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Álvaro Pereira Júnior - cby2k@uol.com.br
O chefe matador e a web do mal
JÁ DEFENDI várias vezes aqui a crítica destrutiva bem argumentada (ou, pelo menos, bem escrita). Nos últimos tempos,
encontrei dois bons exemplos dessa prática
saudável e pouco exercida no Brasil.
O primeiro é de um chefe de cozinha, Júlio
Bernardo, de São Paulo. Não sei se ele é o melhor cozinheiro do país, mas com certeza é o
mais desbocado. O segundo é o livro "O Culto
ao Amador" (ed. Zahar,
R$ 39, 208 págs., tradução: Maria Luiz Borges),
de Andrew Keen, uma
crítica ácida e profunda à
internet.
Assim como o chefe Julinho, que embasa tecnicamente suas críticas,
Keen fala da web como alguém que a conhece por
dentro. Trabalhou na
área muitos anos e esteve
à frente de um site de música que, no fim do século
passado, teve até algum
sucesso -o Audiocafe.
Não conheço o blogueiro Julinho nem nunca fui
ao restaurante dele. Mas é
impossível não admirar
alguém que vai ao novo
endereço do chefe mais
famoso do Brasil, Alex
Atala, e descreve uma sobremesa à base de açaí como "nojenta". Julinho
disseca cada prato, entrando em detalhes técnicos que só quem é do ramo conhece.
Andrew Keen não chega a usar essa palavra,
mas certamente considera a internet "nojenta" ou,
pelo menos, com potencial para ser. As críticas dele são de dois tipos: econômica
e moral. A moral não me interessa, tipo "a web está corrompendo nossas criancinhas". Mas a econômica me
parece precisa. Keen explica que, do ponto de vista da
grana, a web não democratizou nada, muito pelo contrário. Um quarto de toda a verba publicitária da rede vai
para uma única empresa, o Google. E o sucesso da Amazon.com dizimou livrarias nos EUA, algumas ótimas e
tradicionais.
Seria bacana se a crítica musical brasileira tivesse um
chefe Julinho ou um Andrew Keen. Alguém que escreve
bem, com disposição para criticar de verdade e impecável conhecimento técnico. Não tem.
CD PLAYER
PLAY - chefjulinho.blogspot.com
Numa área em que ninguém quer
confusão, chefe Julinho só quer
confusão. Muito divertido de ler.
PLAY - "O Culto ao Amador", Andrew Keen
Ainda que o livro não fosse bom (é),
valeria ler pela coragem de alguém não
pagar pau para a web.
PLAY - O+S
Para não dizer que não falei de música,
confira lá o som dessa dupla americana:
myspace.com/opluss. Trip-folk?
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