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mundo
"Essas prisões são insanas"
Livro de ficção inspirado
em jovens de Guantánamo
chega ao Brasil; para autora,
prisões são arbitrárias
Ricardo Mazalan /Associated Press
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Manifestante protesta em Bogotá, Colômbia, contra a prisão americana de Guantánamo, em Cuba; ONG relatou que jovens foram detidos no local, fato que inspirou livro
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Khalid tem 15 anos e
é um garoto inglês
comum, filho de
imigrantes paquistaneses e turcos radicados em uma cidadezinha
inglesa chamada Rochdale.
Khalid gosta de jogos de
computador e de passear no
parque com os amigos e espera
ansiosamente pelo dia em que
terá coragem de se declarar à
sua amiga irlandesa, Niamh.
Sua vida vai bem, até que ele e
sua família decidem visitar o
Paquistão. Seus pais são confundidos com terroristas, e o
garoto acaba sendo enviado
com eles a Guantánamo.
Esse é o mote do livro de ficção "Guantánamo Boy" (Agir,
312 págs., R$ 40, tradução de
Laura Alves e Aurélio Rebello),
que a inglesa Anna Perera decidiu escrever com base nas histórias que circularam na imprensa sobre os jovens presos
nos campos de detenção da base americana em Cuba.
A edição brasileira chega às
livrarias no fim deste mês. Em
entrevista à Folha, a autora
conta como e por que decidiu
escrever essa história.
(JULIANA CUNHA)
FOLHA - Quanto do livro é ficção?
ANNA PERERA - O personagem
principal, Khalid, é fictício, mas
suas experiências são baseadas
em acontecimentos reais.
Crianças e adultos inocentes
têm sido enviados a Guantánamo e a diversas outras prisões
secretas no mundo e torturados em nome da "justiça".
A ideia da história partiu do
relato de Clive Stafford Smith,
diretor da ONG Reprieve, de
que havia crianças presas em
Guantánamo. O objetivo do livro é mostrar que essas prisões
são insanas.
FOLHA - Você já esteve em Guantánamo?
PERERA - Não. Levou muito
tempo para que os advogados
tivessem permissão para entrar na prisão famosa, então
uma pessoa como eu não tem
chance de ser aceita como visitante. A região de Guantánamo,
em Cuba, é visitável, mas, apesar de eu já ter passado férias na
ilha, nunca me aventurei naquela direção.
FOLHA - Você teve algum tipo de
contato com os jovens presos lá?
PERERA - Isso não foi necessário. Havia bastante informação
disponível e detalhada sobre a
rotina das crianças presas.
FOLHA - Quando você teve conhecimento dessa situação?
PERERA - Foi no outono de
2006, quando fui a um evento
no Globe Theatre, em Londres,
que era em benefício da Reprieve. Foi lá que fiquei sabendo
que crianças estavam presas
em Guantánamo.
FOLHA - No Brasil, há uma discussão acalorada sobre que tipo de punição é mais adequada a menores
de idade que cometem crimes. Qual
é a sua opinião sobre isso?
PERERA - Adolescentes fazem o
que sabem. Quando têm educação melhor, fazem melhor. A
história provou que as prisões
não mudam a sociedade, as taxas de reincidência dos detentos são muito altas, então por
que continuamos usando esse
sistema arcaico?
A resposta é que há uma necessidade de punir, mesmo
quando sabemos que educação
e aquele tipo de autoestima que
vem do trabalho duro funcionam muito melhor.
Adolescentes que cometem
crimes muitas vezes estão marginalizados. Devemos achar
uma forma de reintroduzir um
sistema que recompense o esforço de contribuir com o mundo onde vivemos.
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