São Paulo, segunda-feira, 20 de abril de 2009

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mundo

"Essas prisões são insanas"

Livro de ficção inspirado em jovens de Guantánamo chega ao Brasil; para autora, prisões são arbitrárias

Ricardo Mazalan /Associated Press
Manifestante protesta em Bogotá, Colômbia, contra a prisão americana de Guantánamo, em Cuba; ONG relatou que jovens foram detidos no local, fato que inspirou livro

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Khalid tem 15 anos e é um garoto inglês comum, filho de imigrantes paquistaneses e turcos radicados em uma cidadezinha inglesa chamada Rochdale.
Khalid gosta de jogos de computador e de passear no parque com os amigos e espera ansiosamente pelo dia em que terá coragem de se declarar à sua amiga irlandesa, Niamh.
Sua vida vai bem, até que ele e sua família decidem visitar o Paquistão. Seus pais são confundidos com terroristas, e o garoto acaba sendo enviado com eles a Guantánamo.
Esse é o mote do livro de ficção "Guantánamo Boy" (Agir, 312 págs., R$ 40, tradução de Laura Alves e Aurélio Rebello), que a inglesa Anna Perera decidiu escrever com base nas histórias que circularam na imprensa sobre os jovens presos nos campos de detenção da base americana em Cuba.
A edição brasileira chega às livrarias no fim deste mês. Em entrevista à Folha, a autora conta como e por que decidiu escrever essa história. (JULIANA CUNHA)

 

FOLHA - Quanto do livro é ficção?
ANNA PERERA -
O personagem principal, Khalid, é fictício, mas suas experiências são baseadas em acontecimentos reais. Crianças e adultos inocentes têm sido enviados a Guantánamo e a diversas outras prisões secretas no mundo e torturados em nome da "justiça".
A ideia da história partiu do relato de Clive Stafford Smith, diretor da ONG Reprieve, de que havia crianças presas em Guantánamo. O objetivo do livro é mostrar que essas prisões são insanas.

FOLHA - Você já esteve em Guantánamo?
PERERA -
Não. Levou muito tempo para que os advogados tivessem permissão para entrar na prisão famosa, então uma pessoa como eu não tem chance de ser aceita como visitante. A região de Guantánamo, em Cuba, é visitável, mas, apesar de eu já ter passado férias na ilha, nunca me aventurei naquela direção.

FOLHA - Você teve algum tipo de contato com os jovens presos lá?
PERERA -
Isso não foi necessário. Havia bastante informação disponível e detalhada sobre a rotina das crianças presas.

FOLHA - Quando você teve conhecimento dessa situação?
PERERA -
Foi no outono de 2006, quando fui a um evento no Globe Theatre, em Londres, que era em benefício da Reprieve. Foi lá que fiquei sabendo que crianças estavam presas em Guantánamo.

FOLHA - No Brasil, há uma discussão acalorada sobre que tipo de punição é mais adequada a menores de idade que cometem crimes. Qual é a sua opinião sobre isso?
PERERA -
Adolescentes fazem o que sabem. Quando têm educação melhor, fazem melhor. A história provou que as prisões não mudam a sociedade, as taxas de reincidência dos detentos são muito altas, então por que continuamos usando esse sistema arcaico?
A resposta é que há uma necessidade de punir, mesmo quando sabemos que educação e aquele tipo de autoestima que vem do trabalho duro funcionam muito melhor.
Adolescentes que cometem crimes muitas vezes estão marginalizados. Devemos achar uma forma de reintroduzir um sistema que recompense o esforço de contribuir com o mundo onde vivemos.


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