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mundo
Macacão laranja PP
De Guantánamo, jovem
preso alerta sobre abusos na
polêmica prisão americana
JULIANA CUNHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
TARSO ARAUJO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 2002, quando tinha 15 anos, o africano Mohammad al
Gharani, do Chade,
foi preso por soldados dos EUA, acusado de ser
mensageiro da Al Qaeda e de
ter lutado no Afeganistão contra tropas americanas que buscavam Osama bin Laden.
No mesmo ano, ele foi transferido para a prisão na base
americana de Guantánamo, em
Cuba. Posto em isolamento,
tentou o suicídio sete vezes.
Hoje, aos 21, ele é um dos cinco jovens que foram detidos
quando tinham menos de 18
anos e que estão presos há mais
de seis anos, segundo a ONG
Human Rights Watch.
O detalhe é que nunca se provou nada contra Al Gharani.
Por isso, em janeiro passado,
o juiz americano Richard J.
Leon ordenou a libertação do
rapaz, alegando que as evidências contra o jovem são fracas
demais para mantê-lo preso.
Mas ele ainda não foi solto. O
máximo que conseguiu foi ser
transferido para o campo Iguana, área mais tranquila da cadeia em Cuba (veja ao lado).
No Iguana, os presos têm benefícios como o direito de ligar
para a família. Foi assim que Al
Gharani conseguiu falar, na semana passada, com um repórter da rede de TV Al Jazeera,
que driblou a vigilância do presídio fingindo ser tio do jovem.
Al Gharani tornou-se, assim,
a primeira pessoa a conceder
uma entrevista de dentro de
um dos campos de detenção da
base americana de Guantánamo e chamou a atenção para
mais uma polêmica em torno
de uma das prisões mais conhecidas do mundo.
Relatos do cárcere
Seu relato dá dimensão dos
abusos que os presos de Guantánamo sofrem. Ele conta que,
ao se recusar a sair da cela, seis
soldados o espancaram e esvaziaram duas latas de gás lacrimejante em seu rosto.
Quando caiu no chão, um dos
soldados golpeou seu rosto
contra o solo, quebrando um de
seus dentes. Sangrando, ele gritou para o oficial presente:
"Olhe o que eles estão fazendo!". Rindo, o oficial disse: "Estão fazendo seu trabalho".
Em entrevista ao Folhateen,
Stacy Sullivan, diretora da Human Rights Watch, disse não
saber se a entrevista apressará
sua libertação, porque "esse
processo é ao mesmo tempo
político e arbitrário".
Os outros quatro presos com
menos de 18 anos passam por
situações parecidas com a de Al
Gharani. O canadense Omar
Khadr, 22, chegou à prisão em
novembro de 2002, acusado de
ter atirado uma granada que
matou um soldado americano
no Afeganistão.
Segundo seu advogado -ao
qual só teve direito depois de
dois anos preso-, o jovem foi
torturado durante um interrogatório e, depois de urinar nas
calças, "foi usado como esfregão" para limpar o chão.
Fahd Abdullah Ahmed Ghazi, do Iêmen, preso em 2002,
aos 17, continua em Guantánamo, apesar de os americanos
terem decidido libertá-lo um
ano atrás. Tudo porque os EUA
e o Iêmen não chegaram a um
acordo sobre como e quando
ele deve retornar ao seu país.
O afegão Mohammad Jawad,
outro acusado de atirar uma
granada em um carro americano, chegou a Guantánamo em
2003, com 16 ou 17 anos (sua
idade exata é incerta).
Em novembro, o juiz responsável por seu caso decidiu que
as confissões de Jawad foram
obtidas sob tortura e deveriam
ser invalidadas.
O quinto jovem é Mohammad Khan Tumani, sírio, 23,
detido aos 17. Seus advogados
dizem que ele sofre abusos, como espancamentos, privação
de sono e ameaças à família.
Obama promete fechar
A Anistia Internacional, a
Cruz Vermelha e outras organizações de defesa dos direitos
humanos condenam os métodos de intimidação usados em
Guantánamo.
As ações na prisão eram justificadas pelo governo de George W. Bush como armas na
guerra ao terror. Mas uma das
primeiras ações de Barack
Obama na Presidência foi decretar o fechamento de Guantánamo até 2010.
O novo presidente norte-americano também garantiu
que os chamados "juveniles"
-presos que foram para Guantánamo com menos de 18
anos- terão prioridade.
ara Clive Stafford Smith, diretor da ONG Reprieve e advogado de Al Gharani, "esses jovens cresceram em confinamento solitário, com menos direitos do que as iguanas que
rastejam pela ilha".
Certamente é tarde para recuperar a adolescência perdida
desses jovens. Mas nunca o será para que abusos cometidos
em Guantánamo sejam devidamente investigados e punidos.
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