sabemos os riscos
possíveis", afirma o urologista
Fernando Almeida, da Unifesp.
"No Brasil, o problema acontece porque nós não temos controle. Essa medicação só poderia ser vendida com receita."
Vício
Para a psiquiatra Carmita
Abdo, coordenadora do ProSex
(Projeto Sexualidade) do Hospital das Clínicas, o principal
risco para o jovem é o de dependência psicológica da droga.
"Ele pode acreditar que não
terá uma ereção sem o remédio." A médica observa três
perfis de jovens usuários:
1) Indivíduos que gostam de experimentar tudo, inclusive drogas (como o Evandro).
2) Jovens competitivos que
querem impressionar a parceira com a performance sexual.
3) Os inseguros e tímidos, com
baixa auto-estima.
"No fundo, os três precisam
de um acompanhamento psicoterápico", afirma Abdo.
Portanto, para jovens saudáveis, sem problemas de ereção,
esse tipo de remédio não traz
benefícios. O efeito é muito
mais psicológico do que real.
"Quando o indivíduo tem
ereções normais, a melhora
após a ingestão de Viagra se dá
mais por efeito psicológico do
que pela ação efetiva da droga",
diz o urologista João Afif.
Nos blogs e fóruns da internet, o que se vê é muito papo e
pouco conhecimento. "Só toma
quem quiser zoar com umas vagabundas bem pervertidas. Tomar para ficar com uma mina
só é besteira. Ela vai cansar e
você vai estar lá firme e forte",
declara o nick "sveenom"
"Parece que 10% das pessoas
podem ter dor de cabeça. E
quem tem problemas de coração e hipertensão não pode tomar", chuta "natanaelcd". Outros ficam encucados: "Tenho
muita vontade de tomar, mas
tenho medo de dar piripaque
no coração", diz "chikens".
O remédio é contra-indicado
para quem sofre de doenças
cardíacas. E muitos jovens não
tem como saber isso, a menos
que consultem um especialista.
O jovem Marcelo se encaixa
no perfil de quem usa para impressionar a parceira com uma
heróica performance pós-balada. Carioca, tomou pela primeira vez no ano passado, por
curiosidade. Ele ganhou metade de um comprimido de Viagra de um amigo.
Hoje, toma "para dar conta
de uma parceira diferente a cada dia da semana".
Ele já leu a bula do remédio,
sabe dos efeitos colaterais e não
se preocupa com os riscos de
dependência psicológica. "Não
uso esse treco todo dia. É só para impressionar. Normalmente, nas duas ou três primeiras
vezes com a menina."
Uma das justificativas de
Marcelo para tomar remédios
para disfunção erétil quase todo fim de semana é a sua "vida
sexual extremamente ativa".
"Saio com várias mulheres. Conheço pessoas na noite que topam ir para o motel na hora."
Por isso, ele não se preocupa
em misturar o medicamento
com álcool. "Normalmente, eu
bebo cerveja quando saio. Se eu
achar que devo, mesmo depois
de beber,
eu tomo."
O uso do medicamento
na balada, associado a altas doses de álcool de e outras drogas,
como ecstasy e cocaína, também é comum e perigoso. "Há
risco de interação medicamentosa, pois não se sabe exatamente a composição dessas
drogas", diz a psiquiatra Sandra
Scivoletto, chefe do Ambulatório de Adolescentes e Drogas da
Fac. de Medicina da USP.
Mas por trás de um garanhão
como Marcelo se esconde um
jovem tímido e inseguro. "O remédio dá uma segurança
maior. Isso, de certa forma, mexe com a parceira, ela fica estimulada e quer você de novo. Aí
começam as mentiras, né!?"
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