São Paulo, segunda-feira, 20 de maio de 2002

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Perda de professores foi por causa de redução de salários e de aposentadorias, diz associação

DA REPORTAGEM LOCAL

A crise por que passa o ensino superior público no Brasil voltou a ganhar evidência com a greve dos alunos da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas), da USP. Contudo a raiz desse problema é mais antiga e deve ser analisada como um processo que se tornou mais agudo durante a década de 90.
O presidente da Adusp (Associação dos Docentes da USP), Ciro Teixeira Correia, 45, identifica a diminuição dos valores dos salários e a questão das aposentadorias como os pontos centrais para entender por que faltam tantos professores na universidade mais bem conceituada do Estado. "Desde a década de 70, os salários dos professores foram perdendo valor por meio de uma política de redução salarial. Desde que a universidade se tornou autônoma [em 1989, quando deixou de ser administrada diretamente pelo Estado], os salários dos professores foram comprimidos. Um salário de um professor-doutor é hoje de R$ 3.860. Logo após a autonomia, esse salário era de cerca de R$ 6.000", diz.
Para Correia, a redução salarial causou a saída em massa de professores na última década, atraídos pelos salários mais altos em empresas e universidades privadas. Em 1989, a USP tinha 5.564 professores; hoje eles são 4.801. Os alunos, por sua vez, passaram de 34.782 para 37.638. O processo se repetiu nas outras públicas estaduais, como a Unicamp e a Unesp.
Correia diz que o problema foi agravado pela forma como o governo conduziu a reforma previdenciária em 1998. "O governo não sinalizou se os direitos que os professores tinham, inclusive à aposentadoria integral, seriam respeitados. Durante a discussão desse projeto, pessoas que tinham tempo para se aposentar e que normalmente ficariam na universidade pediram a aposentadoria", diz.
No caso da FFLCH, Correia se diz preocupado com as estratégias para minimizar o problema. "A reitoria tem dito que quer preencher essa lacuna com contratos temporários." A pró-reitora de graduação, Sonia Penin, diz que "a universidade não estimula os contratos temporários, mas que essa pode ser uma forma de solucionar o problema em áreas críticas como nas faculdades de história e de letras". Os dois cursos passaram a ter superlotação de salas de aula depois de a mudança no currículo instituir o ciclo básico há quatro anos.
Em relação ao problema geral da USP, Sonia diz que realmente faltam professores, mas que a reitoria quer encontrar uma solução justa. "Teremos de fazer uma análise minuciosa das necessidades das diferentes faculdades, mas será impossível atender a todos por questões orçamentárias", diz. (GUILHERME WERNECK)


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