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Perda de professores foi por causa de redução de salários e de aposentadorias, diz associação
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise por que passa o ensino superior
público no Brasil voltou a ganhar evidência com a greve dos alunos da FFLCH
(Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas), da USP. Contudo a raiz desse
problema é mais antiga e deve ser analisada como um processo que se tornou
mais agudo durante a década de 90.
O presidente da Adusp (Associação
dos Docentes da USP), Ciro Teixeira
Correia, 45, identifica a diminuição dos
valores dos salários e a questão das aposentadorias como os pontos centrais para entender por que faltam tantos professores na universidade mais bem conceituada do Estado. "Desde a década de 70,
os salários dos professores foram perdendo valor por meio de uma política de
redução salarial. Desde que a universidade se tornou autônoma [em 1989, quando deixou de ser administrada diretamente pelo Estado], os salários dos professores foram comprimidos. Um salário
de um professor-doutor é hoje de R$
3.860. Logo após a autonomia, esse salário era de cerca de R$ 6.000", diz.
Para Correia, a redução salarial causou
a saída em massa de professores na última década, atraídos pelos salários mais
altos em empresas e universidades privadas. Em 1989, a USP tinha 5.564 professores; hoje eles são 4.801. Os alunos, por
sua vez, passaram de 34.782 para 37.638.
O processo se repetiu nas outras públicas
estaduais, como a Unicamp e a Unesp.
Correia diz que o problema foi agravado pela forma como o governo conduziu
a reforma previdenciária em 1998. "O governo não sinalizou se os direitos que os
professores tinham, inclusive à aposentadoria integral, seriam respeitados. Durante a discussão desse projeto, pessoas
que tinham tempo para se aposentar e
que normalmente ficariam na universidade pediram a aposentadoria", diz.
No caso da FFLCH, Correia se diz
preocupado com as estratégias para minimizar o problema. "A reitoria tem dito
que quer preencher essa lacuna com
contratos temporários." A pró-reitora de
graduação, Sonia Penin, diz que "a universidade não estimula os contratos temporários, mas que essa pode ser uma forma de solucionar o problema em áreas
críticas como nas faculdades de história e
de letras". Os dois cursos passaram a ter
superlotação de salas de aula depois de a
mudança no currículo instituir o ciclo
básico há quatro anos.
Em relação ao problema geral da USP,
Sonia diz que realmente faltam professores, mas que a reitoria quer encontrar
uma solução justa. "Teremos de fazer
uma análise minuciosa das necessidades
das diferentes faculdades, mas será impossível atender a todos por questões orçamentárias", diz.
(GUILHERME WERNECK)
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