São Paulo, segunda-feira, 20 de abril de 2009

Texto Anterior | Índice

ESCUTA AQUI

Álvaro Pereira Júnior - cby2k@uol.com.br

O chefe matador e a web do mal

JÁ DEFENDI várias vezes aqui a crítica destrutiva bem argumentada (ou, pelo menos, bem escrita). Nos últimos tempos, encontrei dois bons exemplos dessa prática saudável e pouco exercida no Brasil.
O primeiro é de um chefe de cozinha, Júlio Bernardo, de São Paulo. Não sei se ele é o melhor cozinheiro do país, mas com certeza é o mais desbocado. O segundo é o livro "O Culto ao Amador" (ed. Zahar, R$ 39, 208 págs., tradução: Maria Luiz Borges), de Andrew Keen, uma crítica ácida e profunda à internet.
Assim como o chefe Julinho, que embasa tecnicamente suas críticas, Keen fala da web como alguém que a conhece por dentro. Trabalhou na área muitos anos e esteve à frente de um site de música que, no fim do século passado, teve até algum sucesso -o Audiocafe.
Não conheço o blogueiro Julinho nem nunca fui ao restaurante dele. Mas é impossível não admirar alguém que vai ao novo endereço do chefe mais famoso do Brasil, Alex Atala, e descreve uma sobremesa à base de açaí como "nojenta". Julinho disseca cada prato, entrando em detalhes técnicos que só quem é do ramo conhece.
Andrew Keen não chega a usar essa palavra, mas certamente considera a internet "nojenta" ou, pelo menos, com potencial para ser. As críticas dele são de dois tipos: econômica e moral. A moral não me interessa, tipo "a web está corrompendo nossas criancinhas". Mas a econômica me parece precisa. Keen explica que, do ponto de vista da grana, a web não democratizou nada, muito pelo contrário. Um quarto de toda a verba publicitária da rede vai para uma única empresa, o Google. E o sucesso da Amazon.com dizimou livrarias nos EUA, algumas ótimas e tradicionais.
Seria bacana se a crítica musical brasileira tivesse um chefe Julinho ou um Andrew Keen. Alguém que escreve bem, com disposição para criticar de verdade e impecável conhecimento técnico. Não tem.

CD PLAYER

PLAY - chefjulinho.blogspot.com
Numa área em que ninguém quer confusão, chefe Julinho só quer confusão. Muito divertido de ler.

PLAY - "O Culto ao Amador", Andrew Keen
Ainda que o livro não fosse bom (é), valeria ler pela coragem de alguém não pagar pau para a web.

PLAY - O+S
Para não dizer que não falei de música, confira lá o som dessa dupla americana: myspace.com/opluss. Trip-folk?


Texto Anterior: Games: Filha de polvo monstrinha
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.